14. Tornada adulta, a humanidade tem novas necessidades,
aspirações mais vastas e mais elevadas; compreende o
vazio com que foi embalada, a insuficiência de suas instituições
para lhe dar felicidade; já não encontra, no estado
das coisas, as satisfações legítimas a que se sente com
direito. Despoja-se, em consequência, das faixas infantis e
se lança, impelida por irresistível força, para as margens desconhecidas, em busca de novos horizontes menos
limitados.
É a um desses períodos de transformação, ou, se o
preferirem, de crescimento moral, que ora chega a humanidade.
Da adolescência chega ao estado viril. O passado já
não pode bastar às suas novas aspirações, às suas novas
necessidades; ela já não pode ser conduzida pelos mesmos
métodos; não mais se deixa levar por ilusões, nem
fantasmagorias; sua razão amadurecida reclama alimentos
mais substanciosos. É demasiado efêmero o presente; ela
sente que mais amplo é o seu destino e que a vida corpórea
é excessivamente restrita para encerrá-lo inteiramente. Por
isso, mergulha o olhar no passado e no futuro, a fim de
descobrir num ou noutro o mistério da sua existência e
de adquirir uma consoladora certeza.
E é no momento em que ela se encontra muito apertada
na esfera material, em que transbordante se encontra
de vida intelectual, em que o sentimento da espiritualidade
lhe desabrocha no seio, que homens que se dizem filósofos
pretendem encher o vazio com as doutrinas do nadismo e
do materialismo! Singular aberração! Esses mesmos homens,
que intentam impelir para a frente a humanidade,
se esforçam por circunscrevê-la no acanhado círculo da matéria,
donde ela anseia por escapar-se. Velam-lhe o aspecto
da vida infinita e lhe dizem, apontando para o túmulo: Nec
plus ultra!