15. Nesta ordem de ideias, ainda mais longe se pode ir. Por
muito racional que seja, essa teoria não resolve todas as
dificuldades da questão. Se observarmos os efeitos do instinto, notaremos, em
primeiro lugar, uma unidade de vistas e de conjunto, uma
segurança de resultados, que cessam logo que a inteligência o substitui. Demais, reconheceremos profunda sabedoria na apropriação tão perfeita e tão constante das faculdades instintivas às necessidades de cada espécie. Semelhante
unidade de vistas não poderia existir sem a unidade de pensamento e esta é incompatível com a diversidade das aptidões individuais; só ela poderia produzir esse conjunto tão
harmonioso que se realiza desde a origem dos tempos e em
todos os climas, com uma regularidade, uma precisão matemáticas, cuja ausência jamais se nota. A uniformidade
no que resulta das faculdades instintivas é um fato característico, que forçosamente implica
a unidade da causa. Se a
causa fosse inerente a cada individualidade, haveria tantas
variedades de instintos quantos fossem os indivíduos, desde a planta até o homem. Um efeito geral, uniforme e constante, há de ter uma causa geral, uniforme e constante;
um efeito que atesta sabedoria e previdência há de ter uma
causa sábia e previdente. Ora, uma causa dessa natureza,
sendo por força inteligente, não pode ser exclusivamente
material. Não se nos deparando nas criaturas, encarnadas ou
desencarnadas, as qualidades necessárias à produção de
tal resultado, temos que subir mais alto, isto é, ao próprio
Criador. Se nos reportamos à explicação dada sobre a maneira por que se pode conceber a ação providencial (cap. II,
n.o 24); se figurarmos todos os seres penetrados do fluido
divino, soberanamente inteligente, compreenderemos a sabedoria previdente e a unidade de vistas que presidem a
todos os movimentos instintivos que se efetuam para o bem
de cada indivíduo. Tanto mais ativa é essa solicitude, quanto
menos recursos tem o indivíduo em si mesmo e na sua inteligência. Por isso é que ela se mostra maior e mais absoluta
nos animais e nos seres inferiores, do que no homem.
Segundo essa teoria, compreende-se que o instinto seja
um guia seguro. O instinto materno, o mais nobre de todos, que o materialismo rebaixa ao nível das forças atrativas da matéria, fica realçado e enobrecido. Em razão das
suas consequências, não devia ele ser entregue às eventualidades caprichosas da inteligência e do livre-arbítrio.
Por intermédio da mãe, o próprio Deus vela pelas suas
criaturas que nascem
.