10. Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os
corpos. Esse fluido é o
éter ou matéria cósmica primitiva,
geradora do mundo e dos seres. São-lhe inerentes as forças
que presidiram às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo. Essas múltiplas
forças, indefinidamente variadas segundo as combinações
da matéria, localizadas segundo as massas, diversificadas
em seus modos de ação, segundo as circunstâncias e os
meios, são conhecidas na Terra sob os nomes de
gravidade, coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade
ativa
. Os movimentos vibratórios do agente são conhecidos
sob os nomes de
som, calor, luz, etc. Em outros mundos,
elas se apresentam sob outros aspectos, revelam outros caracteres desconhecidos na Terra e, na imensa amplidão
dos céus, forças em número indefinito se têm desenvolvido
numa escala inimaginável, cuja grandeza tão incapazes somos de avaliar, como o é o crustáceo, no fundo do oceano,
para apreender a universalidade dos fenômenos terrestres.* Ora, assim como só há uma substância simples, primitiva, geradora de todos os corpos, mas diversificada em
suas combinações, também todas essas forças dependem
de uma lei universal diversificada em seus efeitos e que,
pelos desígnios eternos, foi soberanamente imposta à
criação, para lhe imprimir harmonia e estabilidade.
* Tudo reportamos ao que conhecemos e do que escapa à percepção
dos nossos sentidos não compreendemos mais do que compreende
o cego de nascença acerca dos efeitos da luz e da utilidade dos
olhos. Possível é, pois, que noutros meios o fluido cósmico possua
propriedades, seja suscetível de combinações de que não fazemos
nenhuma ideia, produza efeitos apropriados a necessidades que desconhecemos, dando lugar a percepções novas ou a outros modos de
percepção. Não compreendemos, por exemplo, que se possa ver sem
os olhos do corpo e sem a luz. Quem nos diz, porém, que não existam outros agentes, afora a luz, aos quais são adequados organismos especiais? A vista sonambúlica, que nem a distância, nem
os obstáculos materiais, nem a obscuridade detêm, nos oferece um
exemplo disso. Suponhamos que, num mundo qualquer, os seres
sejam normalmente o que só excepcionalmente o são os
nossos sonâmbulos; eles, sem precisarem da nossa luz, nem
dos nossos olhos, verão o que não podemos ver. O mesmo se dá
com todas as outras sensações. As condições de vitalidade e de
perceptibilidade, as sensações e as necessidades variam de conformidade com os meios.