Dupla vista.
— Entrada de Jesus em Jerusalém.
5. Quando eles se aproximaram de Jerusalém e chegaram a
Betfagé, perto do Monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos, dizendo-lhes: — Ide a essa aldeia que está à vossa
frente e, lá chegando, encontrareis amarrada uma jumenta e junto
dela o seu jumentinho; desamarrai-a e trazei-mos. — Se alguém
vos disser qualquer coisa, respondei que o Senhor precisa deles e
logo deixará que os conduzais. — Ora, tudo isso se deu, a fim de
que se cumprisse esta palavra do profeta: — Dizei à filha de Sião:
Eis o teu rei, que vem a ti, cheio de doçura, montado numa jumenta
e com o jumentinho da que está sob o jugo. (Zacarias, 9:9–10.)
Os discípulos então foram e fizeram o que Jesus lhes ordenara.
— E, tendo trazido a jumenta e o jumentinho, a cobriram
com suas vestes e o fizeram montar. (S. Mateus, 21:1–7.)
— Beijo de Judas.
6. Levantai-vos, vamos, que já esta perto daqui aquele que me há
de trair. — Ainda não acabara de dizer essas palavras e eis que
Judas, um dos doze, chegou e com ele uma tropa de gente armada
de espadas e paus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e
pelos anciãos do povo. — Ora, o que o traía lhes havia dado um
sinal para o reconhecerem, dizendo-lhes: Aquele a quem eu beijar
é esse mesmo o que procurais; apoderai-vos dele. — Logo,
pois, se aproximou de Jesus e lhe disse: Mestre, eu te saúdo; e o
beijou. — Jesus lhe respondeu: Meu amigo, que vieste fazer aqui?
Ao mesmo tempo, os outros, avançando, se lançaram a Jesus e
dele se apoderaram. (S. Mateus, 26:46–50.)
— Pesca milagrosa.
7. Um dia, estando Jesus à margem do lago de Genesaré, como a
multidão de povo o comprimisse para ouvir a palavra de Deus —
viu ele duas barcas atracadas à borda do lago e das quais os
pescadores haviam desembarcado e lavavam suas redes. — Entrou
numa dessas barcas, que era de Simão, e lhe pediu que a afastasse um pouco da margem; e, tendo-se sentado, ensinava ao
povo de dentro da barca.
Quando acabou de falar, disse a Simão: Avança para o mar
e lança as tuas redes de pescar. — Respondeu-lhe Simão: Mestre,
trabalhamos a noite toda e nada apanhamos; contudo, pois que
mandas, lançarei a rede. — Tendo-a lançado, apanharam tão grande
quantidade de peixes, que a rede se rompeu. — Acenaram
para os companheiros que estavam na outra barca, a fim de que
viessem ajudá-los. Eles vieram e encheram de tal modo as barcas,
que por pouco estas não se submergiram. (S. Lucas, 5:1–7.)
— Vocação de Pedro, André, Tiago, João e Mateus.
8. Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu Jesus dois irmãos,
Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, que lançavam
suas redes ao mar, pois que eram pescadores; — e lhes disse:
Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens. — Logo eles
deixaram suas redes e o seguiram. — Daí, continuando, viu ele dois outros irmãos, Tiago, filho de
Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam numa barca com
Zebedeu, pai de ambos, os quais estavam a consertar suas redes,
e os chamou. — Eles imediatamente deixaram as redes e o pai e o
seguiram. (S. Mateus, 4:18–22.)
Saindo dali, Jesus, ao passar, viu um homem sentado à
banca dos impostos, chamado Mateus, ao qual disse: Segue-me; e o homem logo se levantou e o seguiu. (S. Mateus, 4:9.)
9. Nada apresentam de surpreendentes estes fatos, desde
que se conheça o poder da dupla vista e a causa, muito
natural, dessa faculdade. Jesus a possuía em grau elevado e pode dizer-se que ela constituía o seu estado normal, conforme
o atesta grande número de atos da sua vida, os quais,
hoje, têm a explicá-los os fenômenos magnéticos e o
Espiritismo.
A pesca qualificada de miraculosa igualmente se explica
pela dupla vista. Jesus não produziu espontaneamente
peixes onde não os havia; ele viu, com a vista da alma,
como teria podido fazê-lo um lúcido vígil, o lugar onde se
achavam os peixes e disse com segurança aos pescadores
que lançassem aí suas redes.
A acuidade do pensamento e, por conseguinte, certas
previsões decorrem da vista espiritual. Quando Jesus chama
a si Pedro, André, Tiago, João e Mateus, é que lhes
conhecia as disposições íntimas e sabia que eles o acompanhariam
e que eram capazes de desempenhar a missão que
tencionava confiar-lhes. E mister se fazia que eles próprios
tivessem intuição da missão que iriam desempenhar para,
sem hesitação, atenderem ao chamamento de Jesus. O mesmo
se deu quando, por ocasião da Ceia, ele anunciou que
um dos doze o trairia e o apontou, dizendo ser aquele que
punha a mão no prato; e deu-se também, quando predisse
que Pedro o negaria.
Em muitos passos do Evangelho se lê: “Mas Jesus, conhecendo-lhes
os pensamentos, lhes diz. . .” Ora, como poderia
ele conhecer os pensamentos dos seus interlocutores, senão
pelas irradiações fluídicas desses pensamentos e, ao
mesmo tempo, pela vista espiritual que lhe permitia ler-lhes
no foro íntimo?
Muitas vezes, supondo que um pensamento se acha
sepultado nos refolhos da alma, o homem não suspeita que traz em si um espelho onde se reflete aquele pensamento,
um revelador na sua própria irradiação fluídica, impregnada
dele. Se víssemos o mecanismo do mundo invisível que
nos cerca, as ramificações dos fios condutores do pensamento,
a ligarem todos os seres inteligentes, corporais e
incorpóreos, os eflúvios fluídicos carregados das marcas do
mundo moral, os quais, como correntes aéreas, atravessam
o espaço, muito menos surpreendidos ficaríamos diante
de certos efeitos que a ignorância atribui ao acaso.
(Cap. XIV, n.
os 15, 22 e seguintes.)