36. Os fariseus diziam que por influência dos demônios é
que Jesus expulsava os demônios; segundo eles, o bem que Jesus fazia era obra de Satanás; não refletiam que, se Satanás
expulsasse a si mesmo, praticaria rematada insensatez.
É de notar-se que os fariseus daquele tempo já pretendessem
que toda faculdade transcendente e, por esse motivo,
reputada sobrenatural, era obra do demônio, pois que, na
opinião deles, era do demônio que Jesus recebia o poder de
que dispunha. É esse mais um ponto de semelhança daquela
com a época atual e tal doutrina é ainda a que a
Igreja procura fazer que prevaleça hoje, contra as manifestações
espíritas.*
* Nem todos os teólogos, porém, adotam opiniões tão absolutas sobre
a doutrina demoníaca. Aqui está uma cujo valor o clero não pode
contestar, emitida por um eclesiástico, Monsenhor Freyssinous, bispo
de Hermópolis, na seguinte passagem das suas Conferências
sobre a religião, tomo 2.º, p. 341 (Paris, 1825):
“Se Jesus operasse seus milagres pelo poder do demônio, este
houvera trabalhado pela destruição do seu império e teria empregado
contra si próprio o seu poder. Certamente, um demônio que
procurasse destruir o reinado do vício para implantar o da virtude,
seria um demônio muito singular. Eis por que Jesus, para
repelir a absurda acusação dos judeus, lhes dizia: “Se opero prodígios em nome do demônio, o demônio está dividido consigo mesmo,
trabalha, conseguintemente, por se destruir a si próprio!” resposta
que não admite réplica.
É precisamente o argumento que os espíritas opõem aos que
atribuem ao demônio os bons conselhos que os Espíritos lhes dão.
O demônio agiria então como um ladrão profissional que restituísse
tudo o que houvesse roubado e exortasse os outros ladrões a se
tornarem pessoas honestas.