2. A teoria de Buffon, contraditada pelas novas descobertas da ciência, está
presentemente abandonada, quase de todo, pelas razões seguintes:
1.o. Durante longo tempo, acreditou-se que os cometas eram corpos sólidos,
cujo encontro com um planeta podia ocasionar a destruição deste último. Nessa
hipótese, a suposição de Buffon nada tinha de improvável. Sabe-se, porém, agora,
que os cometas são formados de uma matéria gasosa, bastante rarefeita, entretanto,
para que se possam perceber estrelas de grandeza média através de seus núcleos.
Nessas condições, oferecendo menos resistência do que o Sol, impossível é que,
num choque violento com este, eles sejam capazes de arremessar ao longe qualquer
porção da massa solar.
2.o. A natureza incandescente do Sol é também uma hipótese, que nada, até
ao presente, confirma, que, ao contrário, as observações parecem desmentir. Se bem
ainda não haja certeza quanto à sua natureza, os poderosos meios de observação de
que hoje dispõe a ciência hão permitido que ele seja melhor estudado, de modo a
admitir-se, em geral, que é um globo composto de matéria sólida, cercada de uma
atmosfera luminosa, ou fotosfera, que não se acha em contacto com a sua
superfície.*
3.o. Ao tempo de Buffon, somente se conheciam os seis planetas de que os
antigos eram conhecedores: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno.
Descobriram-se depois outros em grande número, três dos quais, principalmente,
Juno, Ceres e Palas, têm suas órbitas inclinadas de 13, 10 e 34 graus, o que não
concorda com um movimento único de projeção.**
4.o. Reconheceram-se absolutamente inexatos os cálculos de Buffon acerca
do resfriamento, desde que Fourier descobriu a lei do decrescimento do calor. A
Terra não precisou apenas de 74.000 anos para chegar à sua temperatura atual, mas
de alguns milhões de anos.
5.o. Buffon unicamente considerou o calor central da Terra, sem levar em
conta o dos raios solares. Ora, é sabido hoje, em presença de dados científicos de
rigorosa precisão, obtidos pela experiência, que, em virtude da espessura da crosta
terrestre, o calor interno do globo não contribui, de há muito, senão em parcela
insignificante, para a temperatura da superfície exterior. São periódicas as variações
que essa temperatura sofre e devidas à ação preponderante do calor solar (cap. VII,
n.
o 25). Permanente que é o efeito dessa causa, ao passo que o do calor central é nulo,
ou quase nulo, a diminuição deste não pode trazer à superfície da Terra sensíveis
modificações. Para que a Terra se tornasse inabitável pelo resfriamento, fora
necessária a extinção do Sol. ***
* Completa dissertação, à altura da ciência moderna, sobre a natureza do Sol e dos cometas, se encontra
nos "Estudos e leituras sobre a Astronomia", de Camilo Flammarion
** Nota constante na edição da FEB Editora: Os planetóides Juno, Ceres e Palas, bem como centenas de outros, estão localizados
entre as órbitas de Júpiter e Marte.
*** Vejam-se, para maiores esclarecimentos sobre este assunto e sobre a lei do decrescimento do calor: "Cartas acerca das revoluções do globo", pelo Dr. Bertrand, ex-aluno da Escola Politécnica de Paris, carta
II. — Esta obra, à altura da ciência moderna, escrita com simplicidade e sem espírito de sistema, encerra
um estudo geológico de grande interesse.