2. Suponhamos um homem colocado no cume de uma alta
montanha, a observar a vasta extensão da planície em derredor.
Nessa situação, o espaço de uma légua pouca coisa
será para ele, que poderá facilmente apanhar, de um golpe
de vista, todos os acidentes do terreno, de um extremo a
outro da estrada que lhe esteja diante dos olhos. O viajor,
que pela primeira vez percorra essa estrada, sabe que, caminhando,
chegará ao fim dela. Constitui isso uma simples
previsão da consequência que terá a sua marcha. Entretanto,
os acidentes do terreno, as subidas e descidas, os
cursos d'água que terá de transpor, os bosques que haja de
atravessar, os precipícios em que poderá cair, as casas hospitaleiras
onde lhe será possível repousar, os ladrões que o
espreitem para roubá-lo, tudo isso independe da sua pessoa;
é para ele o desconhecido, o futuro, porque a sua vista
não vai além da pequena área que o cerca. Quanto à duração, mede-a pelo tempo que gasta em perlustrar o caminho.
Tirai-lhe os pontos de referência e a duração desaparecerá.
Para o homem que está em cima da montanha e
que o acompanha com o olhar, tudo aquilo está presente.
Suponhamos que esse homem desce do seu ponto de observação
e, indo ao encontro do viajante, lhe diz: “Em tal
momento, encontrarás tal coisa, serás atacado e socorrido.”
Estará predizendo o futuro, mas, futuro para o viajante,
não para ele, autor da previsão, pois que, para ele, esse
futuro é presente.