Parábola dos vinhateiros homicidas.
29. Havia um pai de família que, tendo plantado uma vinha, a
cercou com uma sebe e, cavando a terra, construiu uma torre. Arrendou-a
depois a uns vinhateiros e partiu para um país distante. — Ora, estando próximo o tempo dos frutos, enviou ele seus
servos aos vinhateiros, para recolher o fruto da sua vinha. — Os
vinhateiros, apoderando-se dos servos, deram num, mataram
outro e a outro apedrejaram. Enviou-lhes ele outros servos em
maior número do que os primeiros e eles os trataram da mesma
maneira. — Por fim, enviou-lhes seu próprio filho, dizendo de si
para si: Ao meu filho eles terão algum respeito. — Mas os
vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: Aqui está o herdeiro;
vinde, matemo-lo e ficaremos donos da sua herança. — E,
com isso, pegaram dele, lançaram-no fora da vinha e o mataram. — Quando o dono da vinha vier, como tratará esses vinhateiros?
— Responderam-lhe: Fará que pereçam miseravelmente esses
malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe
entreguem os frutos na estação própria. (S. Mateus, 21:33–41.)
30. O pai de família é Deus; a vinha que ele plantou é a lei
que estabeleceu; os vinhateiros a quem arrendou a vinha
são os homens que devem ensinar e praticar a lei; os servos
que enviou aos arrendatários são os profetas que estes últimos
massacraram; seu filho, enviado por último, é Jesus,
a quem eles igualmente eliminaram. Como tratará o Senhor
os seus mandatários prevaricadores da lei? Tratá-los-á
como seus enviados foram por eles tratados e chamará outros
arrendatários que lhe prestem melhores contas de sua
propriedade e do proceder do seu rebanho.
Assim aconteceu com os escribas, com os príncipes
dos sacerdotes e com os fariseus; assim será, quando ele
vier de novo pedir a cada um contas do que fez da sua
doutrina; retirará toda a autoridade ao que dela houver
abusado, porquanto ele quer que seu campo seja administrado
de acordo com a sua vontade.
Ao cabo de dezoito séculos, tendo chegado à idade viril,
a humanidade está suficientemente madura para compreender
o que o Cristo apenas esflorou, porque então, como
ele próprio o disse, não o teriam compreendido. Ora, a que
resultado chegaram os que, durante esse longo período,
tiveram a seu cargo a educação religiosa da mesma humanidade?
Ao de verem que a indiferença sucedeu à fé e que a
incredulidade se alçou em doutrina. Em nenhuma outra
época, com efeito, o cepticismo e o espírito de negação estiveram
mais espalhados em todas as classes da sociedade.
Mas, se algumas das palavras do Cristo se apresentam
encobertas pelo véu da alegoria, pelo que concerne à regra
de proceder, às relações de homem para homem, aos
princípios morais a que ele expressamente condicionou a
salvação, seus ensinos são claros, explícitos, sem ambiguidade.
(
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XV.)
Que fizeram das suas máximas de caridade, de amor e
de tolerância; das recomendações que fez a seus apóstolos
para que convertessem os homens pela brandura e pela persuasão;
da simplicidade, da humildade, do desinteresse e
de todas as virtudes que ele exemplificou? Em seu nome,
os homens se anatematizaram mutuamente e reciprocamente
se amaldiçoaram; estrangularam-se em nome daquele
que disse: Todos os homens são irmãos. Do Deus infinitamente justo, bom e misericordioso que ele revelou,
fizeram um Deus cioso, cruel, vingativo e parcial; àquele
Deus, de paz e de verdade, sacrificaram nas fogueiras, pelas
torturas e perseguições, muito maior número de vítimas,
do que as que em todos os tempos os pagãos sacrificaram
aos seus falsos deuses; venderam-se as orações e as
graças do céu em nome daquele que expulsou do Templo os
vendedores e que disse a seus discípulos: Dai de graça o
que de graça recebestes.
Que diria o Cristo, se viesse hoje entre nós? Se visse os
que se dizem seus representantes a ambicionar as honras,
as riquezas, o poder e o fausto dos príncipes do mundo, ao
passo que ele, mais rei do que todos os reis da Terra, fez a
sua entrada em Jerusalém montado num jumento? Não
teria o direito de dizer-lhes: Que fizestes dos meus ensinos,
vós que incensais o bezerro de ouro, que dais a maior parte
das vossas preces aos ricos, reservando uma parte insignificante
aos pobres, sem embargo de haver eu dito: Os primeiros
serão os últimos e os últimos serão os primeiros no
reino dos céus? Mas, se ele não está carnalmente entre
nós, está em Espírito e, como o senhor da parábola, virá
pedir contas aos seus vinhateiros do produto da sua
vinha, quando chegar o tempo da colheita.