53. De todas essas coisas, originou-se dupla corrente de
ideias: umas, dirigindo-se das extremidades para o centro;
as outras encaminhando-se do centro para a circunferência.
Desse modo, a doutrina caminhou rapidamente para a unidade,
malgrado à diversidade das fontes donde promanou;
os sistemas divergentes ruíram pouco a pouco, devido ao
isolamento em que ficaram, diante do ascendente da opinião
da maioria, em a qual não encontraram repercussão
simpática. Desde então, uma comunhão de ideias se estabeleceu
entre os diversos centros parciais. Falando a mesma
linguagem espiritual, eles se entendem e estimam, de
um extremo a outro do mundo. Sentiram-se assim mais fortes os espíritas, lutaram
com mais coragem, caminharam com passo mais firme,
desde que não mais se viram insulados, desde que perceberam
um ponto de apoio, um laço a prendê-los à grande
família. Não mais lhes pareceram singulares, anormais, nem
contraditórios os fenômenos que presenciavam, desde que
puderam conjugá-los a leis gerais e descobrir um fim
grandioso e humanitário em todo o conjunto.* Mas, como se há de saber se um princípio é ensinado por toda parte, ou se apenas exprime uma opinião pessoal? Não estando os grupos independentes em condições de saber o que se diz alhures, necessário se fazia que um centro reunisse todas as instruções, para proceder a uma espécie de apuro das vozes e transmitir a todos a opinião da maioria.**
* Significativo testemunho, tão notável quão tocante, dessa comunhão
de ideias que se estabeleceu entre os espíritas, pela conformidade
de suas crenças, são os pedidos de preces que nos chegam
dos mais distantes países, desde o Peru até as extremidades da
Ásia, feitos por pessoas de religiões e nacionalidades diversas e as
quais nunca vimos. Não é isso um prelúdio da grande unificação
que se prepara? Não é a prova de que por toda parte o Espiritismo
lança raízes fortes? Digno de nota é que, de todos os grupos que se têm formado com
a intenção premeditada de abrir cisão, proclamando princípios
divergentes, do mesmo modo que de todos quantos, apoiando-se em razões de amor-próprio ou outras quaisquer, para não parecer
que se submetem à lei comum, se consideraram fortes o bastante
para caminhar sozinhos, possuidores de luzes suficientes para prescindirem
de conselhos, nenhum chegou a construir uma ideia que
fosse preponderante e viável. Todos se extinguiram ou vegetaram
na sombra. Nem de outro modo poderia ser, dado que, para se
exalçarem, em vez de se esforçarem por proporcionar maior soma
de satisfações, rejeitavam princípios da doutrina, precisamente o
que de mais atraente há nela, o que de mais consolador ela contém
e de mais racional. Se houvessem compreendido a força dos elementos
morais que lhe constituíram a unidade, não se teriam embalado
com ilusões quiméricas. Ao contrário, tomando como se fosse
o universo o pequeno círculo que constituíam, não viram nos
adeptos mais do que uma camarilha facilmente derrubável por outra
camarilha. Era equivocar-se de modo singular, no tocante aos
caracteres essenciais da doutrina e semelhante erro só decepções
podia acarretar. Em lugar de romperem a unidade, quebraram o
único laço que lhes podia dar força e vida. (Veja-se:
Revista espírita,
abril de 1866: “O Espiritismo sem os Espíritos: o
Espiritismo independente”.)
** Esse o objeto das nossas publicações, que se podem considerar o
resultado de um trabalho de apuro. Nelas, todas as opiniões são
discutidas, mas as questões somente são apresentadas em forma
de princípios, depois de haverem recebido a consagração de todas
as comprovações, as quais, só elas, lhes podem imprimir força de
lei e permitir afirmações. Eis por que não preconizamos levianamente
nenhuma teoria e é nisso exatamente que a doutrina, decorrendo
do ensino geral, não representa produto de um sistema
preconcebido. É também donde tira a sua força e o que lhe garante
o futuro.