66. Moralmente, um juízo definitivo e sem apelação não se
concilia com a bondade infinita do Criador, que Jesus nos
apresenta de contínuo como um bom Pai, que deixa sempre
aberta uma senda para o arrependimento e que está
pronto sempre a estender os braços ao filho pródigo. Se
Jesus entendesse o juízo naquele sentido, desmentiria suas
próprias palavras.
Ao demais, se o juízo final houvesse de apanhar de improviso
os homens, em meio de seus trabalhos ordinários,
e grávidas as mulheres, caberia perguntar-se com que fim
Deus, que não faz coisa alguma inútil ou injusta, faria nascessem
crianças e criaria almas novas naquele momento
supremo, no termo fatal da humanidade. Seria para
submetê-las a julgamento logo ao saírem do ventre materno,
antes de terem consciência de si mesmas, quando, a
outros, milhares de anos foram concedidos para se inteirarem
do que respeita à própria individualidade? Para que
lado, direito ou esquerdo, iriam essas almas, que ainda não
são nem boas nem más e para as quais, no entanto, todos os caminhos de ulterior progresso se encontrariam desde
então fechados, visto que a humanidade não mais existiria?
(Cap. II, n.º 19.)
Conservem-nas os que se contentam com semelhantes
crenças; estão no seu direito e ninguém nada tem que
dizer a isso; mas, não achem mau que nem toda gente
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