51. Desse modo,
a eternidade real e efetiva do Universo se acha garantida pelas mesmas leis que
dirigem as operações do tempo. Desse modo, mundos sucedem a mundos, sóis a
sóis, sem que o imenso mecanismo dos vastos céus jamais seja atingido nas suas
gigantescas molas.
Onde os vossos olhos admiram esplêndidas
estrelas na abóbada da noite, onde o vosso espírito contempla irradiações
magníficas que resplandecem nos espaços distantes, de há muito o dedo da morte
extinguiu esses esplendores, de há muito o vazio sucedeu a esses
deslumbramentos e já recebem mesmo novas criações ainda desconhecidas. A
distância imensa a que se encontram esses astros, por efeito da qual a luz que
nos enviam gasta milhares de anos a chegar até nós, faz com que somente hoje recebamos os raios que eles nos enviaram longo
tempo antes da criação da Terra e com que ainda os admiremos durante milhares
de anos após a sua desaparição real.
[1]
Que são os seis mil anos da humanidade
histórica, diante dos períodos seculares? Segundos em vossos séculos. Que são
as vossas observações astronômicas, diante do estado absoluto do mundo? A
sombra eclipsada pelo Sol.
Há aqui um efeito do tempo
que a luz gasta para atravessar o espaço. Sendo de 70.000 léguas por segundo a
sua velocidade, ela nos chega do Sol em 8 minutos e 13 segundos. Daí resulta
que, se um fenômeno se passa na superfície do Sol, não o percebemos senão 8
minutos mais tarde e, pela mesma razão, ainda o veremos 8 minutos depois da sua
cessação. Se, em virtude do seu afastamento, a luz de uma estrela consome mil
anos para nos chegar, só mil anos depois da sua formação veremos essa estrela.
(Veja-se, para explicação e descrição completa desse fenômeno, a
Revue
Spirite de março e maio de 1867,
págs. 93 e 151, resenha de
Lumen,
por C. Flammarion.)