A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo

Allan Kardec

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Alma da Terra.

7. A alma da Terra desempenhou papel principal na teoria da incrustação. Vejamos se esta ideia tem melhor fundamento.

O desenvolvimento orgânico está sempre em relação com o desenvolvimento do princípio intelectual. O organismo se completa à medida que se multiplicam as faculdades da alma. A escala orgânica acompanha constantemente, em todos os seres, a progressão da inteligência, desde o pólipo até o homem, e não podia ser de outro modo, pois que a alma precisa de um instrumento apropriado à importância das funções que lhe compete desempenhar. De que serviria à ostra possuir a inteligência do macaco, sem os órgãos necessários à sua manifestação? Se, portanto, a Terra fosse um ser animado, servindo de corpo a uma alma especial, essa alma, por efeito mesmo da sua constituição, teria de ser ainda mais rudimentar do que a do pólipo, visto que a Terra não tem, sequer, a vitalidade da planta, ao passo que, pelo papel que lhe atribuíram à alma, fizeram dela um ser dotado de razão e do mais completo livre-arbítrio, em resumo: um como Espírito superior, o que não é racional, porquanto nunca nenhum Espírito se achou menos bem aquinhoado, nem mais aprisionado. Ampliada neste sentido, a ideia da alma da Terra tem, então, de ser arrolada entre as concepções sistemáticas e quiméricas.

Por alma da Terra pode entender-­se, mais racionalmente, a coletividade dos Espíritos incumbidos da elaboração e da direção de seus elementos constitutivos, o que já supõe certo grau de desenvolvimento intelectual; ou, melhor ainda: o Espírito a quem está confiada a alta direção dos destinos morais e do progresso de seus habitantes, missão que somente pode ser atribuída a um ser eminentemente superior em saber e em sabedoria. Em tal caso, esse Espírito não é, propriamente falando, a alma da Terra, porquanto não se acha encarnado nela, nem subordinado ao seu estado material. É um chefe preposto ao seu governo, como um general o é ao comando de um exército.

Um Espírito, incumbido de missão tão importante qual a do governo de um mundo, não poderia ter caprichos, ou, então, teríamos de reconhecer em Deus a imprevidência de confiar a execução de suas leis a seres capazes de lhes contravir, a seu bel­-prazer. Ora, segundo a doutrina da incrustação, a má vontade da alma da Lua é que houvera dado causa a que a Terra ficasse incompleta. Há ideias que a si mesmas se refutam. ( Revue de setembro de 1868, pág. 261.)

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