9. Decorrendo, o mal, das imperfeições do homem, e tendo
sido este criado por Deus, dir-se-á, Deus não deixa de ter
criado, se não o mal, pelo menos, a causa do mal; se
houvesse criado perfeito o homem, o mal não existiria. Se fora criado perfeito, o homem fatalmente penderia
para o bem. Ora, em virtude do seu livre-arbítrio, ele não
pende fatalmente nem para o bem, nem para o mal. Quis
Deus que ele ficasse sujeito à lei do progresso e que o progresso resulte do seu trabalho, a fim de que lhe pertença o
fruto deste, da mesma maneira que lhe cabe a responsabilidade do mal que por sua vontade pratique. A questão,
pois, consiste em saber-se qual é, no homem, a origem da
sua propensão para o mal. *
* O erro está em pretender-se que a alma haja saído perfeita das
mãos do Criador, quando este, ao contrário, quis que a perfeição
resulte da depuração gradual do Espírito e seja obra sua. Houve
Deus por bem que a alma, dotada de livre-arbítrio, pudesse optar
entre o bem e o mal e chegasse a suas finalidades últimas de forma
militante e resistindo ao mal. Se houvera criado a alma tão perfeita
quanto ele e, ao sair-lhe ela das mãos, a houvesse associado à sua
beatitude eterna, Deus tê-la-ia feito, não à sua imagem, mas semelhante a si próprio. (Bonnamy,
A Razão do Espiritismo, cap. VI.)