45. Jesus anuncia o seu segundo advento, mas não diz que
voltará à Terra com um corpo carnal, nem que personificará
o Consolador. Apresenta-se como tendo de vir em Espírito, na glória de seu Pai, a julgar o mérito e o demérito e
dar a cada um segundo as suas obras, quando os tempos
forem chegados.
Estas palavras: “Alguns há dos que aqui estão que não
sofrerão a morte sem terem visto vir o Filho do homem no
seu reinado” parecem encerrar uma contradição, pois é incontestável
que ele não veio em vida de nenhum daqueles
que estavam presentes. Jesus, entretanto, não podia enganar-se
numa previsão daquela natureza e, sobretudo, com
relação a uma coisa contemporânea e que lhe dizia pessoalmente
respeito. Há, primeiro, que indagar se suas palavras
foram sempre reproduzidas fielmente. É de duvidar-se,
desde que se considere que ele nada escreveu; que elas só
foram registradas depois de sua morte; que o mesmo discurso
cada evangelista o exarou em termos diferentes, o
que constitui prova evidente de que as expressões de que
eles se serviram não são textualmente as de que se serviu
Jesus. Além disso, é provável que o sentido tenha sofrido
alterações ao passar pelas traduções sucessivas.
Por outro lado, é indubitável que, se Jesus houvesse
dito tudo o que pudera dizer, ele se teria expressado sobre
todas as coisas de modo claro e preciso, sem dar lugar a
qualquer equívoco, conforme o fez com relação aos princípios de moral, ao passo que foi obrigado a velar o seu pensamento
acerca dos assuntos que não julgou conveniente
aprofundar. Persuadidos de que a geração de que faziam
parte testemunharia o que ele anunciava, os discípulos foram
levados a interpretar o pensamento de Jesus de acordo
com aquela idéia. Assim é que redigiram do ponto de
vista do presente o que o Mestre dissera, fazendo-o de maneira
mais absoluta do que ele próprio o teria feito. Seja como
for, o fato é que as coisas não se passaram como eles o
supuseram.