Ruína do Templo e de Jerusalém.
15. Quando Jesus saiu do templo para se ir embora, seus discípulos se acercaram dele para lhe fazerem notar a estrutura e a
grandeza daquele edifício. — Ele, porém, lhes disse: Vedes todas
estas construções? Digo-vos, em verdade, que serão de tal maneira
destruídas, que não ficará pedra sobre pedra. (S. Mateus, 24:1–2.)
16. Em seguida, tendo chegado perto de Jerusalém, contemplando
a cidade, ele chorou por ela, dizendo: — Ah! se, ao menos neste
dia que ainda te é concedido, reconhecesses aquele que te pode
proporcionar paz! Mas, agora, tudo isto se acha oculto aos teus
olhos. — Tempo virá, pois, para ti, desgraçada, em que teus inimigos
te cercarão de trincheiras, te encerrarão e apertarão de
todos os lados; — em que te deitarão por terra, a ti e aos teus
filhos que estão dentro de ti, e não te deixarão pedra sobre pedra,
porque não reconheceste o tempo em que Deus te visitou.
(S. Lucas, 19:41–44.)
17. Entretanto, é preciso que eu continue a andar hoje e amanhã
e o dia seguinte, porquanto necessário é que nenhum
profeta sofra morte noutra parte, que não em Jerusalém. — Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os
que te são enviados, quantas vezes hei querido reunir teus filhos, como uma galinha reúne sob as asas seus pintainhos, e não o
quiseste! — Aproxima-se o tempo em que vossa casa ficará deserta.
Ora, eu, em verdade, vos digo que doravante não me tornareis
a ver, até que digais: Bendito seja o que vem em nome do Senhor.
(S. Lucas, 13:33–35.)
18. Quando virdes um exército cercando Jerusalém, sabei que
está próxima a sua destruição. — Fujam para as montanhas os
que estiverem na Judeia, retirem-se os que estiverem dentro dela
e nela não entrem os que estiverem na região circunvizinha. —
Porquanto, esses dias serão os da vingança, a fim de que se cumpra
tudo o que está na Escritura. — Ai das que estiverem grávidas
nesses dias, visto que este país será acabrunhado de males e
a cólera do céu cairá sobre este povo. — Serão passados a fio de
espada; serão levados em cativeiro para todas as nações e
Jerusalém será calcada aos pés pelos gentios, até que se haja
preenchido o tempo das nações. (S. Lucas, 21:20–24.)
19. (Jesus avançando para o suplício.) — Ora, acompanhava-o
grande multidão de povo e de mulheres a bater nos peitos e a
chorar. — Jesus, então, voltando-se, disse: Filhas de Jerusalém,
não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos
filhos — porquanto virá tempo em que se dirá: Ditosas as estéreis,
as entranhas que não geraram filhos e os seios que não amamentaram.
— Todos se porão a dizer às montanhas: Caí sobre nós! e às
colinas: Cobri-nos! — Pois, se tratam deste modo o lenho verde,
como será tratado o lenho seco? (S. Lucas, 23:27–31.)
20. A faculdade de pressentir as coisas porvindouras é um
dos atributos da alma e se explica pela teoria da presciência. Jesus a possuía, como todos os outros, em grau eminente.
Pôde, portanto, prever os acontecimentos que se seguiriam
à sua morte, sem que nesse fato algo haja de sobrenatural,
pois que o vemos reproduzir-se aos nossos olhos,
nas mais vulgares condições. Não é raro que indivíduos
anunciem com precisão o instante em que morrerão; é que
a alma deles, no estado de desprendimento, está como o
homem da montanha (capítulo XVI, n.º 1): abarca a estrada
a ser percorrida e lhe vê o termo.
21. Tanto mais assim havia de dar-se com Jesus, quanto,
tendo consciência da missão que viera desempenhar, sabia
que a morte no suplício forçosamente lhe seria a consequência.
A visão espiritual, permanente nele, assim como a
penetração do pensamento, haviam de mostrar-lhe as circunstâncias
e a época fatal. Pela mesma razão podia prever
a ruína do Templo, a de Jerusalém, as desgraças que se
iam abater sobre seus habitantes e a dispersão dos judeus.