16. Admitido que Deus houvesse alguma vez, por motivos
que nos escapam, derrogado acidentalmente leis por ele
estabelecidas, tais leis já não seriam imutáveis. Mesmo,
porém, que semelhante derrogação seja possível, ter-se-á,
pelo menos, de reconhecer que só ele, Deus, dispõe desse
poder; sem se negar ao Espírito do mal a onipotência, não
se pode admitir lhe seja dado desfazer a obra divina, operando,
de seu lado, prodígios capazes de seduzir até os eleitos,
pois que isso implicaria a ideia de um poder igual ao de
Deus. É, no entanto, o que ensinam. Se Satanás tem o
poder de sustar o curso das leis naturais, que são obra de
Deus, sem a permissão deste, mais poderoso é ele do que a
Divindade. Logo, Deus não possui a onipotência e se, como
pretendem, delega poderes a Satanás, para mais facilmen
te induzir os homens ao mal, falta-lhe a soberana bondade.
Em ambos os casos, há negação de um dos atributos sem
os quais Deus não seria Deus.
Daí vem a Igreja distinguir os bons milagres, que procedem
de Deus, dos maus milagres, que procedem de Satanás.
Mas, como diferençá-los? Seja satânico ou divino um
milagre, haverá sempre uma derrogação de leis emanadas
unicamente de Deus. Se um indivíduo é curado por suposto
milagre, quer seja Deus quem o opere, quer Satanás,
não deixará por isso de ter havido a cura. Forçoso se torna
fazer pobríssima ideia da inteligência humana para se
pretender que semelhantes doutrinas possam ser aceitas
nos dias de hoje.
Reconhecida a possibilidade de alguns fatos considerados
miraculosos, há-se de concluir que, seja qual for a
origem que se lhes atribua, eles são efeitos naturais de que
se podem utilizar Espíritos desencarnados ou encarnados,
como de tudo, como da própria inteligência e dos conhecimentos
científicos de que disponham, para o bem ou para
o mal, conforme neles preponderem a bondade ou a perversidade.
Valendo-se do saber que haja adquirido, pode
um ser perverso fazer coisas que passem por prodígios aos
olhos dos ignorantes; mas, quando tais efeitos dão em
resultado um bem qualquer, fora ilógico atribuir-se-lhes
uma origem diabólica.