9. Nada apresentam de surpreendentes estes fatos, desde
que se conheça o poder da dupla vista e a causa, muito
natural, dessa faculdade. Jesus a possuía em grau elevado e pode dizer-se que ela constituía o seu estado normal, conforme
o atesta grande número de atos da sua vida, os quais,
hoje, têm a explicá-los os fenômenos magnéticos e o
Espiritismo.
A pesca qualificada de miraculosa igualmente se explica
pela dupla vista. Jesus não produziu espontaneamente
peixes onde não os havia; ele viu, com a vista da alma,
como teria podido fazê-lo um lúcido vígil, o lugar onde se
achavam os peixes e disse com segurança aos pescadores
que lançassem aí suas redes.
A acuidade do pensamento e, por conseguinte, certas
previsões decorrem da vista espiritual. Quando Jesus chama
a si Pedro, André, Tiago, João e Mateus, é que lhes
conhecia as disposições íntimas e sabia que eles o acompanhariam
e que eram capazes de desempenhar a missão que
tencionava confiar-lhes. E mister se fazia que eles próprios
tivessem intuição da missão que iriam desempenhar para,
sem hesitação, atenderem ao chamamento de Jesus. O mesmo
se deu quando, por ocasião da Ceia, ele anunciou que
um dos doze o trairia e o apontou, dizendo ser aquele que
punha a mão no prato; e deu-se também, quando predisse
que Pedro o negaria.
Em muitos passos do Evangelho se lê: “Mas Jesus, conhecendo-lhes
os pensamentos, lhes diz. . .” Ora, como poderia
ele conhecer os pensamentos dos seus interlocutores, senão
pelas irradiações fluídicas desses pensamentos e, ao
mesmo tempo, pela vista espiritual que lhe permitia ler-lhes
no foro íntimo?
Muitas vezes, supondo que um pensamento se acha
sepultado nos refolhos da alma, o homem não suspeita que traz em si um espelho onde se reflete aquele pensamento,
um revelador na sua própria irradiação fluídica, impregnada
dele. Se víssemos o mecanismo do mundo invisível que
nos cerca, as ramificações dos fios condutores do pensamento,
a ligarem todos os seres inteligentes, corporais e
incorpóreos, os eflúvios fluídicos carregados das marcas do
mundo moral, os quais, como correntes aéreas, atravessam
o espaço, muito menos surpreendidos ficaríamos diante
de certos efeitos que a ignorância atribui ao acaso.
(Cap. XIV, n.
os 15, 22 e seguintes.)