CAPÍTULO XXV
DAS EVOCAÇÕES
Considerações gerais. — Espíritos que se podem evocar.
— Linguagem de que se deve usar com os Espíritos. — Utilidade das evocações particulares. — Questões sobre as evocações. — Evocações dos animais. — Evocações das pessoas vivas. — Telegrafia humana.
Considerações gerais.
269. Os Espíritos podem comunicar-se espontaneamente,
ou acudir ao nosso chamado, isto é, vir por evocação. Pensam
algumas pessoas que todos devem abster-se de evocar
tal ou tal Espírito e ser preferível que se espere aquele que
queira comunicar-se. Fundam-se em que, chamando determinado
Espírito, não podemos ter a certeza de ser ele
quem se apresente, ao passo que aquele que vem espontaneamente,
de seu moto próprio, melhor prova a sua identidade,
pois que manifesta assim o desejo que tem de se entreter
conosco. Em nossa opinião, isso é um erro:
primeiramente, porque há sempre em torno de nós Espíritos,
as mais das vezes de condição inferior, que outra coisa não querem senão comunicar-se; em segundo lugar e mesmo
por esta última razão, não chamar a nenhum em particular
é abrir a porta a todos os que queiram entrar. Numa
assembleia, não dar a palavra a ninguém é deixá-la livre a
toda a gente e sabe-se o que daí resulta. A chamada direta
de determinado Espírito constitui um laço entre ele e nós;
chamamo-lo pelo nosso desejo e opomos assim uma espécie de barreira aos intrusos. Sem uma chamada direta, um
Espírito nenhum motivo terá muitas vezes para vir
confabular conosco, a menos que seja o nosso Espírito
familiar.
Cada uma dessas duas maneiras de operar tem suas
vantagens e nenhuma desvantagem haveria, senão na exclusão
absoluta de uma delas. As comunicações espontâneas inconveniente nenhum apresentam, quando se está
senhor dos Espíritos e certo de não deixar que os maus
tomem a dianteira. Então, é quase sempre bom aguardar a
boa vontade dos que se disponham a comunicar-se, porque
nenhum constrangimento sofre o pensamento deles e
dessa maneira se podem obter coisas admiráveis; entretanto,
pode suceder que o Espírito por quem se chama não
esteja disposto a falar, ou não seja capaz de fazê-lo no sentido
desejado. O exame escrupuloso, que temos aconselhado,
é, aliás, uma garantia contra as comunicações más.
Nas reuniões regulares, naquelas, sobretudo, em que se
faz um trabalho continuado, há sempre Espíritos habituais
que a elas comparecem, sem que sejam chamados, por estarem
prevenidos, em virtude mesmo da regularidade das
sessões. Tomam, então, frequentemente a palavra, de modo
espontâneo, para tratar de um assunto qualquer, desenvolver
uma proposição ou prescrever o que se deva fazer,
caso em que são facilmente reconhecíveis, quer pela forma
da linguagem, que é sempre idêntica, quer pela escrita, quer
por certos hábitos que lhes são peculiares.
270. Quando se deseja comunicar com determinado Espírito, é de toda necessidade evocá-lo. (N.º 203.) Se ele pode
vir, a resposta é geralmente:
Sim, ou Estou aqui, ou,
ainda:
Que quereis de mim? Às vezes, entra diretamente
em matéria, respondendo de antemão às perguntas que se
lhe queria dirigir.
Quando um Espírito é evocado pela primeira vez, convém
designá-lo com alguma precisão. Nas perguntas que
se lhe façam, devem evitar-se as fórmulas secas e imperativas,
que constituiriam para ele um motivo de afastamento.
As fórmulas devem ser afetuosas, ou respeitosas, conforme
o Espírito, e, em todos os casos, cumpre que o evocador lhe
dê prova da sua benevolência.
271. Surpreende, não raro, a prontidão com que um Espírito
evocado se apresenta, mesmo da primeira vez. Dir-se-ia
que estava prevenido. É, com efeito, o que se dá, quando
com a sua evocação se preocupa de antemão aquele que o
evoca. Essa preocupação é uma espécie de evocação antecipada
e, como temos sempre conosco os nossos Espíritos
familiares, que se identificam com o nosso pensamento,
eles preparam o caminho de tal sorte que, se nenhum obstáculo
surge, o Espírito que desejamos chamar já se acha
presente ao ser evocado. Quando assim não acontece, é o
Espírito familiar do médium, ou o do interrogante, ou ainda
um dos que costumam frequentar as reuniões que o vai
buscar, para o que não precisa de muito tempo. Se o Espírito evocado não pode vir de pronto, o mensageiro (os
pagãos diriam
Mercúrio) marca um prazo, às vezes de cinco
minutos, um quarto de hora e até muitos dias. Logo que
ele chega, diz:
Aqui está ele. Podem então começar a ser feitas
as perguntas que se lhe quer dirigir.
O mensageiro nem sempre é um intermediário indispensável,
porquanto o Espírito pode ouvir diretamente o
chamado do evocador, conforme ficou dito no n.º 282,
pergunta 5, sobre o modo de transmissão do pensamento.
Quando dizemos que se faça a evocação em nome de
Deus, queremos que a nossa recomendação seja tomada a
sério e não levianamente. Os que nisso vejam o emprego de
uma fórmula sem consequências farão melhor abstendo-se.
272. Frequentemente, as evocações oferecem mais dificuldades
aos médiuns do que os ditados espontâneos, sobretudo
quando se trata de obter respostas precisas a questões
circunstanciadas. Para isto, são necessários médiuns
especiais, ao mesmo tempo flexíveis e positivos (e já ao
n.º 193 vimos que estes últimos são bastante raros), por
isso que, conforme dissemos, as relações fluídicas nem sempre
se estabelecem instantaneamente com o primeiro Espírito
que se apresente. Daí convir que os médiuns não se
entreguem às evocações pormenorizadas, senão depois de
estarem certos do desenvolvimento de suas faculdades e
da natureza dos Espíritos que os assistem, visto que com
os mal assistidos as evocações nenhum caráter podem ter
de autenticidade.
273. Os médiuns são geralmente muito mais procurados
para as evocações de interesse particular, do que para comunicações de interesse geral; isto se explica pelo desejo
muito natural que todos têm de confabular com os entes
que lhes são caros. Julgamos dever fazer a este propósito
algumas recomendações importantes aos médiuns. Primeiramente
que não acedam a esse desejo, senão com muita
reserva, se se trata de pessoas de cuja sinceridade não estejam
completamente seguros e que se acautelem das armadilhas
que lhes possam preparar pessoas malfazejas. Em
segundo lugar, que a tais evocações não se prestem, sob
fundamento algum, se perceberem um fim de simples
curiosidade, ou de interesse, e não uma intenção séria da
parte do evocador; que se recusem a fazer qualquer pergunta
ociosa, ou que sai do âmbito das que racionalmente
se podem dirigir aos Espíritos. As perguntas devem ser formuladas
com clareza, precisão e sem ideia preconcebida,
em se querendo respostas categóricas. Cumpre, pois, se
repilam todas as que tenham caráter insidioso, porquanto
é sabido que os Espíritos não gostam das que têm por objetivo
pô-los à prova. Insistir em questões desta natureza é
querer ser enganado. O evocador deve ferir franca e abertamente
o ponto visado, sem subterfúgios e sem
circunlóquios. Se receia explicar-se, melhor será que se
abstenha.
Convém igualmente que só com muita prudência se
façam evocações na ausência das pessoas que as pediram,
sendo mesmo preferível que não sejam feitas nessas condições, visto que somente aquelas pessoas se acham aptas a
analisar as respostas, a julgar da identidade, a provocar
esclarecimentos, se for oportuno, e a formular questões incidentes,
que as circunstâncias indiquem. Além disso, a presença delas é um laço que atrai o Espírito, quase sempre
pouco disposto a se comunicar com estranhos, que lhes
não inspiram nenhuma simpatia. O médium, em suma, deve
evitar tudo o que possa transformá-lo em agente de consultas,
o que, aos olhos de muitas pessoas, é sinônimo de
ledor da “buena-dicha”.
Espíritos que se podem evocar.
274. Todos os Espíritos, qualquer que seja o grau em que
se encontrem na escala espiritual, podem ser evocados:
assim os bons, como os maus, tanto os que deixaram a
vida de pouco, como os que viveram nas épocas mais remotas,
os que foram homens ilustres, como os mais obscuros,
os nossos parentes e amigos, como os que nos são indiferentes.
Isto, porém, não quer dizer que eles sempre queiram
ou possam responder ao nosso chamado. Independentemente
da própria vontade, ou da permissão, que lhes pode ser
recusada por uma potência superior, é possível se achem
impedidos de o fazer, por motivos que nem sempre nos é
dado conhecer. Queremos dizer que não há impedimento
absoluto que se oponha às comunicações, salvo o que dentro
em pouco diremos. Os obstáculos capazes de impedir
que um Espírito se manifeste são quase sempre individuais
e derivam das circunstâncias.
275. Entre as causas que podem impedir a manifestação
de um Espírito, umas lhe são pessoais e outras, estranhas.
Entre as primeiras, devem colocar-se as ocupações ou as
missões que esteja desempenhando e das quais não pode afastar-se, para ceder aos nossos desejos. Neste caso, sua
visita apenas fica adiada.
Há também a sua própria situação. Se bem que o estado
de encarnação não constitua obstáculo absoluto, pode
representar um impedimento, em certas ocasiões, sobretudo
quando aquela se dá nos mundos inferiores e quando o
próprio Espírito está pouco desmaterializado. Nos mundos
superiores, naqueles em que os laços entre o Espírito e a
matéria são muito fracos, a manifestação é quase tão fácil
quanto no estado errante, mais fácil, em todo caso, do que
nos mundos onde a matéria corpórea é mais compacta.
As causas estranhas residem principalmente na natureza
do médium, na da pessoa que evoca, no meio em que
se faz a evocação, enfim, no objetivo que se tem em vista.
Alguns médiuns recebem mais particularmente comunicações de seus Espíritos familiares, que podem ser mais ou
menos elevados; outros se mostram aptos a servir de intermediários
a todos os Espíritos, dependendo isto da simpatia
ou da antipatia, da atração ou da repulsão que o Espírito
pessoal do médium exerce sobre o Espírito chamado, o
qual pode tomá-lo por intérprete, com prazer, ou com repugnância.
Isto também depende, abstração feita das qualidades
íntimas do médium, do desenvolvimento da faculdade
mediúnica. Os Espíritos vêm de melhor vontade e,
sobretudo, são mais explícitos com um médium que lhes
não oferece nenhum obstáculo material. Aliás, em igualdade
de condições morais, quanto mais facilidade tenha o
médium para escrever ou para se exprimir, tanto mais se
generalizam suas relações com o mundo espírita.
276. Cumpre ainda levar em conta a facilidade que deve
resultar do hábito da comunicação com tal ou qual Espírito.
Com o tempo, o Espírito estranho se identifica com o do
médium e também com aquele que o chama. Posta de parte
a questão da simpatia, entre eles se estabelecem relações fluídicas que tornam mais prontas as comunicações.
Por isso é que uma primeira confabulação nem sempre é
tão satisfatória quanto fora de desejar e que os próprios
Espíritos pedem frequentemente que os chamem de novo.
O Espírito que vem habitualmente está como em sua casa:
fica familiarizado com seus ouvintes e intérpretes, fala e
age livremente.
277. Em resumo, do que acabamos de dizer resulta: que a
faculdade de evocar todo e qualquer Espírito não implica
para este a obrigação de estar à nossa disposição; que ele
pode vir em certa ocasião e não vir noutra, com um médium, ou um evocador que lhe agrade e não com outro;
dizer o que quer, sem poder ser constrangido a dizer o que
não queira; ir-se quando lhe aprouver; enfim, que por causas
dependentes ou não da sua vontade, depois de se haver
mostrado assíduo durante algum tempo, pode de repente
deixar de vir.
Por todos estes motivos é que, quando se deseja chamar
um Espírito que ainda não se apresentou, é necessário
perguntar ao seu guia protetor se a evocação é possível;
caso não o seja, ele geralmente dá as razões e então é inútil
insistir.
278. Uma questão importante se apresenta aqui, a de saber
se há ou não inconveniente em evocar maus Espíritos.
Isso depende do fim que se tenha em vista e do ascendente
que se possa exercer sobre eles. O inconveniente é nulo,
quando são chamados com um fim sério, qual o de os instruir
e melhorar; é, ao contrário, muito grande, quando
chamados por mera curiosidade ou por divertimento, ou,
ainda, quando quem os chama se põe na dependência deles,
pedindo-lhes um serviço qualquer. Os bons Espíritos,
nesse caso, podem muito bem dar-lhes o poder de fazerem
o que se lhes pede, o que não exclui seja severamente punido
mais tarde o temerário que ousou solicitar-lhe o auxílio
e supô-los mais poderosos do que Deus. Será em vão que
prometa a si mesmo, quem assim proceda, fazer dali em
diante bom uso do auxílio pedido e despedir o servidor, uma
vez prestado o serviço. Esse mesmo serviço que se solicitou,
por mínimo que seja, constitui um verdadeiro pacto
firmado com o mau Espírito e este não larga facilmente a
sua presa. (Veja-se o n.º 212.)
279. Ninguém exerce ascendentes sobre os Espíritos inferiores,
senão pela superioridade moral. Os Espíritos perversos
sentem que os homens de bem os dominam. Contra
quem só lhes oponha a energia da vontade, espécie de força
bruta, eles lutam e muitas vezes são os mais fortes. A alguém
que procurava domar um Espírito rebelde, unicamente
pela ação da sua vontade, respondeu àquele:
Deixa-me em paz, com teus ares de matamouros, que não vales mais do que eu; dir-se-ia um ladrão a pregar moral a outro ladrão.
Há quem se espante de que o nome de Deus, invocado
contra eles, nenhum efeito produza. A razão desse fato
deu-no-la São Luís, na resposta seguinte:
“O nome de Deus só tem influência sobre os Espíritos
imperfeitos quando proferido por quem possa, pelas suas
virtudes, servir-se dele com autoridade. Pronunciado por
quem nenhuma superioridade moral tenha, com relação ao
Espírito, é uma palavra como qualquer outra. O mesmo se
dá com as coisas santas com que se procure dominá-los. A
mais terrível das armas se torna inofensiva em mãos inábeis a se servirem dela, ou incapazes de manejá-la.”
Linguagem de que se deve usar com os Espíritos.
280. O grau de superioridade ou inferioridade dos Espíritos
indica naturalmente em que tom convém se lhes fale. É
evidente que, quanto mais elevados eles sejam, tanto mais
direito têm ao nosso respeito, às nossas atenções e à nossa
submissão. Não lhes devemos demonstrar menos deferência
do que lhes demonstraríamos, embora por outros motivos,
se estivessem vivos. Na Terra, levaríamos em consideração
a categoria e a posição social deles; no mundo dos
Espíritos, o nosso respeito tem que ser motivado pela superioridade
moral de que desfrutam. A própria elevação que
possuem os coloca acima das puerilidades das nossas fórmulas
bajulatórias. Não é com palavras que se lhes pode
captar a benevolência, mas pela sinceridade dos sentimentos.
Seria, pois, ridículo estarmos a dar-lhes os títulos que
os nossos usos consagram, para distinção das categorias, e
que porventura lhes lisonjeariam a vaidade, quando vivos.
Se são realmente superiores, não somente nenhuma importância
dão a esses títulos, como até lhes desagrada que
os empreguemos. Um bom pensamento lhes é mais agradável do que os mais elogiosos epítetos; se assim não fosse,
eles não estariam acima da humanidade.
O Espírito de venerável eclesiástico, que foi na Terra
um príncipe da Igreja, homem de bem, praticante da lei de
Jesus, respondeu certa vez a alguém que o evocara dando-lhe o título de monsenhor: “Deveras, ao menos, dizer:
ex-monsenhor, porquanto aqui um só senhor há — Deus.
Fica sabendo: muitos vejo, que na Terra se ajoelhavam na
minha presença, diante dos quais hoje me inclino.”
Quanto aos Espíritos inferiores, o caráter que revelam
nos traça a linguagem de que devemos usar para com eles.
Há os que, embora inofensivos e até delicados, são levianos,
ignorantes, estouvados. Dar-lhes tratamento igual ao
que dispensamos aos Espíritos sérios, como o fazem certas
pessoas, o mesmo fora que nos inclinarmos diante de um
colegial, ou diante de um asno que trouxesse barrete de
doutor. O tom de familiaridade não seria descabido entre
eles, que por isso não se formalizam; ao contrário, acolhem-no
de muito boa vontade.
Entre os Espíritos inferiores, muitos há que são infelizes.
Quaisquer que sejam as faltas que estejam expiando,
seus sofrimentos constituem títulos tanto maiores à nossa
comiseração, quanto é certo que ninguém pode lisonjear-se
de lhe não caberem estas palavras do Cristo: “Atire a primeira
pedra aquele que estiver sem pecado.” A benignidade
que lhe testemunhemos representa para eles um alívio.
Em falta de simpatia, precisam encontrar em nós a indulgência
que desejaríamos tivessem conosco.
Os Espíritos que revelam a sua inferioridade pelo cinismo
da linguagem, pelas mentiras, pela baixeza dos sentimentos, pela perfídia dos conselhos, são, indubitavelmente,
menos dignos do nosso interesse, do que aqueles cujas
palavras atestam o seu arrependimento; mas, pelo menos,
devemo-lhes a piedade que nos inspiram os maiores criminosos
e o meio de os reconduzirmos ao silêncio consiste
em nos mostrarmos superiores a eles, que não confiam
senão nas pessoas de quem julgam nada terem que temer,
porquanto os Espíritos perversos sentem que os homens
de bem, como os Espíritos elevados, são seus superiores.
Em resumo, tão irreverente seria tratarmos de igual
para igual os Espíritos superiores, quanto ridículo seria dispensarmos
a todos, sem exceção, a mesma deferência. Tenhamos
veneração para os que a merecem, reconhecimento
para os que nos protegem e nos assistem e, para todos
os demais, a benignidade de que talvez um dia venhamos a
necessitar. Penetrando no mundo incorpóreo, aprendemos
a conhecê-lo e esse conhecimento nos deve guiar em nossas
relações com os que o habitam. Os antigos, na sua
ignorância, levantaram-lhes altares; para nós, eles são apenas
criaturas mais ou menos perfeitas, e altares só a Deus
se levantam.
Utilidade das evocações particulares.
281. As comunicações que se obtêm dos Espíritos muito
elevados, ou dos que animaram grandes personagens da
antiguidade, são preciosas, pelos altos ensinamentos que
encerram. Esses Espíritos conquistaram um grau de perfeição
que lhes permite abranger muito mais extenso campo
de ideias, penetrar mistérios que escapam ao alcance
vulgar da humanidade e, por conseguinte, iniciar-nos melhor do que outros em certas coisas. Não se segue daí sejam
inúteis as comunicações dos Espíritos de ordem menos
elevada. Delas muita instrução colhe o observador. Para
se conhecerem os costumes de um povo, mister se faz
estudá-lo em todos os graus da escala. Mal o conhece quem
não o tenha visto senão por uma face. A história de um
povo não é a dos seus reis, nem a das suas sumidades
sociais; para julgá-lo, é preciso vê-lo na vida íntima, nos
hábitos particulares.
Ora, os Espíritos superiores são as sumidades do mundo
espírita; a própria elevação em que se acham os coloca
de tal modo acima de nós, que nos aterra a distância a que
deles estamos. Espíritos mais burgueses (que se nos relevem
esta expressão) nos tornam mais palpáveis as circunstâncias
da nova existência em que se encontram. Neles, a
ligação entre a vida corpórea e a vida espírita é mais íntima,
compreendemo-la melhor, porque ela nos toca mais de
perto. Aprendendo, pelo que eles nos dizem, em que se tornaram,
o que pensam e o que experimentam os homens de
todas as condições e de todos os caracteres, assim os de
bem como os viciosos, os grandes e os pequenos, os ditosos
e os desgraçados do século, numa palavra: os que viveram
entre nós, os que vimos e conhecemos, os de quem sabemos
a vida real, as virtudes e os erros, bem lhes compreendemos
as alegrias e os sofrimentos, a umas e outros nos
associamos e destes e daquelas tiramos um ensinamento
moral, tanto mais proveitoso, quanto mais estreitas forem
as nossas relações com eles. Mais facilmente nos pomos no
lugar daquele que foi nosso igual, do que no de outro que
apenas divisamos através da miragem de uma glória
celestial. Os Espíritos vulgares nos mostram a aplicação prática das grandes e sublimes verdades, cuja teoria os
Espíritos superiores nos ministram. Aliás, no estudo de
uma ciência, nada é inútil. Newton achou a lei das forças
do universo no mais simples dos fenômenos.
A evocação dos Espíritos vulgares tem, além disso, a
vantagem de nos pôr em contacto com Espíritos sofredores,
que podemos aliviar e cujo adiantamento podemos facilitar,
por meio de bons conselhos. Todos, pois, nos podemos
tornar úteis, ao mesmo tempo que nos instruímos. Há
egoísmo naquele que somente a sua própria satisfação procura
nas manifestações dos Espíritos, e dá prova de orgulho
aquele que deixa de estender a mão em socorro dos
desgraçados. De que lhe serve obter belas comunicações
de Espíritos de escol, se isso não o faz melhor para consigo
mesmo, nem mais caridoso e benévolo para com seus irmãos
deste mundo e do outro? Que seria dos pobres doentes,
se os médicos se recusassem a lhes tocar as chagas?
282. Questões sobre as evocações.
1.ª. Pode alguém, sem ser médium, evocar os Espíritos?
“Toda gente pode evocar os Espíritos e, se aqueles que
evocares não puderem manifestar-se materialmente, nem
por isso deixarão de estar junto de ti e de te escutar.”
2.ª. O Espírito evocado atende sempre ao chamado que
se lhe dirige?
“Isso depende das condições em que se encontre, porquanto
há circunstâncias em que não o pode fazer.”
3.ª. Quais as causas que podem impedir atenda um Espírito
ao nosso chamado?
“Em primeiro lugar, a sua própria vontade; depois, se se acha encarnado, o
seu estado corporal, as missões de
que esteja encarregado, ou ainda o lhe ser, para isso, negada
permissão.
“Há Espíritos que nunca podem comunicar-se: os que,
por sua natureza, ainda pertencem a mundos inferiores à
Terra. Tampouco o podem os que se acham nas esferas de
punição, a menos que especial permissão lhes seja dada,
com um fim de utilidade geral. Para que um Espírito possa
comunicar-se, preciso é tenha alcançado o grau de adiantamento
do mundo onde o chamam, pois, do contrário, estranho
que ele é às ideias desse mundo, nenhum ponto de
comparação terá para se exprimir. O mesmo já não se dá
com os que estão em missão, ou em expiação, nos mundos
inferiores. Esses têm as ideias necessárias para responder
ao chamado.”
4.ª. Por que motivo pode a um Espírito ser negada permissão
para se comunicar?
“Pode ser uma prova, ou uma punição, para ele, ou
para aquele que o chama.”
5.ª. Como podem os Espíritos, dispersos pelo espaço
ou pelos diferentes mundos, ouvir as evocações que lhes
são dirigidas de todos os pontos do universo?
“Muitas vezes são prevenidos pelos Espíritos familiares
que vos cercam e que os vão procurar. Porém, aqui se
passa um fenômeno difícil de vos ser explicado porque ainda
não podeis compreender o modo de transmissão do pensamento
entre os Espíritos. O que te posso afirmar é que o
Espírito evocado, por muito afastado que esteja, recebe, por assim dizer, o choque do pensamento como uma espécie de comoção elétrica que lhe chama a atenção para o
lado de onde vem o pensamento que o atinge. Pode dizer-se
que ele ouve o pensamento, como na Terra ouves a voz.”
a) Será o fluido universal o veículo do pensamento,
como o ar o é do som?
“Sim, com a diferença de que o som não pode fazer-se
ouvir senão dentro de um espaço muito limitado, enquanto
que o pensamento alcança o infinito. O Espírito, no além, é
como o viajante que, em meio de vasta planície, ouvindo
pronunciar o seu nome, se dirige para o lado de onde o
chamam.”
6.ª. Sabemos que as distâncias nada são para os Espíritos; contudo, causa espanto ver que respondem tão prontamente
ao chamado, como se estivessem muito perto.
“É que, com efeito, às vezes, o estão. Se a evocação é
premeditada, o Espírito se acha de antemão prevenido e
frequentemente se encontra no lugar onde o vão evocar,
antes que o chamem.”
7.ª. Dar-se-á que o pensamento do evocador seja mais
ou menos facilmente percebido, conforme as circunstâncias?
“Sem dúvida alguma. O Espírito é mais vivamente atingido,
quando chamado por um sentimento de simpatia e de
bondade. É como uma voz amiga que ele reconhece. Ao não
se dar isso, acontece com frequência que a evocação nenhum
efeito produza. O pensamento que se desprende da
evocação toca o Espírito; se é mal dirigido, perde-se no vácuo. Dá-se com os Espíritos o que se dá com os homens; se aquele que os chama lhes é indiferente ou antipático, podem
ouvi-lo, porém, as mais das vezes, não o atendem.”
8.ª. O Espírito evocado vem espontaneamente, ou
constrangido?
“Obedece à vontade de Deus, isto é, à lei geral que rege
o universo. Todavia, a palavra
constrangido não se ajusta
ao caso, porquanto o Espírito julga da utilidade de vir, ou
deixar de vir. Ainda aí exerce o livre-arbítrio. O Espírito
superior vem sempre que chamado com um fim útil; não se
nega a responder, senão a pessoas pouco sérias e que tratam
destas coisas por divertimento.”
9.ª. Pode o Espírito evocado negar-se a atender ao chamado
que lhe é dirigido?
“Perfeitamente; onde estaria o seu livre-arbítrio, se assim
não fosse? Pensais que todos os seres do universo estão
às vossas ordens? Vós mesmos vos considerais obrigados
a responder a todos os que vos pronunciam os nomes?
Quando digo que o Espírito pode recusar-se, refiro-me ao
pedido do evocador, visto que um Espírito inferior pode ser
constrangido a vir, por um Espírito superior.”
10.ª. Haverá, para o evocador, meio de constranger um
Espírito a vir, a seu mau grado?
“Nenhum, desde que o Espírito lhe seja igual, ou superior,
em moralidade. Digo — em moralidade e não em
inteligência, porque, então, nenhuma autoridade tem o
evocador sobre ele. Se lhe é inferior, o evocador pode consegui-lo,
desde que seja para bem do Espírito, porque, nesse
caso, outros Espíritos o secundarão.” (N.º 279.)
11.ª. Haverá inconveniente em se evocarem Espíritos
inferiores? E será de temer que, chamando-os, o evocador
lhes fique sob o domínio?
“Eles não dominam senão os que se deixam dominar.
Aquele que é assistido por bons Espíritos nada tem que
temer. Impõe-se aos Espíritos inferiores e não estes a ele.
Isolados, os médiuns, sobretudo os que começam, devem
abster-se de tais evocações. (N.º 278.)
12.ª. Serão necessárias algumas disposições especiais
para as evocações?
“A mais essencial de todas as disposições é o recolhimento,
quando se deseja entrar em comunicação com Espíritos
sérios. Com fé e com o desejo do bem, tem-se mais
força para evocar os Espíritos superiores. Elevando sua
alma, por alguns instantes de recolhimento, quando da evocação,
o evocador se identifica com os bons Espíritos e os
dispõe a virem.”
13.ª. Para as evocações, é preciso fé?
“A fé em Deus, sim; para o mais, a fé virá, se desejardes
o bem e tiverdes o propósito de instruir-vos.”
14.ª. Reunidos em comunhão de pensamentos e de intenções,
dispõem os homens de mais poder para evocar os
Espíritos?
“Quando todos estão reunidos pela caridade e para o
bem, grandes coisas alcançam. Nada mais prejudicial ao
resultado das evocações do que a divergência de ideias.”
15.ª. Será conveniente a precaução de se formar cadeia,
dando-se todos as mãos, alguns minutos antes de
começar a reunião?
“A cadeia é um meio material, que não estabelece entre
vós a união, se esta não existe nos pensamentos; mais
conveniente do que isso é unirem-se todos por um pensamento
comum, chamando cada um, de seu lado, os bons
Espíritos. Não imaginais o que se pode obter numa reunião
séria, de onde se haja banido todo sentimento de orgulho
e de personalismo e onde reine perfeito o de mútua
cordialidade.”
16.ª. São preferíveis as evocações em dias e horas
determinados?
“Sim e, se for possível, no mesmo lugar: os Espíritos aí
acorrem com mais satisfação. O desejo constante que tendes
é que auxilia os Espíritos a se porem em comunicação
convosco. Eles têm ocupações, que não podem deixar de
improviso, para satisfação pessoal vossa. Digo –– no mesmo
lugar, mas não julgueis que isso deva constituir uma
obrigação absoluta, porquanto os Espíritos vão a toda parte.
Quero dizer que um lugar consagrado às reuniões é preferível,
porque o recolhimento se faz mais perfeito.”
17.ª. Certos objetos, como medalhas e talismãs, têm a
propriedade de atrair ou repelir os Espíritos, conforme pretendem
alguns?
“Esta pergunta era escusada, porquanto bem sabes que
a matéria nenhuma ação exerce sobre os Espíritos. Fica
bem certo de que nunca um bom Espírito aconselhará semelhantes
absurdidades. A virtude dos talismãs, de qualquer
natureza que sejam, jamais existiu, senão na imaginação
das pessoas crédulas.”
18.ª. Que se deve pensar dos Espíritos que marcam encontros
em lugares lúgubres e a horas indevidas?
“Esses Espíritos se divertem à custa dos que lhes dão
ouvidos. É sempre inútil e não raro perigoso ceder a tais
sugestões: inútil, porque nada absolutamente se ganha em
ser mistificado; perigoso, não pelo mal que possam fazer os
Espíritos, mas pela influência que isso pode ter sobre cérebros
fracos.”
19.ª. Haverá dias e horas mais propícias para as
evocações?
“Para os Espíritos, isso é completamente indiferente,
como tudo o que é material, e fora superstição acreditar-se
na influência dos dias e das horas. Os momentos mais propícios
são aqueles em que o evocador possa estar menos
distraído pelas suas ocupações habituais, em que se ache
mais calmo de corpo e de espírito.”
20.ª. Para os Espíritos, a evocação é coisa agradável ou
penosa? Eles vêm de boa vontade, quando chamados?
“Isso depende do caráter deles e do motivo com que
são chamados. Quando é louvável o objetivo e quando o
meio lhes é simpático, a evocação constitui para eles coisa
agradável e mesmo atraente; os Espíritos se sentem sempre
ditosos com a afeição que se lhes demonstre. Alguns há
para os quais representa grande felicidade se comunicarem
com os homens e que sofrem com o abandono em que são
deixados. Mas, como já disse, isto igualmente depende dos
caracteres deles. Entre os Espíritos, também há misantropos,
que não gostam de ser incomodados e cujas respostas
se ressentem do mau humor em que vivem, sobretudo quando
chamados por pessoas que lhes são indiferentes, pelas
quais não se interessam. Um Espírito nenhum motivo tem,
muitas vezes, para atender ao chamado de um desconhecido, que lhe é indiferente e que quase sempre tem a inspirá-lo a curiosidade. Se vem, suas aparições, em geral, são
curtas, a menos que a evocação vise a um fim sério e instrutivo.”
Nota. Há pessoas que só evocam seus parentes para lhes
perguntar as coisas mais vulgares da vida material, por exemplo:
um, para saber se alugará ou venderá sua casa; outro, para saber
que lucro tirará da sua mercadoria, o lugar em que há dinheiro
escondido, se tal negócio será ou não vantajoso. Nossos parentes
de além-túmulo por nós só se interessam em virtude da afeição
que lhes consagremos. Se os nossos pensamentos, com relação a
eles, se limitam a supô-los feiticeiros, se neles só pensamos para
lhes pedir informações, é claro que não nos podem ter grande
simpatia e ninguém deve surpreender-se com a pouca benevolência
que lhes demonstrem.
21.ª. Alguma diferença há entre os bons e os maus
Espíritos, pelo que toca à solicitude com que atendam ao
nosso chamado?
“Uma bem grande há: os maus Espíritos não vêm de
boa vontade, senão quando contam dominar e enganar;
experimentam viva contrariedade, quando forçados a vir,
para confessarem suas faltas, e outra coisa não procuram
senão ir-se embora, como um colegial a quem se chama
para repreendê-lo. Podem a isso ser constrangidos por Espíritos
superiores, como castigo e para instrução dos encarnados.
A evocação é penosa para os bons Espíritos,
quando são chamados inutilmente, para futilidades. Então,
ou não vêm, ou se retiram logo.
“Podeis dizer que, em princípio, os Espíritos, quaisquer
que eles sejam, não gostam, exatamente como vós, de servir de distração a curiosos. Frequentemente, outro fim não
tendes, evocando um Espírito, senão ver o que ele vos dirá ou
interrogá-lo sobre particularidades de sua vida, que ele não
deseja dar-vos a conhecer, porque nenhum motivo tem para
vos fazer confidências. Julgais que ele se vá colocar na berlinda,
somente para vos dar prazer? Desenganai-vos; o que ele não
faria em vida não fará tampouco como Espírito.”
Nota. A experiência, com efeito, prova que a evocação é sempre
agradável aos Espíritos, quando feita com fim sério e útil. Os bons
vêm prazerosamente instruir-nos; os que sofrem encontram alívio
na simpatia que se lhes demonstra; os que conhecemos ficam satisfeitos
com o se saberem lembrados, os levianos gostam de ser evocados
pelas pessoas frívolas, porque isso lhes proporciona
ensejo de se divertirem à custa delas; sentem-se pouco à vontade
com pessoas graves.
22.ª. Para se manifestarem, têm sempre os Espíritos
necessidade de ser evocados?
“Não; muito frequentemente, eles se apresentam sem
serem chamados, o que prova que vêm de boa vontade.”
23.ª. Quando um Espírito se apresenta por si mesmo,
pode-se estar certo da sua identidade?
“De maneira alguma, porquanto os Espíritos enganadores
empregam amiúde esse meio, para melhor mistificarem.”
24.ª. Quando se evoca pelo pensamento o Espírito de
uma pessoa, esse Espírito vem, ainda mesmo que não haja
manifestação pela escrita, ou de outro modo?
“A escrita é um meio material, para o Espírito, de atestar
a sua presença, mas o pensamento é que o atrai e não
o fato da escrita.”
25.ª. Quando se manifeste um Espírito inferior, poder-se-á obrigá-lo a retirar-se?
“Sim, não se lhe dando atenção. Mas, como quereis
que se retire, quando vos divertis com as torpezas? Os Espíritos
inferiores se ligam aos que os escutam com complacência,
como os tolos entre vós.”
26.ª. A evocação feita em nome de Deus é uma garantia
contra a imiscuência dos maus Espíritos?
“O nome de Deus não constitui freio para todos os Espíritos,
mas contém muitos deles; por esse meio, sempre
afastareis alguns e muitos mais afastareis, se ela for feita
do fundo do coração e não como fórmula banal.”
27.ª. Poder-se-á evocar nominativamente muitos Espíritos ao mesmo tempo?
“Não há nisso dificuldade alguma e, se tivésseis três
ou quatro mãos para escrever, três ou quatro Espíritos vos
responderiam ao mesmo tempo; é o que ocorre se se dispõe
de muitos médiuns.”
28.ª. Quando muitos Espíritos são evocados simultaneamente,
não havendo mais de um médium, qual o que
responde?
“Um deles responde por todos e exprime o pensamento
coletivo.”
29.ª. Poderia o mesmo Espírito comunicar-se, simultaneamente,
durante uma sessão, por dois médiuns diferentes?
“Tão facilmente quanto, entre vós, os que ditam várias
cartas ao mesmo tempo.”
Nota. Vimos um Espírito responder, servindo-se de dois médiuns ao mesmo tempo, às perguntas que lhe eram dirigidas, por
um em francês, por outro em inglês, sendo idênticas as respostas
quanto ao sentido; algumas até eram a tradução literal de outras.
Dois Espíritos, evocados simultaneamente por dois médiuns,
podem travar entre si uma conversação. Sem que este modo de
comunicação lhes seja necessário, pois que reciprocamente um
lê os pensamentos do outro, eles se prestam a isso, algumas vezes,
para nossa instrução. Se são Espíritos inferiores, como ainda
estão imbuídos das paixões terrenas e das ideias corpóreas,
pode acontecer que disputem e se apostrofem com palavras pesadas,
que se reprochem mutuamente os erros e até que atirem os
lápis, as cestas, as pranchetas, etc., um contra o outro.
30.ª. Pode o Espírito, simultaneamente evocado em muitos
pontos, responder ao mesmo tempo às perguntas que
lhe são dirigidas?
“Pode, se for um Espírito elevado.”
a) Nesse caso, o Espírito se divide ou tem o dom da
ubiquidade?
“O Sol é um só e, no entanto, irradia ao seu derredor,
levando longe seus raios, sem se dividir. Do mesmo modo,
os Espíritos. O pensamento do Espírito é como uma centelha
que projeta longe a sua claridade e pode ser vista de
todos os pontos do horizonte. Quanto mais puro é o Espírito
tanto mais o seu pensamento se irradia e se estende,
como a luz. Os Espíritos inferiores são muito materiais; não podem responder senão a uma única pessoa de cada
vez, nem vir a um lugar, se são chamados em outro.
“Um Espírito superior, chamado ao mesmo tempo em
pontos diferentes, responderá a ambas as evocações, se
forem ambas sérias e fervorosas. No caso contrário, dá preferência
à mais séria.”
Nota. É o que sucede com um homem que, sem mudar de
lugar, pode transmitir seu pensamento por meio de sinais perceptíveis
de diferentes lados.
Numa sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas,
em a qual fora discutida a questão da ubiquidade, um Espírito
ditou espontaneamente a comunicação seguinte:
“Inquiríeis esta noite qual a hierarquia dos Espíritos, no tocante
à ubiquidade. Comparai-vos a um aeróstato que se eleva
pouco a pouco nos ares. Enquanto ele rasteja na terra, só os que
estão dentro de um pequeno círculo o podem perceber; à medida
que se eleva, o círculo se lhe alarga e, em chegando a certa altura,
se torna visível a uma infinidade de pessoas. É o que se dá
conosco; um mau Espírito, que ainda se acha preso à Terra, permanece
num círculo restrito, entre as pessoas que o veem. Suba
ele na graça, melhore-se e poderá conversar com muitas pessoas.
Quando se haja tornado Espírito superior, pode irradiar como a
luz do Sol, mostrar-se a muitas pessoas e em muitos lugares ao
mesmo tempo.”
Channing.
31.ª. Podem ser evocados os puros Espíritos, os que hão
terminado a série de suas encarnações?
“Podem, mas muito raramente atenderão. Eles só se
comunicam com os de coração puro e sincero e não com os
orgulhosos e egoístas. Por isso mesmo, é preciso desconfiar dos Espíritos inferiores que alardeiam essa qualidade,
para se darem importância aos vossos olhos.”
32.ª. Como é que os Espíritos dos homens mais ilustres
acodem tão facilmente e tão familiarmente ao chamado dos
homens mais obscuros?
“Os homens julgam por si os Espíritos, o que é um
erro. Após a morte do corpo, as categorias terrenas deixam
de existir. Só a bondade estabelece distinção entre eles e os
que são bons vão a toda parte onde haja um bem a fazer-se.”
33.ª. Quanto tempo deve decorrer, depois da morte, para
que se possa evocar um Espírito?
“Podeis fazê-lo no instante mesmo da morte; mas, como
nesse momento o Espírito ainda está em perturbação, só
muito imperfeitamente responde.”
Nota. Sendo variável o tempo que dura a perturbação, não
pode haver prazo fixo para fazer-se a evocação. Entretanto, é raro
que, ao cabo de oito dias, o Espírito já não tenha conhecimento
do seu estado, para poder responder. Algumas vezes, isso lhe é
possível dois ou três dias depois da morte. Em todos os casos se
pode experimentá-lo com prudência.
34.ª. A evocação, no momento da morte, é mais penosa
para o Espírito do que algum tempo depois?
“Algumas vezes. É como se vos arrancassem ao sono,
antes que estivésseis completamente acordados. Alguns há,
todavia, que de nenhum modo se contrariam com isso e
aos quais a evocação até ajuda a sair da perturbação.”
35.ª. Como pode o Espírito de uma criança, que morreu
em tenra idade, responder com conhecimento de causa, se,
quando viva, ainda não tinha consciência de si mesma?
“A alma da criança é um Espírito ainda envolto nas
faixas da matéria; porém, desprendido desta, goza de suas
faculdades de Espírito, porquanto os Espíritos não têm idade,
o que prova que o da criança já viveu. Entretanto, até
que se ache completamente desligado da matéria, pode conservar,
na linguagem, traços do caráter da criança.”
Nota. A influência corpórea, que se faz sentir, por mais ou
menos tempo, sobre o Espírito da criança, igualmente é notada,
às vezes, no Espírito dos que morreram em estado de loucura. O
Espírito, em si mesmo, não é louco; sabe-se, porém, que certos
Espíritos julgam, durante algum tempo, que ainda pertencem a
este mundo. Não é, pois, de admirar que, no louco, o Espírito
ainda se ressinta dos entraves que, durante a vida, se opunham à
livre manifestação de seus pensamentos, até que se encontre completamente
desprendido da matéria. Este efeito varia, conforme
as causas da loucura, porquanto há loucos que, logo depois da
morte, recobram toda a sua lucidez.
283. Evocações dos animais.
36.a. Pode evocar-se o espírito de um animal?
“Depois da morte do animal, o princípio inteligente que
nele havia se acha em estado latente e é logo utilizado, por
certos Espíritos incumbidos disso, para animar novos seres,
em os quais continua ele a obra de sua elaboração.
Assim, no mundo dos Espíritos, não há, errantes, Espíritos
de animais, porém unicamente Espíritos humanos.”
a) Como é então que, tendo evocado animais, algumas
pessoas hão obtido resposta?
“Evoca um rochedo e ele te responderá. Há sempre
uma multidão de Espíritos prontos a tomar a palavra, sob
qualquer pretexto.”
Nota. Pela mesma razão, se se evocar um mito, ou uma personagem
alegórica, ela responderá, isto é, responderão por ela, e
o Espírito que, como sendo ela, se apresentar, lhe tomará o caráter e as maneiras. Alguém teve um dia a ideia de evocar Tartufo e
Tartufo veio logo. Mais ainda: falou de Orgon, de Elmira, de Dâmide
e de Valéria, de quem deu notícias. Quanto a si próprio, imitou o
hipócrita com tanta arte, que se diria o próprio Tartufo, se este
houvera existido. Disse mais tarde ser o Espírito de um ator que
desempenhara esse papel. Os Espíritos levianos se aproveitam
sempre da inexperiência dos interrogantes; guardam-se, porém,
de dirigir-se aos que eles sabem bastante esclarecidos para lhes
descobrir as imposturas e que não lhes dariam crédito aos contos.
O mesmo sucede entre os homens.
Um senhor tinha em seu jardim um ninho de pintassilgos,
pelos quais se interessava muito. Certo dia, desapareceu o ninho.
Tendo-se certificado de que ninguém da sua casa era culpado
do delito, como fosse ele médium, teve a ideia de evocar a mãe
das avezinhas. Ela veio e lhe disse em muito bom francês: “A
ninguém acuses e tranquiliza-te quanto à sorte de meus filhinhos;
foi o gato que, saltando, derribou o ninho; encontrá-lo-ás
debaixo dos arbustos, assim como os passarinhos, que não foram
comidos.” Feita a verificação, reconheceu ele exato o que lhe
fora dito. Dever-se-á concluir ter sido o pássaro quem respondeu?
Certamente que não; mas, apenas, um Espírito que conhecia
a história. Isso prova quanto se deve desconfiar das aparências
e quanto é preciosa a resposta acima:
evoca um rochedo e
ele te responderá
(Veja-se atrás o capítulo "Da Mediunidade nos
animais", n.º 234.)
284. Evocações das pessoas vivas.
37.ª. A encarnação do Espírito constitui obstáculo à sua
evocação?
“Não, mas é necessário que o estado do corpo permita
que no momento da evocação o Espírito se desprenda. Com
tanto mais facilidade vem o Espírito encarnado, quanto mais
elevado for em categoria o mundo onde ele está, porque
menos materiais são lá os corpos.”
38.ª. Pode evocar-se o Espírito de uma pessoa viva?
“Pode-se, visto que se pode evocar um Espírito encarnado.
O Espírito de um vivo também pode, em seus momentos
de liberdade, se apresentar sem ser evocado; isto
depende da simpatia que tenha pelas pessoas com quem se
comunica.” (Veja-se, em n.º 116, a "História do homem da
tabaqueira".)
39.ª. Em que estado se acha o corpo da pessoa cujo
Espírito é evocado?
“Dorme, ou cochila; é quando o Espírito está livre.”
a) Poderia o corpo despertar enquanto o Espírito está
ausente?
“Não; o Espírito é forçado a reentrar na sua habitação; se,
no momento, ele estiver confabulando convosco, deixa-vos
e às vezes diz por que motivo.”
40.ª. Como, estando ausente do corpo, o Espírito é avisado
da necessidade da sua presença?
“O Espírito jamais está completamente separado do
corpo vivo em que habita; qualquer que seja a distância a que se transporte, a ele se conserva ligado por um laço
fluídico que serve para chamá-lo, quando se torne preciso.
Esse laço só a morte o rompe.”
Nota. Esse laço fluídico há sido muitas vezes percebido por
médiuns videntes. É uma espécie de cauda fosforescente que se
perde no espaço e na direção do corpo. Alguns Espíritos hão dito
que por aí é que reconhecem os que ainda se acham presos ao
mundo corporal.
41.ª. Que sucederia se, durante o sono e na ausência
do Espírito, o corpo fosse mortalmente ferido?
“O Espírito seria avisado e voltaria antes que a morte
se consumasse.”
a) Assim, não poderá dar-se que o corpo morra na ausência
do Espírito e que este, ao voltar, não possa entrar?
“Não; seria contrário à lei que rege a união da alma e
do corpo.”
b) Mas, se o golpe for dado subitamente e de improviso?
“O Espírito será prevenido antes que o golpe mortal
seja vibrado.”
Nota. Interrogado sobre este fato, respondeu o Espírito de um
vivo: “Se o corpo pudesse morrer na ausência do Espírito, este seria
um meio muito cômodo de se cometerem suicídios hipócritas.”
42.ª. O Espírito de uma pessoa evocada durante o sono
é tão livre de se comunicar como o de uma pessoa morta?
“Não; a matéria sempre o influencia mais ou menos.”
Nota. Uma pessoa, que se achava nesse estado e a quem foi
feita essa pergunta, respondeu: Estou sempre ligada à grilheta
que arrasto comigo.
a) Nesse estado, poderia o Espírito ser impedido de vir,
por se achar em outra parte?
“Sim, pode acontecer que o Espírito esteja num lugar
onde lhe apraza permanecer e então não acode à evocação,
sobretudo quando feita por quem não o interesse.”
43.ª. É absolutamente impossível evocar-se o Espírito
de uma pessoa acordada?
“Ainda que difícil, não é absolutamente impossível, porquanto,
se a evocação produz efeito, pode dar-se que a
pessoa adormeça; mas, o Espírito não pode comunicar-se,
como Espírito, senão nos momentos em que a sua presença não é necessária à atividade inteligente do corpo.”
Nota. A experiência prova que a evocação feita durante o estado
de vigília pode provocar o sono, ou, pelo menos, um torpor
aproximado do sono, mas semelhante efeito não se pode produzir
senão por ato de uma vontade muito enérgica e se existirem laços
de simpatia entre as duas pessoas; de outro modo, a evocação
nenhum resultado dá. Mesmo no caso de a evocação poder provocar
o sono, se o momento é inoportuno, a pessoa, não querendo
dormir, oporá resistência e, se sucumbir, seu Espírito ficará perturbado
e dificilmente responderá. Segue-se daí que o momento
mais favorável para a evocação de uma pessoa viva é o do sono
natural, porque, estando livre, seu Espírito pode vir ter com aquele
que o chama, do mesmo modo que poderá ir algures.
Quando a evocação é feita com consentimento da pessoa e
esta procura dormir para esse efeito, pode acontecer que essa
preocupação retarde o sono e perturbe o Espírito. Por isso, o sono
não forçado é sempre preferível.
44.ª. Evocada, uma pessoa viva conserva a lembrança
da evocação, depois de despertar?
“Não; vós mesmos o sois mais frequentemente do que
pensais. Só o Espírito o sabe, podendo às vezes deixar do
fato uma impressão vaga, qual a de um sonho.”
a) Quem pode evocar-nos, sendo nós, como somos,
seres obscuros?
“Pode suceder que em outras existências tenhais sido
pessoas conhecidas nesse mundo, ou em outros. Podem
fazê-lo igualmente vossos parentes e amigos nesse mundo,
ou em outros. Suponhamos que teu Espírito tenha animado
o corpo do pai de outra pessoa. Pois bem, quando essa
pessoa evocar seu pai, é teu Espírito que será evocado e
quem responderá.”
45.ª. Evocado o Espírito de uma pessoa viva, responde
ele como Espírito, ou com as ideias que tem no estado de
vigília?
“Isso depende da sua elevação; porém, sempre julga
com mais ponderação e tem menos prejuízos, exatamente
como os sonâmbulos; é um estado quase semelhante.”
46.ª. Se fosse evocado no estado de sono magnético, o
Espírito de um sonâmbulo seria mais lúcido do que o de
qualquer outra pessoa?
“Responderia sem dúvida mais facilmente, por estar
mais desprendido; tudo decorre do grau de independência
do Espírito com relação ao corpo.”
a) Poderia o Espírito de um sonâmbulo responder a
uma pessoa que o evocasse a distância, ao mesmo tempo
que respondesse verbalmente a outra pessoa?
“A faculdade de se comunicar simultaneamente em dois
pontos diferentes só a têm os Espíritos completamente desprendidos
da matéria.”
47.ª. Poder-se-iam modificar as ideias de uma pessoa
em estado de vigília, atuando-se sobre o seu Espírito
durante o sono?
“Algumas vezes, será possível. Não estando o Espírito
então preso à matéria por laços tão estreitos, mais acessível se acha às impressões morais, e essas impressões podem
influir sobre a sua maneira de ver no estado ordinário.
Infelizmente, acontece com frequência que, ao despertar
ele, a natureza corpórea predomina e lhe faz esquecer as
boas resoluções que haja tomado.”
48.ª. É livre, o Espírito de uma pessoa viva, de dizer o
que queira?
“Ele tem suas faculdades de Espírito e, por conseguinte,
seu livre-arbítrio; e, como então dispõe de mais perspicácia,
se mostra mais circunspecto do que no estado de
vigília.”
49.ª. Poder-se-ia, evocando-a, constranger uma pessoa
a dizer o que quisesse calar?
“Eu disse que o Espírito tem o seu livre-arbítrio; pode,
porém, dar-se que, como Espírito, a pessoa ligue menos
importância a certas coisas do que no estado ordinário,
podendo então sua consciência falar mais livremente. Demais,
se ela não quiser falar, poderá sempre fugir às
importunações, indo-se o seu Espírito embora, porquanto
ninguém pode reter um Espírito, como se lhe retém o
corpo.”
50.ª. Poderia o Espírito de uma pessoa viva ser constrangido,
por outro Espírito, a vir e falar, como se dá com
os Espíritos errantes?
“Entre os Espíritos, sejam de mortos, ou de vivos, não
há supremacia senão por efeito da superioridade moral, e
bem deves compreender que um Espírito superior jamais
prestaria apoio a uma covarde indiscrição.”
Nota. Este abuso de confiança seria, efetivamente, uma ação
má, mas que nenhum resultado poderia produzir, pois que não
há meio de arrancar-se um segredo ao Espírito que o queira guardar,
a menos que, dominado por um sentimento de justiça, confessasse
o que em outras circunstâncias calaria.
Uma pessoa quis saber, por esse modo, de um de seus parentes,
se o testamento que por este fora feito era a seu favor. O
Espírito respondeu: “Sim, minha cara sobrinha, e terás em breve
a prova.” A coisa era, de fato, real; mas, poucos dias depois, o
parente destruiu seu testamento e teve a malícia de fazer disso
ciente a pessoa, sem que, entretanto, haja sabido que esta o evocara.
Um sentimento instintivo o levou sem dúvida a executar a
resolução que seu Espírito tomara, de acordo com a pergunta
que lhe fora feita. Há covardia em perguntar-se ao Espírito de um
morto ou de um vivo o que se não ousaria perguntar à sua pessoa,
covardia essa que nem mesmo tem, por compensação, o resultado
que se pretende.
51.ª. Pode evocar-se um Espírito cujo corpo ainda se
ache no seio materno?
“Não; bem sabes que nesse momento o Espírito está
em completa perturbação.”
Nota. A encarnação não se torna definitiva senão no momento
em que a criança respira; porém, desde a concepção do corpo, o Espírito designado para animá-lo é presa de uma perturbação
que aumenta à medida que o nascimento se aproxima e lhe tira a
consciência de si mesmo e, por conseguinte, a faculdade de responder.
(Veja-se:
O Livro dos Espíritos: “Da volta do Espírito à
vida corporal. — União da alma e do corpo”, n.º 344.)
52.ª. Poderia um Espírito mistificador tomar o lugar de
uma pessoa viva que se evocasse?
“É fora de dúvida que sim e isso acontece frequentemente,
sobretudo quando não é pura a intenção do evocador.
Em suma, a evocação das pessoas vivas só tem interesse
como estudo psicológico. Convém que dela vos abstenhais
sempre que não possa ter um resultado instrutivo.”
Nota. Se a evocação dos Espíritos errantes nem sempre dá
resultado, conforme expressão usada por eles, muito mais frequente
é que assim aconteça com a dos que estão encarnados.
Então, sobretudo, é que os Espíritos mistificadores se apresentam,
em lugar dos evocados.
53.ª. Tem inconvenientes a evocação de uma pessoa
viva?
“Nem sempre é sem perigo, dependendo isso das condições
em que se ache a pessoa, porquanto, se estiver
doente, poderá aumentar-lhe os sofrimentos.”
54.ª. Em que caso será mais inconveniente a evocação
de uma pessoa viva?
“Não devem evocar-se as crianças de tenra idade, nem
as pessoas gravemente doentes, nem, ainda, os velhos
enfermos. Numa palavra, ela pode ter inconvenientes todas
as vezes que o corpo esteja muito enfraquecido.”
Nota. A brusca suspensão das qualidades intelectuais, durante
o estado de vigília, também poderia oferecer perigo, se a pessoa
nesse momento precisasse de toda a sua presença de espírito.
55.ª. Durante a evocação de uma pessoa viva, seu corpo,
embora ausente, experimenta fadiga por efeito do trabalho
a que se entrega seu Espírito? (Uma pessoa, que se
encontrava nesse estado e que pretendia que seu corpo se
fatigava, respondeu assim a essa pergunta:)
“Meu Espírito é como um balão cativo preso a um poste;
meu corpo é o poste, que as oscilações do balão
sacodem.”
56.ª. Pois que a evocação das pessoas vivas pode ter
inconvenientes, quando feitas sem precaução, deixa de existir
perigo quando se evoca um Espírito que não se sabe se
está encarnado e que poderia não se encontrar em condições favoráveis?
“Não, as circunstâncias não são as mesmas. Ele só
virá, se estiver em condições de fazê-lo. Aliás, eu já não vos
disse que perguntásseis, antes de fazer uma evocação, se
ela é possível?”
57.ª. Quando, nos momentos mais inoportunos, experimentamos
irresistível vontade de dormir, provirá isso de
estarmos sendo evocados nalguma parte?
“Pode, sem dúvida, acontecer que assim seja; porém,
as mais das vezes, não há nisso senão um efeito físico, quer
porque o corpo tenha necessidade de repouso, quer porque
o Espírito precise da sua liberdade.”
Nota. Uma senhora de nosso conhecimento, médium, teve
um dia a ideia de evocar o Espírito de seu neto, que dormia no
mesmo quarto. A identidade foi comprovada pela linguagem, pelas
expressões habituais da criança e pela narração exatíssima
de muitas coisas que lhe tinham sucedido no colégio; mas, ainda
uma circunstância a veio confirmar. De repente, a mão da médium para em meio de uma frase, sem que seja possível obter-se
mais coisa alguma. Nesse momento, a criança, meio despertada,
fez diversos movimentos na sua cama. Alguns instantes depois,
tendo novamente adormecido, a mão da médium começou a mover-se
outra vez, continuando a conversa interrompida. A evocação das pessoas vivas, feita em boas condições, prova, da maneira
menos contestável, a ação do Espírito distinta da do corpo e,
por conseguinte, a existência de um princípio inteligente independente
da matéria. (Veja-se, na
Revue spirite de 1860, páginas
11 e 81, muitos exemplos notáveis de evocação de pessoas vivas.)
285. Telegrafia humana.
58.ª. Evocando-se reciprocamente, poderiam duas pessoas
transmitir de uma a outra seus pensamentos e corresponder-se?
“Certamente, e essa telegrafia humana será um dia
um meio universal de correspondência.”
a) Por que não será praticada desde já?
“É praticável para certas pessoas, mas não para toda
gente. Preciso é que os homens se depurem, a fim de que
seus Espíritos se desprendam da matéria e isso constitui
uma razão a mais para que a evocação se faça em nome de
Deus. Até lá, continuará circunscrita às almas de escol e
desmaterializadas, o que raramente se encontra nesse mundo,
dado o estado dos habitantes da Terra.”