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Fora erro acreditar alguém que precisa ser médium, para atrair a si os
seres do mundo invisível. Eles povoam o espaço; temo-los incessantemente
em torno de nós, ao nosso lado, vendo-nos, observando-nos, intervindo
em nossas reuniões, seguindo-nos, ou evitando-nos, conforme os atraímos
ou repelimos. A faculdade mediúnica em nada influi para isso: ela mais
não é do que um meio de comunicação. De acordo com o que dissemos acerca
das causas de simpatia ou antipatia dos Espíritos, facilmente se
compreenderá que devemos estar cercados daqueles que têm afinidade com o
nosso próprio Espírito, conforme é este graduado, ou degradado.
Consideremos agora o estado moral do nosso planeta e compreenderemos de
que gênero devem ser os que predominam entre os Espíritos errantes. Se
tomarmos cada povo em particular, poderemos, pelo caráter dominante dos
habitantes, pelas suas preocupações, seus sentimentos mais ou menos
morais e
humanitários, dizer de que ordem são os Espíritos que de preferência se reúnem no seio dele.
Partindo
deste princípio, suponhamos uma reunião de homens levianos,
inconsequentes, ocupados com seus prazeres; quais serão os Espíritos que
preferentemente os cercarão? Não serão decerto Espíritos superiores,
do mesmo modo que não seriam os nossos sábios e filósofos os que iriam
passar o seu tempo em semelhante lugar. Assim, onde quer que haja uma
reunião de homens, há igualmente em torno deles uma assembleia oculta,
que simpatiza com suas qualidades ou com seus defeitos,
feita abstração completa de toda ideia de evocação. Admitamos
agora que tais homens tenham a possibilidade de se comunicar com os
seres do mundo invisível, por meio de um intérprete, isto é, por um
médium; quais serão os que lhes responderão ao chamado? Evidentemente,
os que os estão rodeando de muito perto, à espreita de uma ocasião para
se comunicarem. Se, numa assembleia fútil, chamarem um Espírito
superior, este poderá vir e até proferir algumas palavras poderosas,
como um bom pastor que acode ao chamamento de suas ovelhas desgarradas.
Porém, desde que não se veja compreendido, nem ouvido, retira-se, como
em seu lugar o faria qualquer de nós, ficando os outros com o campo
livre.