XV
Todos os médiuns são, incontestavelmente, chamados a servir à causa do
Espiritismo, na medida de suas faculdades, mas bem poucos há que não se
deixem prender nas armadilhas do amor-próprio. É uma pedra de toque, que
raramente deixa de produzir efeito. Assim é que, sobre cem médiuns, um,
se tanto, encontrareis que, por muito ínfimo que seja, não se tenha
julgado, nos primeiros tempos da sua mediunidade, fadado a obter coisas
superiores e predestinado a grandes missões. Os que sucumbem a essa
vaidosa esperança, e grande é o número deles, se tornam inevitavelmente
presas de Espíritos obsessores, que não tardam a subjugá-los,
lisonjeando-lhes o orgulho e apanhando-os pelo seu fraco. Quanto mais
pretenderem eles elevar-se, tanto mais ridícula lhes será a queda,
quando não desastrosa. As grandes missões só aos homens de
escol são confiadas e Deus mesmo os coloca, sem que eles o procurem, no
meio e na posição em que possam prestar concurso eficaz. Nunca será
demais eu recomende aos médiuns inexperientes que desconfiem do que lhes
podem certos Espíritos dizer, com relação ao suposto papel
que eles são chamados a desempenhar, porquanto, se o tomarem a sério, só
desapontamentos colherão nesse mundo, e, no outro, severo castigo. Persuadam-se bem de que, na esfera modesta e obscura onde se acham
colocados, podem prestar grandes serviços, auxiliando a conversão dos
incrédulos, prodigalizando consolação aos aflitos. Se daí deverem sair,
serão conduzidos por mão invisível, que lhes preparará os caminhos, e
serão postos em evidência, por assim dizer, a seu mau grado. Lembrem-se sempre destas palavras: “Aquele que se exalçar será humilhado e o que se humilhar será exalçado.”
O Espírito de Verdade.