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De todos os fenômenos espíritas, os que mais se prestam à fraude são os
fenômenos físicos, por motivos que convém considerar. Primeiramente,
porque impressionam mais a vista do que a inteligência, são, para
prestidigitação, os mais facilmente imitáveis. Em segundo lugar, porque,
despertando, mais do que os outros, a curiosidade, são mais apropriados
a atrair as multidões; são, por conseguinte, os mais produtivos. Desse
duplo ponto de vista, portanto, os charlatães têm todo interesse em
simular as manifestações desta espécie; os espectadores, na sua maioria
estranhos à ciência, acorrem, geralmente, em busca muito mais de uma
distração do que de instrução séria — e, é sabido, paga-se melhor o que
diverte do que o que instrui.
Porém, posto isto de lado, outro
motivo há, não menos peremptório. Se a prestidigitação pode imitar
efeitos materiais, para o que só de destreza se há mister, não lhe
conhecemos, todavia, até ao presente, o dom de improvisação, que exige
uma dose pouco vulgar de inteligência, nem o produzir esses belos e
sublimes ditados, frequentemente tão cheios de a propósitos, com que os
Espíritos matizam suas comunicações. Isto nos faz lembrar o fato
seguinte:
Certo dia, um homem de letras bastante conhecido veio ter conosco e nos disse que era muito bom médium escrevente intuitivo
e que se punha à disposição da Sociedade espírita. Como temos por
hábito não admitir na Sociedade senão médiuns cujas faculdades nos são
conhecidas, pedimos ao nosso visitante assentisse em dar antes provas de
sua faculdade numa reunião particular. Ele, efetivamente, compareceu a
esta, na qual muitos médiuns experimentados deram ou dissertações, ou
respostas de notável precisão, sobre questões propostas e assuntos que
lhes eram desconhecidos. Quando chegou a vez daquele senhor, ele
escreveu algumas palavras insignificantes, disse que nesse dia estava
indisposto e nunca mais o vimos. Achou sem dúvida que o papel de médium
de efeitos inteligentes é mais difícil de representar do que o supusera.