Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864

Allan Kardec

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Notícias bibliográficas.

A educação materna, conselhos às mães de família.*

O opúsculo é produto de instruções mediúnicas, formando um conjunto completo, ditadas à Sra. Collignon, de Bordeaux, pelo Espírito que se assina Étienne, desconhecido do médium. Essas instruções, antes publicadas em artigos destacados pelo jornal le Sauveur, foram reunidos em brochura.

Temos a satisfação de aprovar esse trabalho sem reservas, tão recomendável pela forma, quanto pelo fundo: estilo simples, claro, conciso, sem ênfase nem palavras para encher vazios de sentido, pensamentos profundos, de uma lógica irreprovável, é bem a linguagem de um Espírito elevado e não esse estilo verboso de Espíritos que julgam compensar o vaziodas idéias pela abundância das palavras. Não tememos fazer estes elogios porque sabemos que a Sra. Collignon não os tomará para si e que seu amor-próprio não será excitado, assim como não se formalizaria com a mais severa crítica.

Nesse escrito, a educação é encarada sob seu verdadeiro ponto de vista em relação ao desenvolvimento físico, moral e intelectual da criança, considerado desde o berço até a sua situação no mundo. As mães Espíritas, melhor que as outras, apreciarão a sabedoria dos conselhos que encerra, pelo que lhes recomendamos como uma obra digna de toda a sua atenção.

A brochura é completada por um pequeno poema: O Corpo e o Espírito, também mediúnico, que mais de um autor de renome subscreveria sem receio. Eis o começo:

“Morfeu tinha mergulhado meus sentidos no sono.

“Meu Espírito, liberto do pesado aparelho,

“Quis emancipar-se e vogar no espaço,

“Abandonando seu corpo, como o soldado o seu posto.

“Como um prisioneiro, que geme nas algemas,

“Enfim livre, quis elevar-se no espaço.

“Era uma lembrança, um capricho, um mistério,

“Que me levava o Espírito a deixar a terra?

“Não saberia dizê-lo e ele, de regresso,

“Responde à pergunta com evasivas.

“Logo compreendi a razão de sua astúcia

“E me zanguei, pois não gosto que me enganem.

“Ao menos me direis, Espírito caprichoso,

“O que viste nesse passeio pelo céu?

“— Para te agradar, algo devo dizer-te;

“Do contrário o carcereiro, posto mau humor,

“Faria ao preso um grosseiro sermão

“E o pobre cativo ficaria pior...

“Sabe, pois. . . Esperai. E mesmo a história

“Que me ides contar? Ó sim, tu podes crer.

“Sabe, pois, que outrora, no mundo dos Espíritos

“Eu deixei os pais e numerosos amigos:

“Queria revê-los: pois o exílio na terra

“Parece que não foi feito apenas para agradar!

“Aproveitando o sono, que te prendia no leito,

“Lá deixei o corpo e logo, só Espírito,

“Transpus os degraus que separam os mundos

“Fazendo o seu percurso em quase dois segundos.

“Devia ser ligeiro, pois o menor atraso

“Iria fazer-te mal. Ora, se por acaso

“Me tivesse esquecido nesse grande percurso,

“Em vez do meu corpo acharia um cadáver,

“E eu quis evitar semelhante remorso.

“Sabia que ficando eu cometeria um crime,

“Pois só Deus pode romper a nossa ligação,

“— Obrigado pela lembrança, caro Espírito dedicado;

“Se não é menos certo que teria morrido

“Se a menor demora... Ah! palavra de corpo honesto,

“Até sinto que os cabelos se arrepiam!


* Broch. In-8. Paris: Ledoyen, Palais Royal, galerie d'Orléans, n.° 31. — Bordeaux, chez Ferret, 15, Fossés-de-l'Intendance.

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