Qualidades dos fluidos.
16. Tem consequências de importância capital e direta para
os encarnados a ação dos Espíritos sobre os fluidos espirituais.
Sendo esses fluidos o veículo do pensamento e podendo
este modificar-lhes as propriedades, é evidente que
eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou
más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se
pela pureza ou impureza dos sentimentos. Os maus pensamentos
corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas
deletérios corrompem o ar respirável. Os fluidos que envolvem
os Espíritos maus, ou que estes projetam são, portanto,
viciados, ao passo que os que recebem a influência dos
bons Espíritos são tão puros quanto o comporta o grau da
perfeição moral destes.
17. Fora impossível fazer-se uma enumeração ou classificação
dos bons e dos maus fluidos, ou especificar-lhes as
respectivas qualidades, por ser tão grande quanto a dos
pensamentos a diversidade deles.
Os fluidos não possuem qualidades sui generis, mas
as que adquirem no meio onde se elaboram; modificam-se
pelos eflúvios desse meio, como o ar pelas exalações, a água
pelos sais das camadas que atravessa. Conforme as circunstâncias,
suas qualidades são, como as da água e do ar,
temporárias ou permanentes, o que os torna muito especialmente
apropriados à produção de tais ou tais efeitos.
Também carecem de denominações particulares. Como
os odores, eles são designados pelas suas propriedades,
seus efeitos e tipos originais. Sob o ponto de vista moral,
trazem o cunho dos sentimentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de
bondade, de benevolência, de amor, de caridade, de doçura,
etc. Sob o aspecto físico, são excitantes, calmantes, penetrantes,
adstringentes, irritantes, dulcificantes, suporíficos,
narcóticos, tóxicos, reparadores, expulsivos; tornam-se
força de transmissão, de propulsão, etc. O quadro dos
fluidos seria, pois, o de todas as paixões, das virtudes e
dos vícios da humanidade e das propriedades da matéria,
correspondentes aos efeitos que eles produzem.
18. Sendo apenas Espíritos encarnados, os homens têm
uma parcela da vida espiritual, visto que vivem dessa vida
tanto quanto da vida corporal; primeiramente, durante o
sono e, muitas vezes, no estado de vigília. O Espírito, encarnado,
conserva, com as qualidades que lhe são próprias,
o seu perispírito que, como se sabe, não fica circunscrito
pelo corpo, mas irradia ao seu
derredor e o envolve como
que de uma atmosfera fluídica.
Pela sua união íntima com o corpo, o perispírito desempenha
preponderante papel no organismo. Pela sua expansão,
põe o Espírito encarnado em relação mais direta
com os Espíritos livres e também com os Espíritos
encarnados.
O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos
espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de
Espírito a Espírito pelas mesmas vias e, conforme seja bom
ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes.
Desde que estes se modificam pela projeção dos pensamentos
do Espírito, seu invólucro perispirítico, que é parte
constituinte do seu ser e que recebe de modo direto e permanente
a impressão de seus pensamentos, há de, ainda
mais, guardar a de suas qualidades boas ou más. Os fluidos
viciados pelos eflúvios dos maus Espíritos podem
depurar-se pelo afastamento destes, cujos perispíritos,
porém, serão sempre os mesmos, enquanto o Espírito não
se modificar por si próprio.
Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica
à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade,
como uma esponja se embebe de um líquido. Esses flui
dos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta,
quanto, por sua expansão e sua irradiação, o perispírito
com eles se confunde.
Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu
turno, reage sobre o organismo material com que se acha
em contacto molecular. Se os eflúvios são de boa natureza,
o corpo ressente uma impressão salutar; se são maus, a
impressão é penosa. Se são permanentes e enérgicos, os
eflúvios maus podem ocasionar desordens físicas; não é
outra a causa de certas enfermidades.
Os meios onde superabundam os maus Espíritos são,
pois, impregnados de maus fluidos que o encarnado absorve
pelos poros perispiríticos, como absorve pelos poros do
corpo os miasmas pestilenciais.
19. Assim se explicam os efeitos que se produzem nos lugares
de reunião. Uma assembleia é um foco de irradiação
de pensamentos diversos. É como uma orquestra, um coro
de pensamentos, onde cada um emite uma nota. Resulta
daí uma multiplicidade de correntes e de eflúvios fluídicos
cuja impressão cada um recebe pelo sentido espiritual, como
num coro musical cada um recebe a impressão dos sons
pelo sentido da audição.
Mas, do mesmo modo que há radiações sonoras, harmoniosas
ou dissonantes, também há pensamentos harmônicos
ou discordantes. Se o conjunto é harmonioso, agradável
é a impressão; penosa, se aquele é discordante. Ora,
para isso, não se faz mister que o pensamento se exteriorize
por palavras; quer ele se externe, quer não, a irradiação
existe sempre.
Tal a causa da satisfação que se experimenta numa
reunião simpática, animada de pensamentos bons e benévolos. Envolve-a uma como salubre atmosfera moral, onde
se respira à vontade; sai-se reconfortado dali, porque impregnado
de salutares eflúvios fluídicos. Basta, porém, que
se lhe misturem alguns pensamentos maus, para produzirem
o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido,
ou o de uma nota desafinada num concerto. Desse modo
também se explica a ansiedade, o indefinível mal-estar que
se experimenta numa reunião antipática, onde malévolos
pensamentos provocam correntes de fluido nauseabundo.
20. O pensamento, portanto, produz uma espécie de efeito
físico que reage sobre o moral, fato este que só o Espiritismo
podia tornar compreensível. O homem o sente instintivamente,
visto que procura as reuniões homogêneas e simpáticas,
onde sabe que pode haurir novas forças morais,
podendo-se dizer que, em tais reuniões, ele recupera as
perdas fluídicas que sofre todos os dias pela irradiação do
pensamento, como recupera, por meio dos alimentos, as
perdas do corpo material. É que, com efeito, o pensamento
é uma emissão que ocasiona perda real de fluidos espirituais
e, conseguintemente, de fluidos materiais, de maneira
tal que o homem precisa retemperar-se com os eflúvios
que recebe do exterior.
Quando se diz que um médico opera a cura de um
doente, por meio de boas palavras, enuncia-se uma verdade
absoluta, pois que um pensamento bondoso traz consigo
fluidos reparadores que atuam sobre o físico, tanto quanto
sobre o moral.
21. Dir-se-á que se podem evitar os homens sabidamente
mal-intencionados. É fora de dúvida; mas, como fugiremos
à influência dos maus Espíritos que pululam em torno de
nós e por toda parte se insinuam, sem serem vistos?
O meio é muito simples, porque depende da vontade
do homem, que traz consigo o necessário preservativo. Os
fluidos se combinam pela semelhança de suas naturezas;
os dessemelhantes se repelem; há incompatibilidade entre
os bons e os maus fluidos, como entre o óleo e a água.
Que se faz quando está viciado o ar? Procede-se ao seu
saneamento, cuida-se de depurá-lo, destruindo o foco dos
miasmas, expelindo os eflúvios malsãos, por meio de mais
fortes correntes de ar salubre. À invasão, pois, dos maus
fluidos, cumpre se oponham os fluidos bons e, como cada
um tem no seu próprio perispírito uma fonte fluídica permanente,
todos trazem consigo o remédio aplicável. Trata-se
apenas de purificar essa fonte e de lhe dar qualidades tais,
que se constitua para as más influências um repulsor, em
vez de ser uma força atrativa. O perispírito, portanto, é uma
couraça a que se deve dar a melhor têmpera possível. Ora,
como as suas qualidades guardam relação com as da alma,
importa se trabalhe por melhorá-la, pois que são as imperfeições
da alma que atraem os Espíritos maus.
As moscas são atraídas pelos focos de corrupção; destruídos
esses focos, elas desaparecerão. Os maus Espíritos,
igualmente, vão para onde o mal os atrai; eliminado o
mal, eles se afastarão. Os Espíritos realmente bons, encarnados
ou desencarnados, nada têm que temer da influência
dos maus.