Elementos fluídicos.
1. A ciência resolveu a questão dos milagres que mais particularmente
derivam do elemento material, quer explicando-os,
quer demonstrando-lhes a impossibilidade, em face
das leis que regem a matéria. Mas, os fenômenos em que
prepondera o elemento espiritual, esses, não podendo ser
explicados unicamente por meio das leis da natureza, escapam
às investigações da ciência. Tal a razão por que eles,
mais do que os outros, apresentam os caracteres aparentes
do maravilhoso. É, pois, nas leis que regem a vida espiritual
que se pode encontrar a explicação dos milagres
dessa categoria.
2. O fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a
matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações
constituem a inumerável variedade dos corpos
da natureza. (Cap. X.) Como princípio elementar do universo,
ele assume dois estados distintos: o de eterização ou
imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado
normal, e o de materialização ou de ponderabilidade,
que é, de certa maneira, consecutivo àquele. O ponto intermédio
é o da transformação do fluido em matéria tangível.
Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto podem
considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo
médio entre os dois estados. (Cap. IV, n.
os 10 e seguintes.)
Cada um desses dois estados dá lugar, naturalmente,
a fenômenos especiais: ao segundo pertencem os do mundo
visível e ao primeiro os do mundo invisível. Uns, os chamados
fenômenos materiais, são da alçada da ciência propriamente
dita, os outros, qualificados de fenômenos
espirituais ou psíquicos, porque se ligam de modo especial
à existência dos Espíritos, cabem nas atribuições do Espiritismo.
Como, porém, a vida espiritual e a vida corporal
se acham incessantemente em contato, os fenômenos
das duas categorias muitas vezes se produzem simultaneamente.
No estado de encarnação, o homem somente
pode perceber os fenômenos psíquicos que se prendem à
vida corpórea; os do domínio espiritual escapam aos sentidos materiais e só podem ser percebidos no estado de
Espírito.*
* A denominação de fenômeno psíquico exprime com mais exatidão
o pensamento, do que a de fenômeno espiritual, dado que esses
fenômenos repousam sobre as propriedades e os atributos da alma,
ou, melhor, dos fluidos perispiríticos, inseparáveis da alma. Esta
qualificação os liga mais intimamente à ordem dos fatos naturais
regidos por leis; pode-se, pois, admiti-los como efeitos psíquicos,
sem os admitir a título de milagres.
3. No estado de eterização, o fluido cósmico não é uniforme;
sem deixar de ser etéreo, sofre modificações tão variadas
em gênero e mais numerosas talvez do que no estado
de matéria tangível. Essas modificações constituem fluidos
distintos que, embora procedentes do mesmo princípio, são
dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos
peculiares ao mundo invisível.
Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para
os Espíritos, que também são fluídicos, uma aparência tão
material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados
e são, para eles, o que são para nós as substâncias do
mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para
produzirem determinados efeitos, como fazem os homens
com os seus materiais, ainda que por processos diferentes.
Lá, porém, como neste mundo, somente aos Espíritos
mais esclarecidos é dado compreender o papel que desempenham
os elementos constitutivos do mundo onde eles se
acham. Os ignorantes do mundo invisível são tão incapazes
de explicar a si mesmos os fenômenos a que assistem e
para os quais muitas vezes concorrem maquinalmente, como os ignorantes da Terra o são para explicar os efeitos da luz
ou da eletricidade, para dizer de que modo é que veem e
escutam.
4. Os elementos fluídicos do mundo espiritual escapam aos
nossos instrumentos de análise e à percepção dos nossos
sentidos, feitos para perceberem a matéria tangível e não a
matéria etérea. Alguns há, pertencentes a um meio diverso
a tal ponto do nosso, que deles só podemos fazer ideia mediante
comparações tão imperfeitas como aquelas mediante
as quais um cego de nascença procura fazer ideia da
teoria das cores.
Mas, entre tais fluidos, há os tão intimamente ligados
à vida corporal, que, de certa forma, pertencem ao meio
terreno. Em falta de observação direta, seus efeitos podem
observar-se, como se observam os do fluido do ímã, fluido
que jamais se viu, podendo-se adquirir sobre a natureza
deles conhecimentos de alguma precisão. É essencial esse
estudo, porque está nele a chave de uma imensidade de
fenômenos que não se conseguem explicar unicamente com
as leis da matéria.
5. A pureza absoluta, da qual nada nos pode dar ideia, é o
ponto de partida do fluido universal; o ponto oposto é o em
que ele se transforma em matéria tangível. Entre esses dois
extremos, dão-se inúmeras transformações, mais ou menos
aproximadas de um e de outro. Os fluidos mais próximos
da materialidade, os menos puros, conseguintemente,
compõem o que se pode chamar a atmosfera espiritual da
Terra. É desse meio, onde igualmente vários são os graus
de pureza, que os Espíritos encarnados e desencarnados,
deste planeta, haurem os elementos necessários à economia
de suas existências. Por muito sutis e impalpáveis que
nos sejam esses fluidos, não deixam por isso de ser de natureza
grosseira, em comparação com os fluidos etéreos
das regiões superiores.
O mesmo se dá na superfície de todos os mundos, salvo
as diferenças de constituição e as condições de vitalidade
próprias de cada um. Quanto menos material é a vida
neles, tanto menos afinidades têm os fluidos espirituais com
a matéria propriamente dita.
Não é rigorosamente exata a qualificação de fluidos
espirituais, pois que, em definitiva, eles são sempre matéria mais ou menos quintessenciada. De realmente espiritual,
só a alma ou princípio inteligente. Dá-se-lhes essa denominação
por comparação apenas e, sobretudo, pela
afinidade que eles guardam com os Espíritos. Pode dizer-se
que são a matéria do mundo espiritual, razão por que são
chamados fluidos espirituais.
6. Quem conhece, aliás, a constituição íntima da matéria
tangível? Ela talvez somente seja compacta em relação aos
nossos sentidos; prová-lo-ia a facilidade com que a atravessam
os fluidos espirituais e os Espíritos, aos quais não
oferece maior obstáculo, do que o que os corpos transparentes
oferecem à luz.
Tendo por elemento primitivo o fluido cósmico etéreo,
à matéria tangível há de ser possível, desagregando-se, voltar
ao estado de eterização, do mesmo modo que o diamante,
o mais duro dos corpos, pode volatilizar-se em gás impalpável.
Na realidade, a solidificação da matéria não é mais
do que um estado transitório do fluido universal, que pode
volver ao seu estado primitivo, quando deixam de existir as
condições de coesão.
Quem sabe mesmo se, no estado de tangibilidade, a
matéria não é suscetível de adquirir uma espécie de
eterização que lhe daria propriedades particulares? Certos fenômenos,
que parecem autênticos, tenderiam a fazer supô-lo.
Ainda não conhecemos senão as fronteiras do mundo invisível;
o porvir, sem dúvida, nos reserva o conhecimento de
novas leis, que nos permitirão compreender o que se nos
conserva em mistério.