Ação dos Espíritos sobre os fluidos. Criações fluídicas. Fotografia do pensamento.
13. Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados
do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera
dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais
sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos
especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas
que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente
à matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar ao
mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos da
luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento, como o
ar o é do som.
14. Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não
manipulando-os como os homens manipulam os gases, mas
empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos,
o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem.
Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal
ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam
com eles conjuntos que
apresentam uma aparência,
uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes
as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de
outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a
grande oficina ou laboratório da vida espiritual.
Algumas vezes, essas transformações resultam de uma
intenção; doutras, são produto de um pensamento inconsciente.
Basta que o Espírito pense uma coisa, para que esta
se produza, como basta que modele uma ária, para que
esta repercuta na atmosfera.
É assim, por exemplo, que um Espírito se faz visível a
um encarnado que possua a vista psíquica, sob as aparências
que tinha quando vivo na época em que o segundo o
conheceu, embora haja ele tido, depois dessa época, muitas
encarnações. Apresenta-se com o vestuário, os sinais
exteriores — enfermidades, cicatrizes, membros amputados,
etc. — que tinha então. Um decapitado se apresentará
sem a cabeça. Não quer isso dizer que haja conservado essas
aparências, certo que não, porquanto, como Espírito,
ele não é coxo, nem maneta, nem zarolho, nem decapitado;
o que se dá é que, retrocedendo o seu pensamento à época
em que tinha tais defeitos, seu perispírito lhes toma instantaneamente
as aparências, que deixam de existir logo
que o mesmo pensamento cessa de agir naquele sentido.
Se, pois, de uma vez ele foi negro e branco de outra, apresentar-se-á
como branco ou negro, conforme a encarnação
a que se refira a sua evocação e a que se transporte o seu
pensamento.
Por análogo efeito, o pensamento do Espírito cria
fluidicamente os objetos que ele esteja habituado a usar.
Um avarento manuseará ouro, um militar trará suas armas
e seu uniforme, um fumante o seu cachimbo, um lavrador
a sua charrua e seus bois, uma mulher velha a sua
roca. Para o Espírito, que é, também ele, fluídico, esses
objetos fluídicos são tão reais, como o eram, no estado
material, para o homem vivo; mas, pela razão de serem
criações do pensamento, a existência deles é tão fugitiva
quanto a deste.*
* Revue Spirite, junho de 1859, pág. 184. — O Livro dos Médiuns,
2.ª Parte, cap. VIII.
15. Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua
sobre os fluidos como o som sobre o ar; eles nos trazem o
pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se pois dizer,
sem receio de errar, que há, nesses fluidos, ondas e raios
de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como
há no ar ondas e raios sonoros.
Há mais: criando imagens fluídicas, o pensamento se
reflete no envoltório perispirítico, como num espelho; toma
nele corpo e aí de certo modo se fotografa. Tenha um homem, por exemplo, a ideia de matar a outro: embora o corpo
material se lhe conserve impassível, seu corpo fluídico é
posto em ação pelo pensamento e reproduz todos os matizes
deste último; executa fluidicamente o gesto, o ato que
intentou praticar. O pensamento cria a imagem da vítima e
a cena inteira é pintada, como num quadro, tal qual se lhe
desenrola no espírito.
Desse modo é que os mais secretos movimentos da
alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode
ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo. Contudo, vendo a intenção, pode
ela pressentir a execução do ato que lhe será a consequência,
mas não pode determinar o instante em que o mesmo
ato será executado, nem lhe assinalar os pormenores, nem,
ainda, afirmar que ele se dê, porque circunstâncias ulteriores
poderão modificar os planos assentados e mudar as
disposições. Ele não pode ver o que ainda não esteja no
pensamento do outro; o que vê é a preocupação habitual
do indivíduo, seus desejos, seus projetos, seus desígnios
bons ou maus.