3. Se nos reportarmos a estes últimos, vemo-los ainda mais exclusivamente
preocupados com a satisfação das necessidades materiais; o que serve
para provê-las e o que pode prejudicá-las resumem para eles o bem e o
mal neste mundo. Creem num poder sobre-humano; mas, como o que lhes traz
um prejuízo material é o que mais os atinge, atribuem-no a esse poder,
do qual fazem, aliás, uma ideia muito vaga. Não podendo ainda conceber
nada fora do mundo visível e tangível, eles imaginam-no residindo nos
seres e nas coisas que os prejudicam. Os animais perniciosos são,
portanto, para eles seus representantes naturais e diretos. Pela mesma
razão, viram a personificação do bem nas coisas úteis: daí o culto
prestado a certos animais, a certas plantas e mesmo a objetos
inanimados. Mas o homem é geralmente mais sensível ao mal do que ao
bem; o bem parece-lhe natural, ao passo que o mal o afeta mais; é por
isso que, em todos os cultos primitivos, as cerimônias em honra do poder
maléfico são as mais numerosas: o temor leva vantagem sobre o
reconhecimento.
Durante muito tempo o homem não compreendeu senão o
bem e o mal físicos; o sentimento do bem moral e do mal moral assinalou
um progresso na inteligência humana; somente então o homem entreviu a
espiritualidade, e compreendeu que o poder sobre-humano está fora do
mundo visível, e não nas coisas materiais. Isso foi obra de algumas
inteligências de elite, mas que não puderam, contudo, ultrapassar certos
limites.