3.
Quanto mais próximos os homens estão do estado primitivo, mais são
materiais; o senso moral é o que neles se desenvolve mais tardiamente.
Por esta mesma razão, só podem fazer uma ideia muito imperfeita de Deus e
de seus atributos, e uma ideia não menos vaga da vida futura.
Identificam Deus à sua própria natureza; é para eles um soberano
absoluto, tanto mais temível quanto invisível, como um monarca déspota
que, oculto em seu palácio, nunca se mostra aos súditos. Ele é poderoso
somente por sua força material, pois eles não compreendem o poder moral;
veem-no apenas armado com o raio, ou no meio dos relâmpagos e das
tempestades, semeando à sua passagem ruína e desolação, segundo o
exemplo dos guerreiros invencíveis. Um Deus de brandura e de
misericórdia não seria um Deus, mas um ser fraco que não poderia
fazer-se obedecer. A vingança implacável, os castigos terríveis,
eternos, não tinham nada contrário à ideia que eles faziam de Deus, nada
que repugnasse à sua razão. Eles mesmos implacáveis em seus
ressentimentos, cruéis com os inimigos, sem compaixão pelos vencidos,
Deus, que lhes era superior, devia ser ainda mais terrível.
Para tais
homens, precisava-se de crenças religiosas assimiláveis à sua natureza
ainda rude. Uma religião completamente espiritual, toda de amor e
caridade, não se podia aliar com a brutalidade dos costumes e das
paixões. Portanto, não censuremos Moisés por sua legislação draconiana,
que mal bastava para conter seu povo indócil, nem por ter feito de Deus
um Deus vingativo. Precisava-se disso naquela época; a doce doutrina de
Jesus não teria encontrado eco e teria sido impotente.