5. O mesmo concílio formula além disso uma estranha afirmação: “Nossa
alma, diz ele, igualmente espiritual, está associada ao corpo de maneira
a formar com ele uma única e mesma pessoa, e esse é essencialmente seu
destino.” Se o destino essencial da alma é estar unida ao corpo, essa
união constitui seu estado normal, é seu objetivo, seu fim, visto que
tal é seu destino.
No entanto, a alma é imortal e o corpo é mortal;
sua união com o corpo ocorre apenas uma vez, segundo a Igreja e, ainda
que durasse um século, o que é isso comparado à eternidade? Mas, para
muitíssimos, ela é apenas de algumas horas; de que utilidade pode ser
para a alma essa união efêmera? Quando, em relação à eternidade, sua
maior duração é um tempo imperceptível, será exato dizer que seu destino
é estar essencialmente ligada ao corpo? Essa união não é na realidade
mais do que um acidente, um ponto na vida da alma, e não seu estado
essencial.
Se o destino essencial da alma é estar unida a um corpo
material; se, pela sua natureza e segundo o objetivo providencial de sua
criação, essa união é necessária às manifestações de suas faculdades, é
preciso concluir daí que, sem o corpo, a alma humana é um ser
incompleto; ora, para permanecer o que ela é por seu destino, após ter
deixado um corpo, é preciso que ela retome outro, o que nos conduz à
pluralidade forçosa das existências, dito de outro modo, à reencarnação
perpétua. É verdadeiramente estranho que um concílio visto como uma das
luzes da Igreja tenha identificado a esse ponto o ser espiritual e o ser
material, que não podem de certa maneira existir um sem o outro, visto
que a condição essencial de sua criação é estarem unidos.