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Nós vivemos, pensamos, agimos, o que é positivo; morremos, não é menos
certo. Mas ao deixar a Terra, para onde vamos? O que nos tornamos?
Ficaremos melhor ou pior? Seremos nós ou não seremos nós? Ser ou não
ser, tal é a alternativa; é para sempre ou nunca; é tudo ou nada: ou
viveremos eternamente, ou tudo estará acabado sem retorno. Vale a pena
pensar nisso. Todo homem sente a necessidade de viver, gozar, amar, ser
feliz. Dizei àquele que sabe que vai morrer que viverá ainda, que sua
hora foi adiada; dizei-lhe acima de tudo que será mais feliz do que foi,
e seu coração vai palpitar de alegria. Mas de que serviriam estas
aspirações de felicidade se um sopro pode fazê-las desvanecer? Haverá
alguma coisa mais desesperadora do que este pensamento da destruição
absoluta? Afeições santas, inteligência, progresso, saber laboriosamente
adquirido, tudo seria interrompido, tudo seria perdido! Qual a
necessidade de se esforçar para se tornar melhor, de se dominar para
reprimir as paixões, de se cansar para ocupar o espírito, se não se deve
daí colher nenhum fruto, acima de tudo com o pensamento de que amanhã
talvez isso já não nos sirva de nada? Se fosse assim, o destino do homem
seria cem vezes pior do que o da besta, pois a besta vive inteiramente
no presente, na satisfação de seus apetites materiais, sem aspiração
quanto ao futuro. Uma intuição secreta diz que isso não é possível.