O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo

Allan Kardec

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A Sra. Anais Gourdon

Mulher muito jovem, notável pela doçura de seu caráter e pelas mais eminentes qualidades morais, morta em dezembro de 1860. Pertencia a uma família de trabalhadores nas minas de carvão dos arredores de Saint-Étienne, circunstância importante para apreciar sua posição como Espírito.


Evocação. – R. Estou aqui.


P. Vosso marido e vosso pai me pediram para vos chamar, e ficarão muito felizes por ter de vós uma comunicação.
– R. Fico bem feliz também por dá-la a eles.


P. Por que fostes tirada tão jovem da afeição de vossa família?
– R. Porque terminava minhas provas terrestres.


P. Ides vê-los às vezes? – R. Oh! estou frequentemente perto deles.


P. Sois feliz como Espírito? – R. Sou feliz, espero, aguardo, amo; os céus não têm terror para mim, e aguardo com confiança e amor que as asas brancas nasçam em mim.


P. O que entendeis por essas asas? – R. Entendo tornar-me puro Espírito e resplandecer como os mensageiros celestes que deslumbram.


Observação: As asas dos anjos, arcanjos, serafins que são puros Espíritos não são evidentemente senão um atributo imaginado pelos homens para representar a rapidez com a qual eles se transportam, pois sua natureza etérea os dispensa de qualquer suporte para percorrer os espaços. Eles podem, no entanto, aparecer aos homens com esse acessório para corresponder ao pensamento deles, como outros Espíritos tomam a aparência que tinham na terra para se fazerem reconhecer.


P. Vossos pais podem fazer algo que vos seja agradável?
– R. Esses queridos seres podem não me entristecer mais pela visão de suas lamentações, visto que sabem que não estou perdida para eles; que meu pensamento lhe seja doce, leve e perfumado com a recordação deles. Passei como uma flor, e nada de triste deve subsistir de minha rápida passagem.


P. Como explicar que vossa linguagem seja tão poética e tão pouco em relação com a posição que tínheis na terra? – R. É que é a minha alma que fala. Sim, eu tinha conhecimentos adquiridos, e frequentemente Deus permite que Espíritos delicados se encarnem entre os homens mais rudes para lhes fazer pressentir as delicadezas que eles alcançarão e compreenderão mais tarde.


Observação: Sem essa explicação tão lógica, e tão conforme à solicitude de Deus pelas suas criaturas, dificilmente ter-se-ia dado conta do que, à primeira vista, poderia parecer uma anomalia. Com efeito, o que haverá de mais gracioso e de mais poético do que a linguagem do Espírito dessa jovem mulher criada no meio dos mais rudes trabalhos? A contrapartida se vê com frequência; são Espíritos inferiores encarnados entre os homens mais avançados, mas com um objetivo oposto; é em vista do próprio avanço deles que Deus os põe em contato com um mundo esclarecido, e às vezes também para servir de prova a esse mesmo mundo. Qual outra filosofia pode resolver tais problemas?

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