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A fascinação tem consequências muito mais graves. É uma ilusão
produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e
que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, relativamente às
comunicações. O médium fascinado não acredita que o estejam enganando: o
Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver
o embuste e de compreender o absurdo do que escreve, ainda quando esse
absurdo salte aos olhos de toda gente. A ilusão pode mesmo ir até
ao ponto de o fazer achar sublime a linguagem mais ridícula. Fora erro
acreditar que a este gênero de obsessão só estão sujeitas as pessoas
simples, ignorantes e baldas de senso. Dela não se acham isentos nem os
homens de mais espírito, os mais instruídos e os mais inteligentes sob
outros aspectos, o que prova que tal aberração é efeito de uma causa
estranha, cuja influência eles sofrem.
Já dissemos que muito
mais graves são as consequências da fascinação. Efetivamente, graças à
ilusão que dela decorre, o Espírito conduz o indivíduo de quem ele
chegou a apoderar-se, como faria com um cego, e pode levá-lo a aceitar
as doutrinas mais estranhas, as teorias mais falsas, como se fossem a
única expressão da verdade. Ainda mais, pode levá-lo a situações
ridículas, comprometedoras e até perigosas.
Compreende-se
facilmente toda a diferença que existe entre a obsessão simples e a
fascinação; compreende-se também que os Espíritos que produzem esses
dois efeitos devem diferir de caráter. Na primeira, o Espírito que se
agarra à pessoa não passa de um importuno pela sua tenacidade e de quem
aquela se impacienta por desembaraçar-se. Na segunda, a coisa é muito
diversa. Para chegar a tais fins, preciso é que o Espírito seja destro,
ardiloso e profundamente hipócrita, porquanto não pode operar a mudança e
fazer-se acolhido, senão por meio da máscara que toma e de um falso
aspecto de virtude. Os grandes termos — caridade, humildade, amor de
Deus — lhe servem como que de carta de crédito; deixa passar, porém, através de tudo
isso, sinais de inferioridade, que só o
fascinado
é incapaz de perceber. Por isso mesmo, o que o fascinador mais teme são
as pessoas que veem claro. Daí o consistir a sua tática, quase sempre,
em inspirar ao seu intérprete o afastamento de quem quer que lhe possa
abrir os olhos. Por esse meio, evitando toda contradição, fica certo de
ter razão sempre.