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Para, no ensino do Espiritismo, proceder-se como se procederia com
relação ao das ciências ordinárias, preciso fora passar revista a toda a
série dos fenômenos que possam produzir-se, começando pelos mais
simples, para chegar sucessivamente aos mais complexos. Ora, isso não é
possível, porque possível não é fazer-se um curso de Espiritismo
experimental, como se faz um curso de física ou de química. Nas ciências
naturais, opera-se sobre a matéria bruta, que se manipula à vontade,
tendo-se quase sempre a certeza de poderem regular-se os efeitos. No
Espiritismo, temos que lidar com inteligências que gozam de liberdade e
que a cada instante nos provam não estar submetidas aos nossos
caprichos. Cumpre, pois, observar, aguardar os resultados e colhê-los à
passagem. Daí o declararmos abertamente que
quem quer que blasone de os obter à vontade não pode deixar de ser ignorante ou impostor. Daí vem que o verdadeiro Espiritismo jamais se dará em espetáculo, nem subirá ao tablado das feiras.
Há
mesmo qualquer coisa de ilógico em supor-se que Espíritos venham
exibir-se e submeter-se a investigações, como objetos de curiosidade.
Portanto, pode suceder que os fenômenos não se deem quando mais
desejados sejam, ou que se apresentem numa ordem muito diversa da que se
quereria. Acrescentemos mais que, para serem obtidos, precisa se faz a
intervenção de pessoas dotadas de faculdades especiais e que estas
faculdades variam ao infinito, de acordo com as aptidões dos indivíduos.
Ora, sendo extremamente raro que a mesma pessoa tenha todas as
aptidões, isso constitui uma nova dificuldade, porquanto mister seria
ter-se sempre à mão uma coleção completa de médiuns, o que absolutamente
não é possível.
O meio, aliás, muito simples, de se obviar a
este inconveniente, consiste em se começar pela teoria. Aí todos os
fenômenos são apreciados, explicados, de modo que o estudante vem a
conhecê-los, a lhes compreender a possibilidade, a saber em que
condições podem produzir-se e quais os obstáculos que podem encontrar.
Então, qualquer que seja a ordem em que se apresentem, nada terão que
surpreenda. Este caminho ainda oferece outra vantagem: a de poupar uma
imensidade de decepções àquele que queira operar por si mesmo. Precavido
contra as dificuldades, ele saberá manter-se em guarda e evitar a
conjuntura de adquirir a experiência à sua própria custa.
Ser-nos-ia difícil dizer quantas as pessoas que, desde quando começamos a
ocupar-nos com o Espiritismo, hão vindo ter conosco e quantas delas
vimos que se conservaram indiferentes ou incrédulas diante dos fatos
mais positivos e só posteriormente se convenceram, mediante uma
explicação racional; quantas outras que se predispuseram à convicção,
pelo raciocínio; quantas, enfim, que se persuadiram, sem nada nunca
terem visto, unicamente porque haviam compreendido. Falamos, pois, por
experiência e, assim, também, é por experiência que dizemos consistir o
melhor método de ensino espírita em se dirigir, aquele que ensina, antes
à razão do que aos olhos. Esse o método que seguimos em nossas
lições e pelo qual somente temos que nos felicitar.