102. As
aparições propriamente ditas se dão quando o vidente se acha em estado
de vigília e no gozo da plena e inteira liberdade das suas faculdades.
Apresentam-se, em geral, sob uma forma vaporosa e diáfana, às vezes vaga
e imprecisa. A princípio é, quase sempre, uma claridade esbranquiçada,
cujos contornos pouco a pouco se vão desenhando. Doutras vezes, as
formas se mostram nitidamente acentuadas, distinguindo-se os menores
traços da fisionomia, a ponto de se tornar possível fazer-se da aparição
uma descrição completa. Os demandes, o aspecto, são semelhantes aos que
tinha o Espírito quando vivo.
Podendo tomar todas as aparências,
o Espírito se apresenta sob a que melhor o faça reconhecível, se tal é o
seu desejo. Assim, embora como Espírito nenhum defeito corpóreo tenha,
ele se mostrará estropiado, coxo, corcunda, ferido, com cicatrizes, se
isso for necessário à prova da sua identidade. Esopo, por exemplo, como
Espírito, não é disforme; porém, se o evocarem como Esopo, ainda que
muitas existências tenha tido depois da em que assim se chamou, ele
aparecerá feio e corcunda, com os seus trajes tradicionais.
Coisa interessante é que, salvo em circunstâncias especiais, as partes
menos acentuadas são os membros inferiores, enquanto que a cabeça, o
tronco, os braços e as mãos são sempre claramente desenhados. Daí vem
que quase nunca são vistos a andar, mas a deslizar como sombras. Quanto
às vestes, compõem-se ordinariamente de um amontoado de pano, terminando
em longo pregado flutuante. Com uma cabeleira ondulante e graciosa se
apresentam os Espíritos que nada conservam das coisas terrenas. Os
Espíritos vulgares, porém, os que aqui conhecemos aparecem com os trajes
que usavam no último período de sua existência.
Frequentemente, mostram atributos característicos da elevação que
alcançaram, como uma auréola, ou asas, os que possam ser tidos por
anjos, ao passo que outros trazem os sinais indicativos de suas
ocupações terrenas. Assim, um guerreiro aparecerá com a sua armadura, um
sábio com livros, um assassino com um punhal, etc. Os Espíritos
superiores têm uma figura bela, nobre e serena; os mais inferiores
denotam alguma coisa de feroz e bestial, não sendo raro revelarem ainda
os vestígios dos crimes que praticaram, ou dos suplícios que padeceram. A
questão do traje e dos objetos acessórios com que os Espíritos aparecem
é talvez a que mais espanto causa. Voltaremos a essa questão em
capítulo especial, porque ela se liga a outros fatos muito importantes.