Sobre o Espiritismo.
I
Confiai na bondade de Deus e sede bastante clarividentes para perceberdes os preparativos da nova vida que ele vos destina. Não vos será dado, é certo, gozá-la nesta existência; porém, não
sereis ditosos, se não tornardes a viver neste globo, por poderdes
considerar do alto que a obra, que houverdes começado, se desenvolve sob
as vossas vistas? Couraçai-vos de fé firme e inabalável contra
os obstáculos que, ao que parece, hão de levantar-se contra o edifício
cujos fundamentos pondes. São sólidas as bases em que ele assenta: a
primeira pedra colocou-a o Cristo. Coragem, pois, arquitetos do divino
Mestre! Trabalhai, construí! Deus vos coroará a obra. Mas, lembrai-vos bem de que o Cristo renega, como seu discípulo, todo aquele que só nos lábios tem a caridade. Não basta crer; é preciso, sobretudo, dar exemplos de bondade, de
tolerância e de desinteresse, sem o que estéril será a vossa fé.
Santo Agostinho.
II
O próprio Cristo preside aos trabalhos de toda sorte que se acham em via
de execução, para vos abrirem a era de renovação e de aperfeiçoamento,
que os vossos guias espirituais vos predizem. Se, com efeito,
afora as manifestações espíritas lançardes os olhos sobre os
acontecimentos contemporâneos, reconhecereis, sem hesitação, os sinais
precursores, que vos provarão, de maneira irrefragável, serem chegados
os tempos preditos. Estabelecem-se comunicações entre todos os
povos. Derribadas as barreiras materiais, os obstáculos morais que se
lhes opõem à união, os preconceitos políticos e religiosos rapidamente
se apagarão e o reinado da fraternidade se implantará, afinal, de forma
sólida e durável. Observai que já os próprios soberanos, impelidos por
invisível mão, tomam, coisa para vós inaudita! a iniciativa das
reformas. E as reformas, quando partem de cima e espontaneamente, são
muito mais rápidas e duráveis, do que as que partem de baixo e são
arrancadas pela força. Eu pressentira, malgrado a prejuízos de
infância e de educação, malgrado ao culto da lembrança, a época atual.
Sou feliz por isso e mais feliz ainda por vos vir dizer: Irmãos,
coragem! trabalhai por vós e pelo futuro dos vossos; trabalhai,
sobretudo, por vos melhorardes pessoalmente e gozareis, na vossa
primeira existência, de uma ventura de que tão difícil vos é fazer
ideia, quanto a mim vo-la fazer compreender.
Chateaubriand.
III
Penso que o Espiritismo é um
estudo todo filosófico das causas secretas dos movimentos interiores da
alma, até agora nada ou pouco definidos. Explica, mais do que desvenda, horizontes novos. A reencarnação e as provas sofridas antes de atingir o Espírito a
meta suprema, não são revelações, porém uma confirmação importante.
Tocam-me ao vivo as verdades que por
esse meio são postas em foco. Digo intencionalmente — meio — porquanto, a meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da cegueira. Está toda por criar-se a preocupação das questões morais. Discute-se
a política, que agita os interesses gerais; discutem-se os interesses
particulares; o ataque ou a defesa das personalidades apaixonam; os
sistemas têm seus partidários e seus detratores. Entretanto, as verdades
morais, as que são o pão da alma, o pão de vida, ficam abandonadas sob o
pó que os séculos hão acumulado. Aos olhos das multidões,
todos os aperfeiçoamentos são úteis, exceto o da alma. Sua educação, sua
elevação não passam de quimeras, próprias, quando muito, para ocupar os
lazeres dos padres, dos poetas, das mulheres, quer como moda, quer como
ensino. Ressuscitando o
espiritualismo, o Espiritismo
restituirá à sociedade o surto, que a uns dará a dignidade interior, a
outros a resignação, a todos a necessidade de se elevarem para o Ente
supremo, olvidado e desconhecido pelas suas ingratas criaturas.
J. J. Rousseau.
IV
Se Deus envia os Espíritos a instruir os homens, é para que estes se
esclareçam sobre seus deveres, é para lhes mostrarem o caminho por onde
poderão abreviar suas provas e, conseguintemente apressar o seu
progresso. Ora, do mesmo modo que o fruto chega à madureza, também o
homem chegará à perfeição. Porém, de par com Espíritos bons, que desejam
o vosso bem, há igualmente os Espíritos imperfeitos, que desejam o
vosso mal. Ao passo que uns vos impelem para a frente, outros vos puxam
para trás. A saber distingui-los é que deve aplicar-se toda a vossa
atenção. É fácil o meio: trata-se unicamente de compreenderdes que o que
vem de um Espírito bom não pode prejudicar a quem quer que seja e que
tudo o que seja mal só de um mau Espírito pode provir. Se não escutardes
os sábios conselhos dos Espíritos que vos querem bem, se vos ofenderdes
pelas verdades, que eles vos digam, evidente é que são maus os
Espíritos que vos inspiram. Só o orgulho pode impedir que vos vejais
quais realmente sois. Mas, se vós mesmos não o vedes, outros o veem por
vós. De sorte que, então, sois censurados pelos homens, que de vós se
riem por detrás, e pelos Espíritos.
Um Espírito Familiar.
V
É bela e santa a vossa doutrina. O primeiro marco está plantado e
plantado solidamente. Agora, só tendes que caminhar. A estrada que vos
está aberta é grande e majestosa. Feliz daquele que chegar ao porto;
quanto mais prosélitos houver feito, tanto mais lhe será contado. Mas,
para isso, cumpre não abraçar friamente a doutrina; é preciso fazê-lo
com ardor e esse ardor será duplicado, porquanto Deus está convosco,
sempre que fazeis o bem. Todos os que atrairdes serão outras tantas
ovelhas que voltaram ao aprisco. Pobres ovelhas meio transviadas! Crede
que o mais céptico, o mais ateu, o mais incrédulo, enfim, tem sempre no
coração um cantinho que ele desejara poder ocultar a si mesmo. Esse
cantinho é que é preciso procurar, é que é preciso achar. É o lado
vulnerável que se deve atacar. É uma brechazinha que Deus
intencionalmente deixa aberta, para facilitar à sua criatura o meio de
lhe voltar ao seio.
São Bento.
VI
Não vos arreceeis de certos obstáculos, de certas controvérsias. A ninguém atormenteis com qualquer insistência. Aos incrédulos, a
persuasão não virá, senão pelo vosso desinteresse, senão pela vossa
tolerância e pela vossa caridade para com todos, sem exceção. Guardai-vos, sobretudo, de violar a opinião, mesmo por palavras, ou por
demonstrações públicas. Quanto mais modestos fordes, tanto mais
conseguireis tornar-vos apreciados. Nenhum móvel pessoal vos faça agir e
encontrareis nas vossas consciências uma força de atração que só o bem
proporciona. Por ordem de Deus, os Espíritos trabalham pelo progresso de todos, sem exceção. Fazei o mesmo, vós outros, espíritas.
São Luís.
VII
Qual a instituição humana, ou mesmo divina, que não encontrou obstáculos
a vencer, cismas contra que lutar? Se apenas tivésseis uma existência
triste e lânguida, ninguém vos atacaria, sabendo perfeitamente que
havíeis de sucumbir de um momento para outro. Mas, como a vossa
vitalidade é forte e ativa, como a árvore espírita tem fortes raízes,
admitem que ela poderá viver longo tempo e tentam golpeá-la a machado.
Que conseguirão esses invejosos? Quando muito, deceparão alguns galhos,
que renascerão com seiva nova e serão mais robustos do que nunca.
Channing.
VIII
Vou falar-vos da firmeza que deveis possuir nos vossos trabalhos
espíritas. Uma citação sobre este ponto já vos foi feita. Aconselho-vos
que a estudeis de coração e que lhe apliqueis o espírito a vós mesmos,
porquanto, como São Paulo, sereis perseguidos, não em carne e em osso,
mas em espírito. Os incrédulos, os fariseus da época vos hão de
vituperar e escarnecer. Nada temais: será uma prova que vos fortalecerá,
se a souberdes entregar a Deus e mais tarde vereis coroados de êxito os
vossos esforços. Será para vós um grande triunfo no dia da eternidade,
sem esquecer que, neste mundo, já é um consolo, para os que hão perdido
parentes e amigos. Saber que estes são ditosos, que se podem comunicar
com eles é uma felicidade. Caminhai, pois, para a frente; cumpri a
missão que Deus vos dá e ela será contada no dia em que comparecerdes
ante o Onipotente.
Channing.
IX
Venho, eu, vosso salvador e vosso juiz; venho, como outrora, aos filhos
transviados de Israel; venho trazer a verdade e dissipar as trevas.
Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, tem que lembrar
aos materialistas que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom,
o Deus grande, que faz germinar a planta e que levanta as ondas.
Revelei a doutrina divina; como o ceifeiro, atei em feixes o bem esparso
na humanidade e disse: Vinde a mim, vós todos que sofreis!
Mas,
ingratos, os homens se desviaram do caminho reto e largo que conduz ao
reino de meu Pai e se perderam nas ásperas veredas da impiedade. Meu Pai
não quer aniquilar a raça humana; quer, — não mais por meio de profetas,
não mais por meio de apóstolos, — porém, que, ajudando-vos uns aos outros, e mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto a morte não
existe, vos socorrais e que a voz dos que já não existem ainda se faça
ouvir, clamando-vos: Orai e crede! por isso que a morte é a
ressurreição, e a vida a prova escolhida, durante a qual, cultivadas,
as vossas virtudes têm que crescer e desenvolver-se como o cedro.
Crede nas vozes que vos respondem: são as próprias almas dos que
evocais. Só muito raramente me comunico. Meus amigos, os que hão
assistido à minha vida e à minha morte são os intérpretes divinos das
vontades de meu Pai.
Homens fracos, que acreditais no erro das
vossas inteligências obscuras, não apagueis o facho que a clemência
divina vos coloca nas mãos, para vos clarear a estrada e reconduzir-vos,
filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.
Em verdade vos digo: crede na diversidade, na multiplicidade
dos Espíritos que vos cercam. Estou infinitamente tocado de compaixão
pelas vossas misérias, pela vossa imensa fraqueza, para deixar de
estender mão protetora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem
no abismo do erro. Crede, amai, compreendei as verdades que vos são
reveladas; não mistureis o joio com o bom grão, os sistemas com as
verdades.
Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensino;
instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no
Cristianismo; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis
que do além-túmulo, que julgais o nada, vos clamam vozes:
Irmãos! nada
perece; Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da
impiedade.
Nota. Esta comunicação,
obtida por um dos melhores médiuns da Sociedade Espírita de Paris, foi
assinada com um nome que o respeito nos não permite reproduzir, senão
sob todas as reservas, tão grande seria o insigne favor da sua
autenticidade e porque dele se há muitas vezes abusado demais, em
comunicações evidentemente apócrifas. Esse nome é o de Jesus de Nazaré.
De modo algum duvidamos de que ele possa manifestar-se; mas, se os
Espíritos verdadeiramente superiores não o fazem, senão em
circunstâncias excepcionais, a razão nos inibe de acreditar que o
Espírito por excelência puro responda ao chamado do primeiro que
apareça. Em todo caso, haveria profanação, no se lhe atribuir uma
linguagem indigna dele. Por estas considerações, é que nos
temos abstido sempre de publicar o que traga esse nome. E julgamos que
ninguém será circunspecto em excesso no tocante a publicações deste
gênero, que apenas para o amor-próprio têm autenticidade e cujo menor
inconveniente é fornecer armas aos adversários do Espiritismo. Como já dissemos, quanto mais elevados são os Espíritos na hierarquia,
com tanto mais desconfiança devem os seus nomes ser acolhidos nos
ditados. Fora mister ser dotado de bem grande dose de orgulho, para
poder alguém vangloriar-se de ter o privilégio das comunicações por eles
dadas e considerar-se digno de com eles confabular, como com os que lhe
são iguais. Na comunicação acima apenas uma coisa
reconhecemos: é a superioridade incontestável da linguagem e das ideias,
deixando que cada um julgue por si mesmo se aquele de quem ela traz o
nome não a renegaria.