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De que serve o ensino dos Espíritos, dirão alguns, se não nos oferece
mais certeza do que o ensino humano? Fácil é a resposta. Não aceitamos
com igual confiança o ensino de todos os homens e, entre duas doutrinas,
preferimos aquela cujo autor nos parece mais esclarecido, mais capaz,
mais judicioso, menos acessível às paixões. Do mesmo modo se deve
proceder com os Espíritos. Se entre eles há os que não estão acima da humanidade, muitos há que a ultrapassaram e estes nos podem dar
ensinamentos que em vão buscaríamos com os homens mais instruídos.
De
distingui-los é do que deve tratar com cuidado quem queira
esclarecer-se e a fazer essa distinção é o a que conduz o Espiritismo.
Porém, mesmo esses ensinamentos têm um limite e, se aos Espíritos não é
dado saberem tudo, com mais forte razão isso se verifica relativamente
aos homens. Há coisas, portanto, sobre as quais será inútil interrogar
os Espíritos, ou porque lhes seja defeso revelá-las, ou porque eles
próprios as ignoram e a cujo respeito apenas podem expender suas
opiniões pessoais. Ora, são essas opiniões pessoais que os Espíritos
orgulhosos apresentam como verdades absolutas. Sobretudo, acerca do que
deva permanecer oculto, como o futuro e o princípio das coisas, é que
eles mais insistem, a fim de insinuarem que se acham de posse dos
segredos de Deus. Por isso mesmo, sobre esses pontos é que mais
contradições se observam. (Veja-se o capítulo precedente.)