Em sua última travessia, um velho navio foi assaltado por terrível tempestade. Além de grande número de passageiros, transportava uma porção de mercadorias estrangeiras ao seu destino, acumuladas pela avareza e cupidez de seus donos. O perigo era iminente. Reinava a bordo a maior desordem. Os chefes se recusavam a lançar a carga fora. Suas ordens eram ignoradas, pois tinham perdido a confiança da equipagem e dos passageiros. Era necessário pensar em abandonar o navio. Puseram três embarcações no mar. Na primeira, a maior, precipitaram-se, aturdidos, os mais impacientes e os mais inexperientes, que se apressaram a remar na direção da luz que avistavam ao longe, na costa. Caíram nas mãos de uma horda de náufragos, que os despojou dos objetos preciosos que tinham recolhido às pressas e os maltratou sem piedade.
Os segundos, mais perspicazes, souberam distinguir um farol libertador em meio às luzes enganadoras que iluminavam o horizonte. Confiantes, lançaram o barco ao capricho das ondas e foram arrebentar-se nos arrecifes, ao pé do farol, do qual não haviam tirado os olhos. Foram tanto mais sensíveis à sua ruína e à perda de seus bens, quanto haviam entrevisto a salvação.
Os terceiros, pouco numerosos, mas sábios e prudentes, guiaram com cuidado o frágil barco em meio aos escolhos, e salvaram corpos e bens, sem outro mal além da fadiga da viagem.
Não vos contenteis, portanto, em vos guardardes contra os faróis dos náufragos, contra os maus Espíritos, mas sabei evitar o erro dos viajantes indolentes, que perderam seus bens e naufragaram no porto. Sabei guiar vosso barco em meio aos escolhos das paixões, e abordareis com felicidade o porto da vida eterna, ricos das virtudes que tiverdes adquirido em vossas viagens.
SÃO VICENTE DE PAULO