Estudo sobre o Espírito das pessoas vivas
O Dr. Vignal
O Dr. Vignal, membro titular da Sociedade, ofereceu-se para servir ao
estudo sobre uma pessoa viva, como se fez com o Conde de R... Foi
evocado na sessão de 3 de fevereiro de 1860.
1.
(A São Luís) ─ Podemos evocar o Dr. Vignal?
─ Sem qualquer perigo, pois que ele
está preparado.
2.
Evocação.
─ Aqui estou. Afirmo-o em nome de Deus, o que não faria
se respondesse por outro.
3.
─ Embora estejais vivo, julgais necessário que a
evocação seja feita em nome de Deus?
─ Deus não existe tanto para os vivos
quanto para os mortos?
4.
─ Estais a ver-nos tão claramente como quando em
pessoa assistíeis às nossas sessões?
─ Um pouco mais claramente.
5.
─ Em que lugar estais aqui?
─ Naturalmente no lugar onde minha ação é necessária: à
direita e um pouco atrás do médium.
6.
─ Para vir de Sully até aqui, tivestes
consciência do espaço transposto?
Vistes o caminho percorrido?
─ Não mais que o carro que me trouxe.
7.
─ Poderemos oferecer-vos uma cadeira?
─ Sois muito bons. Não estou tão
fatigado quanto vós.
8.
─ Como constatais vossa individualidade, aqui
presente?
─ Como os outros.
OBSERVAÇÃO: Ele alude ao que já foi dito em casos
semelhantes, isto é, que o Espírito constata sua individualidade por meio do
perispírito, que representa o seu corpo.
9.
─ Contudo, agradeceríamos se vós mesmo nos
désseis a explicação.
─ O que me pedis é uma repetição.
10.
─ Já que não quereis repetir o que foi dito, é
porque pensais do mesmo modo?
─ Mas está bem claro.
11.
─ Assim, vosso perispírito é para vós uma
espécie de corpo circunscrito e limitado?
─ É evidente. Nem é preciso dizer.
12.
─ Podeis ver o vosso corpo adormecido?
─ Não daqui. Vi-o ao deixá-lo. Tive
vontade de rir.
13.
─ Como é estabelecida a relação entre o vosso
corpo em Sully e o vosso Espírito aqui?
─ Como vos disse, pelo cordão
fluídico.
14.
─ Quereis descrever o melhor possível, para que
o compreendamos, a maneira por que vedes a vós mesmo, abstração feita do vosso
corpo?
─ É muito fácil. Vejo-me como em vigília, ou antes,
pois a comparação é mais justa, como a gente se vê em sonho. Tenho meu corpo,
mas tenho consciência de que é organizado de modo diferente e mais leve que o
outro. Não sinto o peso, a força de atração que me prende à Terra quando
desperto. Numa palavra, como vos disse, não estou fatigado.
15.
─ A luz se vos apresenta com o mesmo tom que no
estado normal?
─ Não. Esse tom é acrescido de uma luz não perceptível
por vossos sentidos grosseiros. Contudo, não infirais que a sensação produzida
pelas cores sobre o nervo óptico seja diferente para mim. O vermelho é
vermelho, e assim por diante. Entretanto, alguns objetos que eu não via, na
obscuridade, quando em estado de vigília, são luminosos por si mesmos, e são
perceptíveis para mim. Assim é que a obscuridade não existe
absolutamente para o Espírito, embora
ele possa estabelecer uma diferença entre o que para vós é claro e o que não é.
16.
─ Vossa visão é indefinida ou limitada ao objeto
ao qual prestais atenção?
─ Nem uma coisa, nem outra. Não sei absolutamente que
tipo de modificações ela pode ensejar para o Espírito inteiramente desprendido.
De minha parte, sei que os objetos materiais são perceptíveis no seu interior;
que minha vista os atravessa. Contudo, não poderia ver por toda parte e a
distância.
17.
─ Gostaríeis de vos submeter a uma pequena
experiência, a título de prova, não motivada pela curiosidade, mas pelo desejo
de nos instruirmos? ─ De modo algum. Isto me é expressamente proibido.
18.
─ Era para lerdes a pergunta que me chega às
mãos e respondê-la sem que eu a verbalizasse.
─ Eu poderia, mas, repito, isto me é
proibido.
19.
─ Como tendes consciência de que vos é proibido
fazê-lo? ─ Pela transmissão de pensamento do Espírito que me proíbe.
20.
─ Então, eis a pergunta. Podeis ver-vos num
espelho?
─ Não. Que vedes num espelho? O reflexo de um objeto
material. Não sou material. Só posso produzir o reflexo pela operação que torna
tangível o perispírito.
21.
─ Assim, um Espírito que se encontrasse nas
condições de um agênere, por exemplo, poderia ver-se num espelho?
─ Certamente.
22.
─ Neste momento poderíeis julgar da saúde ou
doença de uma pessoa, tão seguramente quanto em vosso estado normal?
─ Com mais segurança.
23.
─ Poderíeis dar uma consulta, se alguém vo-la
pedisse?
─ Poderia, mas não quero fazer concorrência aos
sonâmbulos e aos Espíritos benfeitores que os guiam. Quando estiver morto, não
direi que não.
24.
─ O estado em que agora vos encontrais é
idêntico àquele em que estareis depois de morto?
─ Não. Terei certas percepções muito mais precisas. Não
esqueçais que
ainda estou ligado à
matéria.
25.
─ Vosso corpo poderia morrer, enquanto estais
aqui, sem que o suspeitásseis?
─ Não. A gente morre assim todos os
dias.
26.
─ Isto se compreende quanto à morte natural,
sempre precedida de alguns sintomas. Suponhamos, porém, que alguém vos fira e
mate instantaneamente. Como o saberíeis?
─ Eu estaria pronto para receber o
golpe, antes que o braço fosse baixado.
27.
─ Qual a necessidade de vosso Espírito voltar ao
corpo, se nada mais haveria a fazer?
─ É uma lei muito sábia, sem a qual, quando fora do
corpo, muitas vezes hesitaríamos tanto em voltar para ele que faríamos disso um
pretexto para nos suicidarmos... hipocritamente.
28.
─ Suponhamos que vosso Espírito não estivesse
aqui, mas em casa, passeando, enquanto o corpo dormisse. Deveríeis ver tudo o
que lá se passasse?
─ Sim.
29.
─ Nesse caso, suponhamos que lá se praticasse
uma ação má, por parte de um parente ou de um estranho. Seríeis testemunha do
fato?
─ Sem dúvida; mas nem sempre livre para me opor.
Entretanto, isto ocorre com mais frequência do que pensais.
30.
─ Que impressão vos daria essa ação má? Ela vos
afetaria tanto quanto se fosseis testemunha ocular?
─ Às vezes mais, às vezes menos,
conforme as circunstâncias.
31.
─ Experimentaríeis o desejo de vingar-se?
─ De vingar-me, não. De impedi-la,
sim.
OBSERVAÇÃO: Resulta do que acaba de ser dito e, aliás,
é consequência do que já sabemos, que o Espírito de uma pessoa que dorme sabe
perfeitamente o que se passa ao seu redor. Aquele que pretendesse aproveitar-se
do sono para cometer uma ação má em seu prejuízo, engana-se quando crê não ser
visto. Nem mesmo deveria contar sempre com o esquecimento que se segue ao
despertar, porque a pessoa pode guardar uma intuição muito forte, por vezes lhe
inspirando suspeitas. Os sonhos de pressentimento não passam de lembranças mais
ou menos precisas do que se viu. Temos nisto mais uma das consequências morais
do Espiritismo. Dando a convicção do fenômeno, pode ser um freio para muita
gente. Eis um fato que vem em apoio a esta verdade. Uma pessoa recebeu um dia
uma carta sem assinatura e muito descortês. Inutilmente dava tratos à bola para
descobrir o seu autor. Há que admitir-se que durante a noite soube o que
desejava saber, porque, no dia seguinte, ao despertar, e sem que tivesse
sonhado, seu pensamento se dirigiu a alguém de quem não havia suspeitado e,
depois de uma verificação, teve certeza de que não se enganara.
32.
─ Voltemos às vossas sensações e percepções. Por
onde vedes?
─ Por todo o meu ser.
33.
─ Percebeis o som? Por onde?
─ É a mesma coisa, pois a percepção é transmitida ao
Espírito encarnado pelos seus órgãos imperfeitos, e para vós deve ser claro que
ele sinta, quando livre, numerosas percepções que não podeis compreender.
34.
(Alguém toca uma sineta). ─ Ouvis o som
perfeitamente? ─ Mais do que vós.
35.
─ Se vos fizessem ouvir música desafinada,
experimentaríeis uma sensação semelhante à que sentis em estado de vigília?
─ Eu não disse que as sensações são análogas. Há uma
diferença, mas há percepção muito mais completa.
36.
─ Percebeis os odores?
─ Sem dúvida, da mesma maneira que
ocorre com os outros sentidos.
OBSERVAÇÃO: Assim, poder-se-ia dizer que a matéria que
envolve o Espírito é uma espécie de abafador, que amortece a acuidade da
percepção. O Espírito desprendido, recebendo essa percepção sem intermediário,
pode captar as nuanças que escapam àquele a quem chegam através de um meio mais
denso que o perispírito. Compreende-se, então, que os Espíritos sofredores
possam ter dores que, por não serem físicas, do nosso ponto de vista, são mais
pungentes que as dores corporais, e que os Espíritos felizes tenham prazeres
dos quais as nossas sensações não podem dar uma ideia.
37.
─ Se tivésseis pratos apetitosos diante de vós,
sentiríeis vontade de comer? ─ O desejo seria uma distração.
38.
─ Suponhamos que neste momento, enquanto o
Espírito está aqui, vosso corpo tenha fome. Qual o efeito que a visão desses
pratos produziria sobre vós? ─ Isto me faria partir para satisfazer uma
necessidade irresistível.
39.
─ Poderíeis dar-nos a compreender o que se passa
em vós, quando deixais o corpo para vir aqui, ou quando nos deixais para
retomar o corpo? Como o percebeis?
─ Isto seria muito difícil. Entro como saio, sem o
perceber, ou, melhor dito, sem me dar conta da maneira como se opera o
fenômeno. Contudo, não penseis que quando o Espírito entra no corpo esteja
encerrado como num quarto. Ele irradia incessantemente para fora, de sorte que,
pode-se dizer, está mais frequentemente fora do que dentro. Apenas a união é
mais íntima e os laços mais apertados.
40.
─ Vedes outros Espíritos?
─ Aqueles que querem que eu os veja.
41.
─ Como os vedes?
─ Como a mim mesmo.
42.
─ Vede-os aqui, ao nosso redor?
─ Em multidão.
43.
Evocação de Charles Dupont (O Espírito de
Castelnaudary) ─ Atendo ao vosso chamado.
44.
(Ao mesmo) ─ Estais hoje mais tranquilo do que
da última vez que fostes chamado?
─ Sim. Progrido no bem.
45.
─ Compreendeis agora que vossas penas não
durarão para sempre?
─ Sim.
46.
─ Entrevedes o fim dos sofrimentos?
─ Não. Para minha punição, Deus não me
permite ver o seu fim.
47.
(Ao Sr. Vignal): ─ Vedes o Espírito que nos
acaba de responder?
─ Sim. Não é bonito.
48.
─ Podeis descrevê-lo?
─ Vejo-o como foi visto, com a diferença de que não tem
mais sangue nem punhal, e sua fisionomia está mais para a tristeza do que para
o embrutecimento feroz que apresentava na primeira aparição.
49.
─ Desperto, tendes conhecimento do retrato que
foi feito desse Espírito? ─ Sim, e além disso, estou informado.
50.
─ Vendo um Espírito, como sabeis se seu corpo
está vivo ou morto?
─ Por seu cordão fluídico.
51.
─ Como julgais o moral dele?
─ Seu moral deve ser bem triste. Mas
ele melhora.
52.
(A Charles Dupont): ─ Ouvis o que se diz de vós.
Isto vos deve encorajar a perseverar na via do progresso em que entrastes.
─ Obrigado. É o que procuro fazer.
53.
─ Vedes o Espírito do doutor, com o qual
conversamos?
─ Sim.
54.
─ Como o vedes?
─ Vejo-o com um envoltório menos
transparente que o dos outros Espíritos.
55.
─ Como percebeis que ele ainda está vivo?
─ Os Espíritos comuns não têm forma aparente. Este tem uma
forma humana; está envolto numa matéria semelhante a uma névoa, que repete sua
forma humana terrena. O Espírito dos mortos não tem mais esse envoltório, pois
está desprendido dele.
56.
(Ao Sr. Vignal): ─ Se evocarmos um louco, como o
reconheceríeis?
─ Não o reconheceria, se sua loucura fosse recente,
pois não teria tido ação sobre o Espírito, mas se fosse alienado há muito
tempo, a matéria poderia ter tido uma certa influência sobre ele, do que daria
sinais que me serviriam para reconhecêlo, como em vigília.
57.
─ Podeis descrever-nos as causas da loucura?
─ São apenas uma alteração, uma perversão dos órgãos,
que não mais recebem as impressões de maneira regular, transmitindo sensações
falsas e, por isso mesmo, gerando atos diametralmente opostos à vontade do
Espírito.
OBSERVAÇÃO: Acontece muitas vezes que certas criaturas,
cujo Espírito é perfeitamente são, têm nos membros e em outras partes do corpo
movimentos involuntários e independentes da vontade, como os designados pelo
nome de
tiques nervosos. Compreende-se
que se as alterações, em vez de serem no braço ou nos músculos da face, fossem
no cérebro, a emissão das ideias sofreria influência. A impossibilidade de
dirigir ou dominar essa emissão constitui a loucura.
58 .
─ Depois da última resposta do Sr. Vignal, o
médium que servia de intérprete a Charles Dupont escreveu espontaneamente: ─
Reconhece-se esses Espíritos de loucos, quando chegam entre nós, porque eles
giram em todos os sentidos, sem uma ideia firme, nem de Deus, nem das preces.
Necessitam de tempo para se firmarem. Assinado: CAUVIÈRE
Como ninguém tivesse pensado em chamar esse Espírito, o
Sr. Belliol perguntou se seria do Dr. Cauvière, de Marselha, do qual fora
aluno.
─ Sim, sou eu, falecido há um ano e
meio.
OBSERVAÇÃO: O Sr. Belliol reconheceu a assinatura do
Dr. Cauvière. Mais tarde, foi possível comparar com uma assinatura original e
constatar a perfeita semelhança da escrita e da rubrica.
59.
(Ao Sr. Cauvière): ─ A que devemos a honra de
vossa visita inesperada?
─ Não é a primeira vez que venho aqui. Hoje achei uma
ocasião favorável para me comunicar e aproveitei-a.
60.
─ Vedes vosso colega Dr. Vignal, que aqui se
acha em Espírito?
─ Sim, vejo-o.
61.
─ Como sabeis que ainda está vivo?
─ Por seu envoltório menos
transparente que o nosso.
62.
─ Esta resposta concorda com a que acaba de dar
Charles Dupont e que pareceu ultrapassar o alcance de sua inteligência. Fostes
vós quem a ditou?
─ Eu podia influenciá-lo, pois aqui
estava.
63.
─ Em que estado vos achais, como Espírito?
─ Ainda não reencarnei, mas sou um Espírito adiantado,
embora estivesse longe, na Terra, de crer no que chamais Espiritualismo. É
preciso que faça minha educação aqui, onde me acho. Mas a minha inteligência,
aperfeiçoada pelo estudo, esclareceu-se de repente.
64.
─ Se concordardes, iremos fazer uma pergunta
preparada para o Sr. Vignal, e pediremos a resposta de cada um de vós, com o
auxílio de vossos intérpretes particulares. Como encarais agora a diferença
entre o Espírito dos animais e o do homem?
Resposta do Sr. Vignal:
─ Não me é muito mais fácil fazê-lo do que em vigília.
Meu pensamento atual é de que no animal o Espírito dorme, está entorpecido
moralmente, e de que no homem, no seu início, desperta penosamente.
Resposta do Sr. Cauvière:
─ O Espírito do homem é chamado a um maior
aperfeiçoamento que o dos animais. A diferença é sensível, tendo em vista que,
nestes últimos, só existe no estado de instinto. Mais tarde esse instinto pode
aperfeiçoar-se.
65.
─ Pode aperfeiçoar-se a ponto de se transformar
em Espírito humano?
─ Pode, mas depois de ter passado por muitas
existências como animais, quer na Terra, quer em outros planetas.
66.
─ Teríeis a bondade, um e outro, cada um por sua
vez, de nos ditar uma pequena alocução espontânea, sobre assunto de vossa
escolha?
Ditado do Sr. Cauvière
Meus bons amigos, sinto-me tão feliz por poder conversar um pouco
convosco, que desejo dar-vos um conselho, não a vós que,
particularmente, sois crentes, mas àqueles cuja fé ainda é vacilante, ou
que não a têm e a repelem. É
verdade que
não posso aqui ver todos os meus confrades vivos, que não me
acreditariam. Contudo eu lhes diria que, em vida, repeli teimosamente a
verdade, posto a sentisse bem no íntimo. A maioria deles fazem como eu:
por um falso amor próprio não querem concordar com o que por vezes
experimentam. Estão errados, porque a indecisão faz sofrer na Terra,
sobretudo no momento de deixá-la. Instruí-vos, pois! Sede de boafé! Em
vida sereis mais felizes, assim como no mundo onde ora me encontro. Se
realmente o quiserdes, virei algumas vezes conversar convosco.
CAUVIÈRE
Ditado do Sr. Vignal
Para que serve a Astronomia, e que nos importa o tempo que leva uma bala
de canhão para percorrer a distância entre a Terra e o Sol? Assim
raciocinam pessoas muito dignas, que não veem nas ciências outros
resultados além da aplicação que pode ser feita na indústria ou para o
seu bem-estar. Mas sem a Astronomia, que razão teríeis para adotar o
admirável sistema que estamos desenvolvendo, em vez de um outro, trazido
por Espíritos ignorantes e invejosos?
Se, como se pensava
outrora, a Terra fosse o ponto central do Universo; se os numerosos sóis
que povoam o espaço não passassem de simples pontos brilhantes fixados
numa abóbada de cristal, que razões teríeis para admitir o passado e o
futuro do Espírito? A Astronomia, ao contrário, vem demonstrar-nos que a
vida planetária que circula em torno do nosso Sol, se reflete em redor
de todos os que compõem a nebulosa, da qual faz parte o nosso mundo; que
todos esses planetas são organizados de maneira diferente uns dos
outros e que, em consequência, neles as condições de vida não são as
mesmas. Sois, então, levados a vos perguntar se Deus cria
instantaneamente e para cada corpo, especialmente, o Espírito que deve
animá-lo; por que razão teria achado justo criá-lo aqui, e não ali, na
Terra e não em outro mundo, nesta condição e não em outra? Assim, uma lógica inflexível vos leva a admitir como expressão da maior
verdade a habitabilidade dos mundos, a preexistência da alma e a
reencarnação. Então a Astronomia é útil, porque vos põe em
condições de receber um esboço das sublimes verdades que para vós serão
desenvolvidas, por força do progresso do Espiritismo e da própria
Ciência. Porque, auxiliada pela indústria, é chamada a levar-vos à
descoberta de muitas outras maravilhas, além daquelas que até agora
apenas pudestes entrever. De agora em diante, a Astronomia e a Teologia
são irmãs, e vão marchar de mãos dadas.
VIGNAL, por Arago.
Senhorita Indermuhle, surda-muda de nascença, 32 anos, vida.
1.
(A São Luís): ─ Podemos entrar em comunicação
com o Espírito da Senhorita Indermuhle? ─ Podeis.
2.
Evocação.
─ Aqui estou, e o afirmo em nome de
Deus.
3.
(A São Luís): ─ Podeis dizer se o Espírito que
nos responde é mesmo o da Senhorita Indermuhle?
─ Posso afirmar e vo-lo afirmo. Estais mais adiantados
e credes que se fosse útil que outro respondesse em seu lugar, isto seria mais
embaraçoso? A afirmação vos prova que ela está aqui. Cabe-vos garantir uma boa
comunicação pela natureza e pelo móvel de vossas perguntas.
3-A
[1].
─ Sabeis bem onde vos encontrais agora?
─ Perfeitamente. Pensais que eu não
tenha sido instruída a respeito?
4. Como podeis responder-nos aqui, se vosso corpo
está na Suíça?
─ Porque não é o corpo que responde. Aliás, como bem
sabeis, ele é perfeitamente incapaz de fazê-lo.
5.
─ Que faz vosso corpo neste momento?
─ Cochila.
6.
─ Está com saúde?
─ Excelente.
OBSERVAÇÃO: O irmão da Senhorita Indermuhle, que se
achava presente, confirmou que realmente ela estava com saúde.
7.
─ Quanto tempo levastes para vir da Suíça até
aqui?
─ Um tempo inapreciável para vós.
8.
─ Vistes o caminho percorrido? ─ Não.
9.
─ Estais surpresa por vos achardes nesta
reunião?
─ Minha primeira resposta vos prova
que não.
10.
─ Que aconteceria se vosso corpo despertasse,
enquanto estais aqui? ─ Eu lá estaria.
11.
─ Existe um laço qualquer entre o vosso
Espírito, que está aqui, e o corpo que lá está?
─ Sim. Sem isto, quem lhe advertiria
que devo voltar a ele?
12.
─ Vede-nos bem distintamente?
─ Sim, perfeitamente.
13.
─ Compreendeis que nos possais ver, mas que não
vos vejamos? — Mas, sem dúvida.
14.
─ Ouvis o ruído que, batendo, produzo no
momento?
─ Aqui não sou surda.
15.
─ Como vos dais conta, desde que, por
comparação, não tendes lembrança do ruído em estado de vigília?
─
Eu não nasci ontem.
OBSERVAÇÃO: A lembrança da sensação do ruído lhe vem
das existências em que não era surda. Esta resposta é perfeitamente lógica.
16.
─ Escutaríeis música com prazer?
─ Com tanto mais prazer quão longo o tempo que isso não
me acontece. Cantai algo para mim.
17.
─ Lamentamos não poder fazê-lo agora, e que não
haja aqui um instrumento para vos proporcionar este prazer. Parece-nos porém
que desprendendose todos os dias durante o sono, vosso Espírito deve
transportar-se a lugares onde podeis ouvir música.
─ Isto me acontece muito raramente.
18.
─ Como podeis responder em francês, desde que
sois alemã e ignorais a nossa língua?
─ O pensamento não tem língua. Eu o transmito ao guia
do médium, que o traduz para a língua que lhe é familiar.
19.
─ Qual é esse guia de que falais?
─ Seu Espírito familiar. É sempre assim que recebeis
comunicações de Espíritos estrangeiros, e é assim que os Espíritos falam todas
as línguas.
OBSERVAÇÃO: Desta maneira, muitas vazes as respostas só
nos chegariam de terceira mão. O Espírito interrogado transmite o pensamento ao
Espírito familiar, esse ao médium e o médium o traduz, falando ou escrevendo.
Ora, podendo o médium ser assistido por Espíritos mais ou menos bons, isto
explica como, em muitas circunstâncias, o pensamento do Espírito interrogado
pode ser alterado. Assim, no começo, São Luís disse que a presença do Espírito
evocado nem sempre basta para assegurar a integridade das respostas. Cabe-nos
avaliar e julgar se são lógicas e estão em consonância com a natureza do
Espírito. Aliás, segundo a Senhorita Indermuhle, esta tríplice fieira só
ocorreria com Espíritos estrangeiros.
20.
─ Qual a causa da enfermidade que vos afetou?
─ Uma causa voluntária.
21.
─ Por que singularidade sois seis irmãos e irmãs
igualmente afetados?
─ Pelas mesmas causas que eu.
22.
─ Assim, foi voluntariamente que todos
escolhestes a mesma prova? Pensamos que esta reunião na mesma família deve ter
ocorrido como uma prova para os pais. É uma boa razão?
─ Ela se aproxima da verdade.
23.
─ Vedes aqui o vosso irmão? ─ Que pergunta!
24.
─ Estais contente de vê-lo?
─ Mesma resposta.
OBSERVAÇÃO: Sabe-se que os Espíritos não gostam de
repetir. Nossa linguagem para eles é tão lenta que evitam tudo quanto lhes
parece inútil. Eis um ponto que caracteriza os Espíritos sérios. Os levianos,
zombadores, obsessores e pseudo-sábios geralmente são faladores e prolixos.
Como os homens a quem falta base, falam para nada dizer; as palavras substituem
os pensamentos, que julgam impor pelas frases redundantes e por um estilo
pedante.
25.
─ Gostaríeis de dizer-lhe alguma coisa?
─ Peço-lhe que receba a expressão dos meus sinceros
agradecimentos pelo bom pensamento que teve de me fazer chamar até aqui, onde
muito felizmente me acho em contato com bons Espíritos, embora veja alguns que
não valem muito. Ganhei em instrução e não esquecerei o que lhe devo.
-
O número 3 está repetido
no original. (N. do T.)