Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860

Allan Kardec

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Erro de linguagem de um Espírito

Recebemos a carta seguinte, a propósito do fato relatado na Revista Espírita de maio, no artigo “Pneumatografia ou escrita direta”: Senhor,

Só hoje li o vosso número de maio, e nele encontro o relato de uma experiência de escrita direta, feita em minha presença, em casa da Srta. Huet. É-me um prazer confirmar o relato, exceção de uma pequena inexatidão, que escapou ao narrador.

Não é God loves you, mas God love you, que encontramos no papel, isto é, o verbo love, sem o s, não estava na terceira pessoa do singular do indicativo presente.

Assim, não se poderia traduzir por Deus vos ama, a menos que se subentenda a existência de um que e se dê à frase uma forma de imperativo ou de subjuntivo. A observação foi feita na sessão seguinte ao Espírito de Channing (se é que foi mesmo ao Espírito de Channing, pois me conheceis e vos peço permissão para conservar minhas dúvidas sobre a identidade absoluta dos Espíritos); e o Espírito de Channing, digo eu, não se explicou muito categoricamente a respeito desse s omitido de propósito ou por inadvertência. Ele próprio nos censurou um pouco, se tenho boa memória, por ligar importância a uma letra a mais ou a menos numa experiência tão notável.

A despeito dessa censura amistosa feita pelo Espírito de Channing, julguei dever comunicar-vos a minha observação sobre a maneira que a palavra love foi escrita. O honrado Sr. E. de B..., que ficou com o papel, pode mostrá-lo e o mostrará a muitas pessoas, e entre essas pessoas poderá haver quem tenha conhecimento do vosso último número. Ora, importa ─ e estou persuadido de que sois de minha opinião ─ que a maior fidelidade se encontre no relato de fatos tão estranhos e tão maravilhosos que obtemos.

Recebei, etc.
MATHIEU.

Havíamos notado perfeitamente a falta assinalada pelo Sr. Mathieu e incumbimo-nos de corrigi-la, sabendo, por experiência, que os Espíritos ligam muito pouca importância a essas espécies de pecadilhos, com os quais os mais esclarecidos não têm nenhum escrúpulo. Assim, não ficamos absolutamente admirados da observação de Channing em presença, como o disse, de um fato insignificante. A exatidão na reprodução dos fatos é, sem dúvida, uma coisa essencial. Mas a importância de tais fatos é relativa, e confessamos que se devêssemos sempre, para o francês, seguir a ortografia dos invisíveis, os senhores gramáticos iriam divertir-se, tratando-os de cozinheiros, mesmo quando o médium tenha passado nessas matérias.

Temos um, ou uma, na Sociedade, cheia de diplomas, e cujas comunicações, por vezes escritas muito calmamente, têm numerosos erros deste gênero. Os Espíritos sempre nos dizem: “Ligai ao fundo e não à forma; para nós, o pensamento é tudo; a forma, nada. Corrigi, pois, a forma, se quiserdes. Nós vos deixamos esse cuidado”.

Se a forma for defeituosa, não a conservamos senão quando pode servir de ensinamento. Ora, tal não era o caso, em nossa opinião, no fato acima, porque o sentido estava evidente.

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