Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860

Allan Kardec

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Júpiter (Médium, Sra. Costel)

O planeta Júpiter, infinitamente maior que a Terra, não apresenta o mesmo aspecto. É inundado por uma luz pura e brilhante, que ilumina sem ofuscar. As árvores, as flores, os insetos, os animais, dos quais os vossos são ponto de partida, ali são maiores e aperfeiçoados; a Natureza é mais grandiosa e mais variada; a temperatura é igual e deliciosa; a harmonia das esferas encanta os olhos e os ouvidos. A forma dos seres que o habitam é a mesma que a vossa, mas embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada. Não somos submetidos às condições materiais de vossa natureza, nem temos as necessidades, nem as doenças que lhes são consequências. Somos almas revestidas de envoltório diáfano, que conserva os traços de nossas passadas migrações.
Aparecemos aos amigos como nos conheceram, mas iluminados por uma luz divina, transfigurados por nossas impressões interiores, que são sempre elevadas.

Como a Terra, Júpiter é dividido num grande número de regiões de aspectos variados, mas não de clima. As diferenças de condições são determinadas apenas pela superioridade moral e de inteligência; não há senhores nem escravos; os mais elevados graus são marcados somente pelas comunicações mais diretas e mais frequentes com os Espíritos puros e pelas mais importantes funções que nos são confiadas. Vossas habitações não vos dão a menor ideia das nossas, pois não temos as mesmas necessidades. Cultivamos as artes, que atingiram um grau de perfeição desconhecido entre vós. Gozamos de espetáculos sublimes, entre os quais mais admiramos, à medida que melhor compreendemos, o da inesgotável variedade da Criação, variedade harmoniosa, que tem o mesmo ponto de partida e se aperfeiçoa no mesmo sentido. Todos os sentimentos ternos e elevados da natureza humana, nós os encontramos engrandecidos e purificados, e o desejo incessante que temos, de atingir o plano dos Espíritos puros, não é um tormento, mas uma nobre ambição que nos impele ao aperfeiçoamento. Estudamos incessantemente, com amor, para nos elevarmos até eles, o que também fazem os seres inferiores para nos igualarem.

Vossos pequenos ódios, vossos ciúmes mesquinhos nos são desconhecidos. Um elo de amor e de fraternidade nos une. Os mais fortes ajudam os mais fracos. Em vosso mundo tendes necessidade da sombra do mal para sentirdes o bem, da noite para admirardes a luz, da doença para apreciardes a saúde. Aqui, esses contrastes são desnecessários, pois a eterna luz, a eterna bondade, a eterna calma nos cumulam de uma eterna alegria. Eis o que é mais difícil de compreender para o Espírito humano: ele foi engenhoso para pintar os tormentos do Inferno; jamais pôde representar as alegrias do Céu. E por que? Porque, sendo inferior, só tendo suportado sofrimentos e misérias, não pôde entrever as claridades celestes. Não poderá falar senão do que conhece, como um viajante descreve os países que percorreu. Mas, à medida que se eleva e se depura, o horizonte se esclarece e ele compreende o bem que está à sua frente, como compreendeu o mal que ficou para trás.

Já outros Espíritos tentaram vos dar a compreender, tanto quanto o permite a vossa natureza, o estado dos mundos felizes, a fim de vos estimular a seguir o único caminho que para eles conduz. Mas há entre vós os que estão de tal modo ligados à matéria, que ainda preferem as alegrias materiais da Terra às alegrias puras reservadas ao homem que sabe desprender-se delas. Que gozem, pois, enquanto aqui estão, porque um triste revés os espera, talvez ainda nesta vida. Os que escolhemos para nossos intérpretes são os primeiros a receberem a luz. Infelizes serão eles, sobretudo se não aproveitarem o favor que Deus lhes concedeu, porque sua justiça pesará sobre eles.

GEORGES

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