O diabrete familiar (Médium, Sra. Costel)
Jamais me comuniquei convosco e me sinto muito feliz por aumentar a vossa plêiade literária. Bem sabeis, vós que me lestes com tanto gosto, que opinião eu tinha sobre isso a que chamam o mundo fantástico. Muitas vezes só, nas longas noites de inverno, recolhido a um canto de meu lar solitário, eu escutava o gemido das notas lamentosas do vento. Enquanto o olhar distraído seguia vagamente os desenhos inflamados do fogo, certamente o diabrete familiar então me entretinha, e eu não inventava Trilby: eu repetia o que ele me havia murmurado ao ouvido atento. Que coisa encantadora, sentir que vivem em volta de nós esses hóspedes invisíveis! Com eles, nada de mistérios. Eles vos amam mesmo, malgrado vosso, e vos conhecem melhor do que vós próprios vos conheceis. Na minha vida literária, na minha vida de homem, devo a esses amigos invisíveis os meus melhores sucessos e as minhas mais caras consolações. É a minha vez, agora, de murmurar a ouvidos amigos as coisas que o coração adivinha e não repete. Quero dizer-vos, caro médium, que muitas vezes terei o suave privilégio de conversar convosco.
CHARLES NODIER