Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860

Allan Kardec

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UM IRMÃO MORTO A SUA IRMÃ VIVA

(MÉDIUM, SRA. SCHMIDT)


Minha irmã, não me evoques muitas vezes. Isto não me impede de vir ver-te todos os dias. Conheço teus aborrecimentos: tua vida é penosa, eu o sei, mas é preciso sofrer a sorte nem sempre alegre. Contudo, há por vezes um alivio nas penas. Por exemplo, aquele que faz o bem à custa de sua própria felicidade, pode, por si mesmo ou pelos outros, desviar o rigor de mutas provas.

Neste mundo é raro ver-se fazer o bem com essa abnegação. Sem dúvida é difícil, mas não impossível; e os que têm essa sublime virtude são realmente os eleitos do Senhor. Se a gente se desse bem conta dessa pobre peregrinação na Terra, o compreenderia, mas assim não é: os homens se apegam à busca dos bens, como se devessem ficar sempre em seu exílio. Contudo, o bom senso comum, a mais simples lógica demonstram, diariamente, que aqui não passamos de aves de arribação e que os que têm menos penas nas asas são os que chegam mais depressa.

Minha boa irmã, para que serve a esse rico todo esse luxo, todo esse supérfluo? Amanhã estará despojado de todos esses vãos ouropéis para descer ao túmulo, para onde nada levará! É verdade que fez uma linda viagem; nada lhe faltou, não sabia mais o que desejar e esgotou as delicias da vida. Também é certo que, em seu delírio, por vezes lançou, sorrindo, a esmola nas mãos de seu irmão. Por isso terá retirado algo da boca? Não: não se privou de um só prazer, de uma só fantasia. Contudo, esse irmão é também um filho de Deus, pai de todos, a que tudo pertence. Compreendes, minha irmã, que um bom pai não deserda um de seus filhos para enriquecer o outro? Eis por que recompensará o que foi privado de sua parte nesta vida.

Assim, pois, os que se julgam deserdados, abandonados e esquecidos, alcançarão em breve a margem bendita, onde reinam a justiça e a felicidade. Mas infelizes dos que fizeram mau uso dos bens que nosso Pai lhes confiou. Infeliz, também, o homem aquinhoado com o dom precioso da inteligência, se dela abusou! Acredita-me, Maria, quando se crê em Deus nada existe na Terra que se possa invejar, a não ser a graça de praticar suas leis.

Teu IRMÃO WILHELM

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