Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862

Allan Kardec

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Sociedade espírita de Viena

Anunciando que uma edição alemã de nossa brochura O Espiritismo em sua expressão mais simples tinha sido publicada em Viena, falamos da Sociedade Espírita dessa cidade. Recebemos do presidente daquela Sociedade a seguinte carta:

Sr. Allan Kardec,

A Sociedade Espírita de Viena encarrega-me de vos comunicar que acaba de nomear-vos seu presidente de honra, e vos pede aceiteis esse título como sinal da alta e respeitosa estima que vos dedica. Desnecessário acrescentar, senhor, que servindo aqui de instrumento, apenas obedeço a um impulso de meu coração que vos é inteiramente dedicado.

Permiti-me, senhor, sem abusar de vosso precioso tempo, acrescentar algumas palavras relativas à nossa Sociedade. Ela acaba de entrar em seu terceiro ano, e posto restrito seja ainda o seu número de associados, posso ter a satisfação de dizer que, no círculo privado em que ainda se acha, pratica proporcionalmente muito bem. Tenho esperança que ao chegar o momento de expandi-la, ela produzirá frutos mais abundantes. É o meu mais vivo desejo.

No ano passado, por ocasião do primeiro aniversário, nosso Espírito protetor me dizia em seu profundo e majestoso laconismo: “Semeaste a boa semente. Eu te abençoo”.

Este ano ele me disse: “Para o ano que vai começar, eis a máxima: Com Deus e para Deus”. No ano passado, foi uma recompensa para o que passou. Este ano, é um encorajamento para o futuro. Assim preparei-me este ano para empregar meios mais diretos para atuar sobre a opinião pública. Para começar, a tradução da vossa excelente brochura não terá deixado de preparar o terreno. Em seguida, pensei na publicação de um jornal em alemão, como meio mais seguro de apressar os resultados.

Não me faltará material, sobretudo se permitirdes por vezes recorrer aos tesouros encerrados na vossa Revista onde sempre, bem entendido, tomarei como dever sagrado indicar a fonte das passagens e artigos que tiver traduzido.

Enfim, para coroar a obra, desejo pôr ao alcance dos alemães o vosso precioso e indispensável O Livro dos Espíritos. Assim, pois, senhor, sem temer importunarvos, pois estou persuadido que todo pensamento do bem corresponde ao vosso próprio pensamento, venho pedir-vos, se ninguém ainda obteve o favor, que me permitais traduzi-lo em língua alemã.

Acabo de vos expor, senhor, os projetos que medito, para, entre nós, dar um impulso maior à propagação do Espiritismo. Ousarei dirigir-me à vossa benévola experiência, para receber alguns salutares conselhos que, tende certeza, senhor, terão grande peso na decisão que eu tomar.

Recebei, senhor, etc.

C. DELHEZ


Essa carta foi acompanhada do seguinte diploma:

SOCIEDADE ESPÍRITA, DITA DA CARIDADE, DE VIENA - ÁUSTRIA(SESSÃO DE ANIVERSÁRIO, 18 DE MAIO DE 1862)

Em nome de Deus Todo-Poderoso e sob a proteção do Espírito divino, a Sociedade Espírita de Viena, querendo, por ocasião de seu segundo aniversário, testemunhar à sua primogênita de Paris, na pessoa de seu digno e corajoso presidente, a deferência e o reconhecimento que lhe inspiram seus constantes esforços e seus preciosos trabalhos pela santa causa do Espiritismo e a vitória da fraternidade universal, por proposta de seu presidente e com a aprovação de seus conselheiros espirituais, nomeia, por aclamação, o Sr. Allan Kardec, presidente da Sociedade Espírita de Paris, com o título de Presidente de Honra da Sociedade Espírita, dita da Caridade, de Viena, Áustria.

Viena, 19 de maio de 1862.

O Presidente,
C. DELHEZ

Devido a insistentes pedidos, sentimo-nos no dever de publicar textualmente as duas peças acima, como testemunho de nossa profunda gratidão pela honra que nos fazem os irmãos espíritas de Viena, honra que estávamos longe de esperar, e porque nela vemos, não uma homenagem à nossa pessoa, mas aos princípios regeneradores do Espiritismo. É uma nova prova do crédito que adquirem tanto no estrangeiro quanto na França. Pondo de lado o que as cartas têm de lisonjeiro para nós, o que nos custa viva satisfação é ver a finalidade eminentemente séria, religiosa e humanitária que se propõe a Sociedade Espírita de Viena, à qual o nosso concurso e a nossa dedicação não poderão faltar. Outro tanto diremos das sociedades que se formam em vários pontos e que sem restrições aceitam os princípios de O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns.

Entre as que se organizaram ultimamente devemos citar a Sociedade Africana de Estudos Espíritas, de Constantina, que resolveu colocar-se sob o nosso patrocínio e o da Sociedade de Paris, e que já conta com quarenta membros. Teremos ocasião de voltar a falar sobre este assunto com mais detalhes.

À vista desse movimento geral e do incessante crescimento da opinião pública, os adversários do Espiritismo compreenderão, enfim, que todo esforço para detê-lo será inútil, e que o que melhor há para fazer é aceitá-lo, considerando-o, de agora em diante, como um fato consumado. A arma do ridículo esgotou-se em vãos esforços, pois ela é impotente.

A doutrina do diabo, que buscam restaurar neste momento, com uma espécie de encarniçamento, será mais feliz? A resposta está, por completo, no efeito que produz: Ela provoca risos. Para dar resultado fora preciso que dela estivessem convictos os que a propagam. Ora, podemos afirmar com segurança que entre eles muitos não acreditam nisso mais do que nós. É um último golpe cujo resultado será apressar a propagação das ideias novas, a princípio porque as torna conhecidas, despertando a curiosidade, depois porque prova a escassez de argumentos realmente sérios.

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