A lagarta e a borboleta
(Fábula do Espírito batedor de Carcassone)
De um ramo de jasmins trabalhando os contornos,
Trêmula, uma lagarta ao declinar de seus dias,
Dizia: “Estou muito doente,
Já nem digiro a folha de salada;
Mal e mal a couve provoca-me apetite;
Eu morro pouco a pouco;
Como é triste morrer! Mais valia não nascer.
Sem murmurar é preciso submeter-se.
Outros, depois de mim, que tracem o seu caminho.
─ Mas tu não morrerás, lhe diz a borboleta;
Se tenho boa memória, foi sobre a mesma planta
Que contigo vivi; pois eu sou da família.
O futuro te prepara destino mais feliz;
Talvez um mesmo amor nos unirá os dois.
Espera!... Rápida é a passagem do sono.
Como eu, tu serás uma crisálida;
Como eu poderás, em cores brilhantes,
Respirar o perfume das flores”.
A velha respondeu: “Impostora! Impostora!
Nada viria mudar as leis da Natureza;
O espinheiro jamais será jasmim.
Aos meus anéis partidos, às minhas juntas fracas
Que hábil operário virá ligar as asas?
Jovem louca, segue o teu caminho.
─ Lagarta! Tens razão. O possível tem limites!
Responde um caracol, triunfante em seus cornos.
Um sapo aplaudiu. Com seu dardo, um zangão
Insultou a linda borboleta.
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Não, nem sempre é a verdade que brilha.
Aqui na Terra, quantos cegos de nascença
Negando a alma dos mortos. Doutores, raciocinais
Mais ou menos como a lagarta.