15. Pergunta-se como homens puderam ver essas coisas no êxtase se elas
não existem. Não é aqui o lugar de explicar a fonte das imagens
fantásticas que se produzem às vezes com as aparências da realidade.
Diremos somente que é preciso ver nisso uma prova do princípio de que o
êxtase é a menos segura de todas as revelações,* porque esse estado de
sobre excitação não é sempre efeito de um desprendimento da alma tão
completo quanto se poderia crer, e encontra-se aí com muita frequência o
reflexo das preocupações da véspera. As ideias das quais o espírito é
nutrido e das quais o cérebro, ou melhor, o envoltório perispiritual
correspondente ao cérebro, conservou a impressão, reproduzem-se
amplificadas como numa miragem, sob formas vaporosas que se cruzam e se
confundem, e compõem conjuntos bizarros. Os extáticos de todos os
cultos sempre viram coisas em relação com a fé de que estavam
penetrados; não é então surpreendente que aqueles que, como Santa
Teresa, estão fortemente imbuídos das ideias do inferno, tais como as
apresentam as descrições verbais ou escritas e os quadros, tenham visões
que não são, propriamente falando, senão a reprodução daquelas, e
produzam o efeito de um pesadelo. Um pagão cheio de fé teria visto o
Tártaro e as Fúrias, como teria visto no Olimpo Júpiter empunhando o
raio.
* Livro dos Espíritos, n.os 443 e 444.