Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867

Allan Kardec

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Poesia Espírita

Aos Espíritos protetores


Mais alto, ainda mais alto!

Alça teu voo, alma minha,

Para esse puro ideal que Deus te revelou!

Para além dos céus e desses mundos em chama,

Para o absoluto divino eu me sinto chamado.

Adormecido subirei a escada de Jacob,

Subirei sempre e jamais descerei,

Porque benévolo e doce, com fraterna mão,

Em caminho um Espírito assegura-me os passos.

Mostra-me o fim, me ama e me consola;

Aqui está, eu o sinto e ouço a sua voz

Ressoar-me no peito, como um sopro de Éolo

Ressoa pelos montes, planícies e florestas!

Que importa seu nome! Ele não é da Terra;

Anjo misterioso dos amores celestes,

Ele tem do ignorado o encanto solitário;

Habita muito longe, inefáveis moradas!

Lá!... seu corpo, que um raio de glória transfigura

Tem sutilezas do impalpável éter;

Ignora os males da fraca natureza,

Contudo é bom, porque também sofreu.

Tu me falas no silêncio,

Vejo-te na obscuridade;

Fazes-me sentir de antemão

As glórias da Eternidade.

Se faço o mal me desculpas;

Nas vigílias e nos sonhos,

O que empreendo, completas;

Facho que luz na sombra,

Tu me susténs a coragem,

Impeles minha nave para a margem,

Na tempestade me proteges

E me aclaras dentro da noite.

Tu dizes: amor; tu dizes: prece;

Tu dizes: esperança; tu dizes: virtude,

E dás o nome de irmão

À humilde criança frágil e abatida;

Tão forte, buscas minha fraqueza,

Tão grande, vens à minha baixeza

E tão afortunado, à minha aflição.

Anjo abençoado, sagrado guardião,

Teu fluido depurado se mistura

Ao meu invólucro mortal,

E sinto o vento de tuas asas

Passar-me sobre o ébrio coração.

Quem quer que sejas, graças, alma querida.

Obrigado, irmão meu do Além;

Criança, velho ou moça,

Que importa! Não estás aqui?

Às vezes planas sobre a minha cabeça,

Tu que, na corrida inquieta

Atravessaste algum cometa,

Ou terra em formação;

Moras na atmosfera,

Marte ou Saturno, a enorme esfera;

Desces da Ursa Polar,

De Aldebaran ou de Órion?

E que me importa onde resides!

E que me importa de onde vens!

Que céus incríveis e esplêndidos

Quando te sinto, valem os meus?

Salve, pois, ó minha doce estrela;

Guia minha vela incerta

No mar que a bruma vela,

Longe dos escolhos, longe do perigo.

Sê um farol na tormenta,

Erguendo sobre a vaga espumante,

A luz amiga e tremulante,

E vem buscar-me, após o exílio.



Jules-Stany Doinel. (d’Aurillac).

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