Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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Devemos à gentileza de um dos nossos correspondentes de Bordeaux a interessante passagem que se segue, extraída de uma obra intitulada Exposé de la grandeur de la création universelle[1], pelo Dr. Gelpke, publicada em Leipzig em 1817.

“...Se, pois, a construção de todos os mundos que brilham acima de nós pudesse ser submetida ao nosso exame, de que admiração não seríamos tomados, vendo a diversidade desses globos, cada um dos quais organizado de modo diverso do seu mais próximo vizinho na ordem da criação! E, como eu já disse, sendo incalculável o número dos mundos, sua construção também deve ser infinitamente diferente.

“Além disso, como da organização de cada mundo depende a dos seres que o habitam, estes devem, tanto interna quanto externamente, diferir essencialmente em cada globo. Agora, se considerarmos a multiplicidade e imensa variedade das criaturas em nossa Terra, onde uma simples folha não se assemelha a outra, e se admitirmos uma tão grande variedade de criaturas em cada mundo, quão prodigiosa nos parecerá a sua multidão no imensurável reino de Deus!

“Qual será, um dia, a plenitude de nossa felicidade, quando, sob envoltórios cada vez mais perfeitos, penetrarmos sucessivamente mais adiante nos mistérios da criação, e encontrarmos mundos sem fim, povoando um espaço sem fim! Então, quanto Deus não nos parecerá ainda mais adorável, ele que tirou tudo isso do nada; ele, cuja bondade sem limites não criou tudo isto senão para a satisfação dos seres vivos e cuja sabedoria ordenou isto tudo de maneira tão admirável!

“Mas nossa morada e nossa conformação atuais podem proporcionar-nos tal felicidade? Para isto não necessitamos de outra morada, que nos colocará mais à frente, no domínio da criação, e de um envoltório muito mais sutil e mais perfeito, que não entravará o nosso espírito em seu progresso para a perfeição, e por meio do qual ele poderá ver, sem auxílio, no todo universal, muito além do que podemos ver daqui com os nossos melhores instrumentos?

“Mas, por que o Criador não nos daria, após vários degraus de existência, um envoltório que, semelhante ao relâmpago, poderia elevar-se de mundos a mundos, permitindo-nos assim, ao mesmo tempo, olhar tudo mais de perto, e abarcar melhor o conjunto pelo pensamento? Quem ousaria disto duvidar, quando vemos a brilhante borboleta nascer da lagarta e a árvore ofuscante de flores provir de uma semente!? Se Deus assim desenvolve pouco a pouco a lagarta e no-la mostra esplendidamente transformada; se também desenvolve o germe por graus, quanto não nos fará progredir a nós, os homens, reis da Terra, e avançar na criação!”

Pluralidade dos mundos habitados, pluralidade das existências, perispírito, progresso sucessivo e indefinido da alma, tudo aí está.



[1] Exposição da grandeza da criação universal. Via de regra mantemos no texto o título original, quando a obra não tem tradução em português. N. do T.


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