Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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Temos a satisfação de assinalar o aparecimento de um novo órgão do Espiritismo em Palermo, na Sicília, publicado em italiano, sob o título de O Espiritismo, jornal de Psicologia Experimental.

A multiplicação de jornais especializados nesta matéria é um indício inequívoco do terreno que conquistam as ideias novas, a despeito, ou antes, em razão mesmo dos ataques de que são objeto. Essas ideias, que em poucos anos se implantaram em todas as partes do mundo, contam na Itália com numerosos e sérios representantes. É que, nessa pátria da inteligência, como em toda parte, quem quer que lhe sonde o alcance, compreende que elas encerram todos os elementos do progresso; que elas são a bandeira sob a qual abrigar-se-ão um dia todos os povos; que só elas resolvem os temíveis problemas do futuro, de maneira a satisfazer a razão.

Nosso concurso simpático é naturalmente extensivo a todas as publicações dessa natureza, próprios a secundar nossos esforços na grande e laboriosa tarefa que empreendemos.

A carta seguinte, que acompanhou esse jornal, anuncia, ao mesmo tempo, a constituição de uma Sociedade Espírita em Palermo, sob o título de Società Spiritista di Palermo.

“Senhor,

“Uma nova sociedade espírita acaba de ser constituída aqui em Palermo, sob a presidência do cavaleiro Sr. Joseph Vassallo Paleologo. Ela já tem o seu órgão de publicidade: O Espiritismo, ou Jornal de Psicologia Experimental, cujas duas primeiras edições acabam de surgir. Aceitai um exemplar que me permito vos oferecer, como aquele que tão bem mereceu da Humanidade pelo progresso das ideias morais sob o impulso providencial do Espiritismo.

“Aceitai, etc.

“PAOLO MORELLO
“Professor de História e de Filosofia na Universidade de Palermo.”


Cada número do jornal começa pela citação de alguns aforismos, em forma de epígrafe, tirados do Livro dos Espíritos ou do Livro dos médiuns, como, por exemplo:

“Se o Espiritismo é um erro, ele cairá por si mesmo; se for uma verdade, nem todas as diatribes do mundo poderão transformá-lo numa mentira.”

“É erro crer que a certas classes de incrédulos baste ver fenômenos extraordinários para se convencerem. Os que não admitem a alma ou o Espírito no homem não podem admiti-lo fora do homem. Eis por que, negando a causa, negam o efeito.”

“As reuniões frívolas têm grave inconveniente para os noviços que as assistem, pois lhes dão uma falsa ideia do Espiritismo.”

Acrescentamos: e que, sem ser frívolas, não são conduzidas com a ordem e a dignidade convenientes.

O primeiro número contém uma exposição de princípios, em forma de manifesto, do qual extraímos as seguintes passagens:

“Toda ciência repousa em dois pontos: os fatos e a teoria. Ora, conforme o que temos lido e visto, estamos em condições de afirmar que o Espiritismo possui os materiais e as qualidades de uma ciência, porque de um lado se afirma por fatos que lhe são peculiares e que resultam da observação e da experiência, absolutamente como qualquer outra ciência experimental, e por outro lado se afirma por sua teoria, deduzida logicamente da observação dos fatos.

“Considerado do ponto de vista dos fatos ou da teoria, o Espiritismo não saiu do cérebro humano, mas decorre da própria natureza das coisas. Dada a criação das inteligências, assim como a existência espiritual, aquilo que recebeu o nome de Espiritismo apresenta-se como uma necessidade, da qual, nas condições atuais da Ciência e da Humanidade, a gente pode ser testemunha antes que juiz, necessidade da qual resulta um fato complexo que demanda ser estudado seriamente, antes de poder ser julgado. Cada um é livre de não estudá-lo, se tal lhe agrada, mas isto não dá a ninguém o direito de escarnecer dos que o estudam.

“A sociedade fundadora deste jornal não pretende emitir nem uma crença, nem uma doutrina sua. Como, na sua convicção, nada pertence menos à invenção humana que o Espiritismo, ela se propõe expor a doutrina espírita, mas não a impôla. Aliás, ela se reserva inteira liberdade de exame e a mais completa independência de consciência na apreciação dos fatos, sem se deixar influenciar pela opinião de qualquer indivíduo ou de qualquer corporação que seja. É apenas pela sinceridade dos fatos que ela se torna responsável perante sua consciência, perante Deus e perante os homens.”

A comunicação seguinte, que traz como assinatura O Dante, extraída do segundo número, testemunha a natureza dos ensinos dados a essa sociedade.

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