CAPÍTULO VI
O CRISTO CONSOLADOR
O jugo leve. — Consolador prometido. — Instruções dos Espíritos: Advento do Espírito de Verdade.
O jugo leve.
1. Vinde
a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos
aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e
humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o
meu jugo e leve o meu fardo.
(S. Mateus, 11:28 a 30.)
2. Todos
os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perda de seres
amados, encontram consolação em a fé no futuro, em a confiança na
justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que,
ao contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida,
as aflições caem com todo o seu peso e nenhuma esperança lhe mitiga o
amargor. Foi isso que levou Jesus a dizer:
“Vinde a mim todos vós que estais fatigados, que eu vos aliviarei.”
Entretanto, faz depender de uma condição a sua assistência e a
felicidade que promete aos aflitos. Essa condição está na lei por ele
ensinada. Seu jugo é a observância dessa lei; mas, esse jugo é leve e a
lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade.
Consolador prometido.
3.
Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele
vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: —
O
Espírito de Verdade, que o mundo não
pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto
a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. — Porém,
o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome,
vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho
dito.
(S. João, 14:15 a 17 e 26.)
4. Jesus promete outro consolador: o Espírito de Verdade, que
o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o compreender,
consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para
relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade
tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não
dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que
este disse foi esquecido ou mal compreendido.
O Espiritismo vem,
na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o
Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da lei; ensina
todas as coisas fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas.
Advertiu o Cristo: “Ouçam os que têm ouvidos para ouvir.” O Espiritismo
vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem
alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos
mistérios. Vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados
da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a
todas as dores.
Disse o Cristo: “Bem-aventurados os aflitos,
pois que serão consolados.” Mas, como há de alguém sentir-se ditoso por
sofrer, se não sabe por que sofre? O Espiritismo mostra a causa dos
sofrimentos nas existências anteriores e na destinação da Terra, onde o
homem expia o seu passado. Mostra o objetivo dos sofrimentos,
apontando-os como crises salutares que produzem a cura e como meio de
depuração que garante a felicidade nas existências futuras. O homem
compreende que mereceu sofrer e acha justo o sofrimento. Sabe que este
lhe auxilia o adiantamento e o aceita sem murmurar, como o obreiro
aceita o trabalho que lhe assegurará o salário. O Espiritismo lhe dá fé
inabalável no futuro e a dúvida pungente não mais se lhe apossa da alma.
Dando-lhe a ver do alto as coisas, a importância das vicissitudes
terrenas some-se no vasto e esplêndido horizonte que ele o faz
descortinar, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a
paciência, a resignação e a coragem de ir até ao termo do caminho.
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador
prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem,
para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros
princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.
Instruções dos Espíritos.
Advento do Espírito de Verdade.
5. Venho, como outrora aos
transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas.
Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem
de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o
Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as
ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro, reuni em feixes o
bem esparso no seio da humanidade e disse: “Vinde a mim, todos vós que
sofreis.”
Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto
e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas
sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que,
ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a
carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se
faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já
não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! pois que a morte é a
ressurreição, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes
que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro.
Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligências,
não afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos
clarear o caminho e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso
Pai.
Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas
misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão
socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos
do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas;
não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.
Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o
segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem
humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que
julgáveis o nada, vozes vos clamam: “Irmãos! nada perece. Jesus Cristo é
o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade.”
O Espírito de Verdade.
Paris, 1860.
6. Venho instruir e consolar
os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao
nível de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim
das Oliveiras; mas que esperem, pois que também a eles os anjos
consoladores lhes virão enxugar as lágrimas.
Obreiros, traçai o
vosso sulco; recomeçai no dia seguinte o afanoso labor da véspera; o
trabalho das vossas mãos vos fornece aos corpos o pão terrestre; vossas
almas, porém, não estão esquecidas; e eu, o jardineiro divino, as
cultivo no silêncio dos vossos pensamentos. Quando soar a hora do
repouso, e a trama da vida se vos escapar das mãos e vossos olhos se
fecharem para a luz, sentireis que surge em vós e germina a minha
preciosa semente. Nada fica perdido no reino de nosso Pai e os vossos
suores e misérias formam o tesouro que vos tornará ricos nas
esferas superiores, onde a luz substitui as trevas e onde o mais desnudo
dentre todos vós será talvez o mais resplandecente.
Em verdade
vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são
bem-amados meus. Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das
revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provação humana. Assim como
o vento varre a poeira, que também o sopro dos Espíritos dissipe os
vossos despeitos contra os ricos do mundo, que são, não raro, muito
miseráveis, porquanto se acham sujeitos a provas mais perigosas do que
as vossas. Estou convosco e meu apóstolo vos instrui. Bebei na fonte
viva do amor e preparai-vos, cativos da vida, a lançar-vos um dia,
livres e alegres, no seio daquele que vos criou fracos para vos tornar
perfectíveis e que quer modeleis vós mesmos a vossa maleável argila, a
fim de serdes os artífices da vossa imortalidade.
O
Espírito de Verdade.
Paris, 1861.
7. Sou
o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de
curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos
prediletos. Venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, vós que sofreis e vos
achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados. Não busqueis alhures a
força e a consolação, pois que o mundo é impotente para dá-las. Deus
dirige um supremo apelo aos vossos corações, por meio do Espiritismo.
Escutai-o. Extirpados sejam de vossas almas doloridas a impiedade, a
mentira, o erro, a incredulidade. São monstros que sugam o vosso mais
puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais. Que no futuro,
humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua lei divina. Amai e
orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo de vossos
corações. Ele, então, vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos
instruir e dizer estas boas palavras: Eis-me aqui; venho até vós, porque
me chamastes.
O
Espírito de Verdade.
Bordéus, 1861.
8. Deus
consola os humildes e dá força aos aflitos que lha pedem. Seu poder
cobre a Terra e, por toda a parte, junto de cada lágrima colocou ele um
bálsamo que consola. A abnegação e o devotamento são uma prece contínua e
encerram um ensinamento profundo. A sabedoria humana reside nessas duas
palavras. Possam todos os Espíritos sofredores compreender essa
verdade, em vez de clamarem contra suas dores, contra os sofrimentos
morais que neste mundo vos cabem em partilha. Tomai, pois, por divisa
estas duas palavras:
devotamento e abnegação, e
sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a
humildade vos impõem. O sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao
espírito e resignação. O coração bate então melhor, a alma se asserena e
o corpo se forra aos desfalecimentos, por isso que o corpo tanto mais sofre quanto mais profundamente o espírito é atingido.
O Espírito de Verdade.
Havre, 1863.