Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1859

Allan Kardec

Voltar ao Menu
Michel François

O ferrador Michel François, que vivia no fim do século XVII, dirigiu-se ao intendente de Provence e lhe anunciou que um espectro lhe aparecera e ordenara que fosse revelar ao Rei Luís XIV certas coisas consideradas as mais importantes e as mais secretas.

Mandaram-no para a corte no mês de abril de 1697. Dizem uns que ele falou ao rei; outros, que o rei se recusou a vê-lo.

O que é certo, acrescenta-se, é que em lugar de o mandarem para a prisão, deram-lhe dinheiro para a viagem, isenção de talha e de outros impostos reais.

1. (Evocação).
─ Aqui estou.

2. ─ Como soube que lhe desejamos falar?
─ Como fazeis esta pergunta? Não sabeis que estais rodeados de Espíritos, que avisam àqueles com quem desejais falar?

3. ─ Onde estava quando nós o chamamos?
─ No espaço, pois ainda estou errante.

4. ─ Está surpreendido de encontrar-se entre pessoas vivas?
─ Absolutamente. Encontro-me muitas vezes entre pessoas vivas.

5. ─ Lembra-se da sua existência em 1697, ao tempo de Luís XIV, quando era ferrador?
─ Muito confusamente...

6. ─ Lembra-se da revelação que queria fazer ao rei?
─ Lembro-me que tinha uma revelação a fazer-lhe.

7. ─ E fez essa revelação?
─ Sim.

8. ─ Disse-lhe que um espectro lhe havia aparecido e ordenado que fosse revelar certas coisas ao rei. Quem era o espectro?
─ Era o seu irmão.

9. ─ Quer dizer o nome?
─ Não. Vós me compreendeis.

10. ─ Era ele o homem designado pelo apelido de Máscara de Ferro?
─ Sim.

11. ─ Agora que já estamos muito distanciados daqueles tempos, poderia dizernos qual era o objetivo daquela revelação?
─ Era exatamente de informá-lo da sua morte.

12. ─ Da morte de quem? Do irmão dele?
─ É claro.

13. ─ Que impressão causou ao rei a sua revelação?
─ Um misto de tristeza e de satisfação. Aliás, isto ficou provado pela maneira como que ele me tratou.

14. ─ Como o tratou ele?
─ Com bondade e afabilidade.

15. ─ Dizem que uma coisa semelhante aconteceu a Luís XVIII. Sabe se isto é verdade?
─ Creio que houve qualquer coisa parecida, mas não estou bem informado.

16. ─ Por que aquele Espírito o escolheu para tal missão, sendo você um homem obscuro, em vez de escolher um personagem da corte, que poderia acercarse do rei mais facilmente?
─ Eu fui encontrado em seu caminho, dotado da faculdade que ele queria encontrar e que era necessária, e ainda porque um personagem da corte não seria capaz de fazer com que aceitassem a revelação. Teriam pensado que tivesse sido
informado por outros meios.

17. ─ Qual era o fim dessa revelação desde que o rei estaria necessariamente informado da morte de seu irmão, antes de sabê-la por seu intermédio?
─ Era para fazê-lo refletir sobre a vida futura e sobre a sorte a que se expunha e realmente se expôs. Seu fim foi manchado por ações com as quais supunha garantir um futuro que aquela revelação poderia tornar melhor.

TEXTOS RELACIONADOS

Mostrar itens relacionados

Utilizamos cookies para melhorar sua experiência. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.