Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1859

Allan Kardec

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O general Hoche

1. (Evocação)
─ Estou convosco.

2. ─ A Sra. J... nos disse que vos tínheis comunicado espontaneamente com ela. Com que intenção o fizestes, uma vez que ela não vos havia chamado?
─ Ela é que me traz até aqui. Eu desejava ser chamado por vós e sabia que indo à casa dela seríeis informados e provavelmente me evocaríeis.

3. ─ Dissestes a ela que estáveis acompanhando as operações militares na Itália. Isto é natural. Poderíeis dizer-nos o que pensais a respeito?
─ Elas produziram grandes resultados. Em meu tempo a gente se batia mais longamente.

4. ─ Assistindo a essa guerra, tendes um papel ativo?
─ Não, simples espectador.

5. ─ Outros generais do vosso tempo lá estiveram convosco?
─ Sim, bem o podeis supor.

6. ─ Poderíeis apontar alguns?
─ Seria inútil.

7. ─ Dizem-nos que Napoleão I estava presente, o que não é difícil de acreditar. Quando das primeiras guerras da Itália, ele era simples general. Poderíeis dizer-nos se nessa guerra ele via as coisas do ponto de vista do general ou do imperador?
─ De ambos, além de um terceiro: do diplomata.

8. ─ Quando vivo, vosso posto era quase igual ao dele. Como depois da vossa morte ele subiu muito, poderíeis dizer-nos se, como Espírito, o considerais como vosso superior?
─ Aqui reina a igualdade. O que quereis saber com isso?

OBSERVAÇÃO: Sem dúvida ele entende como igualdade que os Espíritos não levam em conta as distinções terrenas, com as quais de fato pouco se preocupam e que nada vale entre eles, mas a igualdade moral está longe de existir ali. Há entre eles uma hierarquia e uma subordinação, baseadas nas qualidades adquiridas, e ninguém pode subtrair-se ao ascendente daqueles que são mais elevados e mais puros.

9. ─ Acompanhando as peripécias da guerra, prevíeis a paz tão próxima?
─ Sim.

10. ─ Isto era para vós simples previsão ou tínheis um conhecimento prévio e
certo?
─ Não; me haviam dito.

11. ─ Sois sensível à lembrança que de vós guardamos?
─ Sim, mas eu fiz tão pouco.

12. ─ Vossa viúva acaba de morrer. Vós a encontrastes imediatamente?
─ Eu a esperava. Hoje vou deixá-la. A existência me chama.

13. ─ É na Terra que deveis ter uma nova existência?
─ Não.

14. ─ O mundo para onde devereis ir nos é conhecido?
─ Sim. Mercúrio.

15. ─ Esse mundo é moralmente superior ou inferior à Terra?
─ Inferior. Eu o elevarei. Contribuirei para fazê-lo classificar-se melhor.

16. ─ Já conheceis esse mundo para onde deveis ir?
─ Sim, muito bem. Talvez melhor do que o conhecerei quando habitá-lo.

OBSERVAÇÃO: Esta resposta é perfeitamente lógica. Como Espírito, ele vê o mundo na sua plenitude. Como encarnado, vê-lo-á do ponto de vista restrito da sua personalidade e da posição social que ocupar.

17. ─ Do ponto de vista físico, os habitantes desse mundo são tão materiais quanto os da Terra?
─ Sim, completamente. E mais ainda.

18. ─ Fostes vós que escolhestes esse mundo para vossa nova existência?
─ Não, não. Eu teria preferido uma terra calma e feliz. Lá encontrarei torrentes de mal a combater e os furores do crime a punir.

OBSERVAÇÃO: Quando nossos missionários cristãos vão aos povos bárbaros para tentar fazer que neles penetrem os germes da civilização, não desempenham uma função análoga? Por que então nos admirarmos de que um Espírito elevado vá a um mundo atrasado, com o fito de fazê-lo progredir?


19. ─ Essa existência vos é imposta por constrangimento?
─ Não. Foi-me aconselhada. Fizeram-me compreender que o destino, a Providência, se assim quiserdes, ali me chamava. É como a morte antes de subir ao Céu. É preciso sofrer e, infelizmente, eu não sofri o bastante.

20. ─ Sois feliz como Espírito?
─ Sim, sem dificuldades.

21. ─ Quais foram as vossas ocupações como Espírito, desde o momento em que deixastes a Terra?
─ Visitei o mundo, a Terra inteira. Isto exigiu um período de alguns anos. Aprendi as leis que Deus emprega para conduzir todos os fenômenos que contribuem para a vida terrena. Depois, fiz o mesmo em diversas outras esferas.

22. ─ Nós vos agradecemos por terdes de bom grado atendido ao nosso apelo.
─ Adeus. Não me vereis mais.

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